Europa

A UE-27 controla com apenas 7,3% da populaçom mundial (500 milhons de habitantes) 25,8% do produto mundial (12 bilhons de euros). As ponderaçons dos E.U.A. som respectivamente 4,5% e 22,9%. Entre ambos os dous continentes políticos, o melting pot americano e o pictoresco mosaico europeu, controlam 49% do produto económico mundial com menos de 12% da populaçom humana. Um privilégio exorbitante e umha responsabilidade ética e política que nom podemos eludir. O peso demográfico e económico das duas Unions que une o Atlántico declinará inexoravelmente no futuro próximo ao tempo que se acentuarám os problemas de distribuiçom de recursos físicos, de deterioro ambiental e de pressom migratória dos condenados da terra.

Espanha é, em definitiva, um sócio mediano que há de aprender a fazer-se valer. Galiza nom alcança 6% da populaçom espanhola (5,9%) nem do produto interior bruto do Estado (5,4%)

Espanha, com apenas 9,2% à populaçom da UE-27, contribui com 8,5% ao PIB da mesma. Espanha é, em definitiva, um sócio mediano que há de aprender a fazer-se valer. Galiza nom alcança 6% da populaçom espanhola (5,9%) nem do produto interior bruto do Estado (5,4%). Escusado lembrar que som Catalunha e Andaluzia as comunidades que contam com peso real no Estado espanhol. O tamanho regula a capacidade para suscitar problemas e decidir soluçons pola simples razom de que a lógica do voto e a do dinheiro som os instrumentos que regulam as sociedades modernas. Estas simples constataçons estatísticas (dados de 2010) podem servir de primeiro valado ante qualquer fantasia narcisista.

A Uniom Europeia é a nossa ágora política certa e inevitável. A única tribuna onde podemos demandar soluçons para a mudança climática e o esgotamento de recursos

A Uniom Europeia é a nossa ágora política certa e inevitável. A única tribuna onde podemos demandar soluçons para a mudança climática e o esgotamento de recursos, para a regulaçom comercial e cambiária num mundo globalizado ou a gestom dos fluxos migratórios, para a defesa e segurança própria ou global e para a cooperaçom contra a fame, a doença e a miséria endêmicas. A releváncia política de Compostela e Madrid perante estas questons decisivas é tam exígua como descomunais as batalhas aqui encenadas para dirimir modestas questons domésticas, mais prementes do que importantes.

Estoutro dia iniciava o BNG em Ponte Vedra a carreira às eleiçons europeias com umha solemne proclamaçom do presidente da Fundaçom Galicia Sempre: “A Uniom Europeia nom é a soluçom é o problema”. Umha afirmaçom perfeitamente vazia enquanto nom nos informe o presidente onde poderíamos procurar a soluçom: Na autarquia? Em tratados bilaterais com países emergentes a assinar por Espanha ou talvez por Galiza? O automatismo retórico produz este tipo de despropósitos cuja irrealidade se acentua quando a retórica se nutre com a enferrujada ladainha de demarcadores por excluson: anti-europeísmo, anti-colonialismo, anti-imperialismo. Arcaicas categorias de notória esterilidade instrumental para interpretar o mundo que habitamos. Onde poderíamos colocar hoje à República Popular da China, por exemplo, em tal quadro de categorias? Finalmente, foi o porta-voz nacional do BNG o que reconduziu o discurso à realidade mediante umha formulaçom sensata e convidativa: “Necessitamos mais Galiza noutro modelo de Europa”. Concordamos, esse é outro falar; a extinta Esquerda Galega sintetizava o mesmo princípio com um lema que seria bom nom esquecer: Galiza naçom europeia.

