Falam de avaliaçom, mas querem dizer exame

As pessoas que atualmente dirigem os assuntos educativos usam umha linguagem que bem poderia ser qualificada de “litúrgica”. Na contrarreforma mais recente, ao tempo que constatamos umha decidida volta ao passado mais obscuro, observamos porém que os seus autores continuam a usar muitas palavras que referem conceitos introduzidos polos renovadores progressistas dos sistemas educativos europeus do século XX: currículo, avaliaçom formativa, atençom à diversidade, … Estes termos pertencem a umha forma muito diferente de entender o ensino mas os atuais legisladores mantêm boa parte deles sem acreditar no seu significado. Assim é que realizam a cerimónia de falar de avaliaçom formativa mas só pensam nos tradicionais exames escritos. Falam pomposamente de currículo e na prática tudo fica reduzido a publicar o “temário” dumha “disciplina” que os estudantes deverám “saber”. Chegam ao cinismo de usar o conceito de atençom à diversidade à mesma vez que o prostituem desenhando um implacável mecanismo que pretende selecionar o alunado mediante etiquetas e segregaçons já desde a educaçom primária. E assim por diante...

Sem dúvida esta liturgia cumpre umha funçom social de primeira ordem ocultando as suas verdadeiras intençons: aparentemente nom se realizam grandes câmbios na estrutura do sistema e a imensa maioria da populaçom apenas percebe; mas a introduçom estratégica de elementos cruciais como as “reválidas”, o “4º de secundária segregado em duas vias” ou a prematura expulsom de muitos estudantes para a “f.p. básica” haverám de mudar radicalmente a dinâmica académica e os seus resultados, transformando de facto o sistema. Eis a fórmula que melhor convêm aos partidários deste tradicionalismo educativo: já que nom possuem os fundamentos pedagógicos necessários e carecem da terminologia adequada decidem usurpar a fachada dum sistema educativo de estilo europeu e reconstruir o seu interior com usos tradicionais baseados em promover a homogeneidade, transmitir disciplinas e selecionar o alunado.

A seguir proponho pôr a nossa atençom no seguinte enunciado dumha norma educativa: “a avaliaçom do processo de aprendizagem do alunado será contínua, formativa e integradora”. Para quem nom tiver familiaridade com a terminologia pedagógica cumpre lembrar que esta tripla conceitualizaçom significa que a avaliaçom está inserida no processo de ensino e aprendizagem e nom acontece só em determinados momentos, que a sua finalidade é melhorar todos os aspetos e pessoas que intervêm no processo assim como os seus resultados e que os diversos conteúdos das matérias devem considerar-se de forma integrada ao serviço da formaçom do alunado. Agora a pergunta: somos quem de situar na época certa esta norma educativa?

Arrepia comprovar que esse enunciado se mantém praticamente inalterado desde a sua formulaçom no contexto da renovaçom educativa