A extinta Esquerda Galega sintetizava o mesmo princípio com um lema que seria bom nom esquecer: Galiza naçom europeia

O projecto europeu está actualmente sequestrado polo ordo-liberalismo germánico e a onerosa tutela senhorial dos credores noreuropeus sobre os seus sócios comunitários marginais, menos previsores e pior governados e fraternalmente qualificados de PIIGS. Humor do senhorio. Por estas latitudes percebemos a cousa em forma diferente. Abominamos a Europa contabilística e bancarizada comandada polo Bundesbank e negamos o menor respeito ao nosso autêntico Ministro de Finanças, o senhor Wolfgang Schäuble, que dicta ordens imperativas aos países devedores. Tampouco podemos admitir a exorbitante pretensom do Bundestag de actuar de cámara de segunda leitura da soberania parlamentar do resto dos países europeus. Ser rico nom dá direito a todo, ou nom deveria dá-lo. Falta-nos a França, o republicanismo cívico, e falta-nos, sobretodo, um projecto construtivo desenhado com a mao esquerda e formulado com o máximo realismo. Umha autêntica utopia necessária.

“Não é ao pequeno Portugal que podemos pedir que quebre a espinha às grandes farmacêuticas para poder fazer frente ao preço real da investigação e da produção dos medicamentos, que pode ser cem vezes menor do que o preço extorsionário que elas agora cobram aos Estados. Uma vez que esta opção é inacessível, (...) resta ao governo de Portugal reprimir onde pode, quebrando a espinha aos sindicatos de enfermeiros para fazer um novo corte por uma poupança comparativamente irrisória” Castigar os súbditos já que nom podemos abrandar os poderosos, é um imperativo político que aqui conhecemos bem. O argumento antes citado procede de um jovem euro deputado independente, Rui Tavares (1972), eleito nas listas do Bloco de Esquerdas, cronista do diário Público, e actualmente empenhado em lançar um novo partido europeísta de esquerda em Portugal de marca um chisco pós-moderna e incolor: Livre.

A conjugaçom de indignaçom social e perspectiva europeísta, construtiva e transformadora inspira ao BE, como também a Die Linke (terceiro partido na Alemanha nas eleiçons federais de 2013) ou à helênica Syriza. Anunciam outra Europa

Persoalmente tenho simpatia política polo Bloco de Esquerdas e o seu líder de referência Francisco Louçã, europeísta convicto também. Embora enleado agora em desencontros e abandonos, o Bloco português segue sendo umha força combativa e inovadora na qual eu nom vacilaria em depositar a confiança para me sentir representado em Europa. A conjugaçom de indignaçom social e perspectiva europeísta, construtiva e transformadora inspira ao BE, como também a Die Linke (terceiro partido na Alemanha nas eleiçons federais de 2013) ou à helênica Syriza. Anunciam outra Europa. Polo contrário, quem pode depositar a confiança em forças aspirantes a ocupar escano europeu incapazes de ocultarem umha irrefreável vocaçom de gestor administrativo e umha manifesta tendência a confundir o Parlamento Europeu com um negociado de assuntos próprios? O déficit político apontado é similar ao exercitado por essa estirpe de estrategos de cafeteria que confundem a complexidade das tarefas de governaçom com a conduçom de umha modesta economia doméstica: “isso arranjava-o eu num momento”. A incapacidade para discernir os diferentes níveis de complexidade que regem a jerarquia dos problemas é umha ameaça potenciada com a práctica habitual de atribuir a funçom representativa sob critérios de lealdade e coesom grupal: umha extorsom da representaçom cívica polo corporativismo cru.

A incapacidade para discernir os diferentes níveis de complexidade que regem a jerarquia dos problemas é umha ameaça potenciada com a práctica habitual de atribuir a funçom representativa sob critérios de lealdade e coesom grupal

Disciplinar os mercados financeiros, controlar as multinacionais, taxar os movimentos de capitais, homologar os sistemas fiscais para evitar a deslocalizaçom de lucros e impostos, dotar de poderes ao BCE para construir um sistema financeiro e bancário europeu, ampliar a representaçom directa e fortalecer a sua governaçom tenhem muitos inimigos: hirsutos patriotas, cautelosos banqueiros, saudosos adeptos a relatos históricos fundadores, profissionais da política com data de caducidade quadrienal. O nosso reino, porém, é deste mundo, temos presa, nom podemos tolerar a adulteraçom do melhor constructo político do velho continente desde que Kant especulasse sobre os fundamentos da paz perpétua nem podemos resignar-nos a experimentar pacientemente com torpes aprendizes de europeísmo.

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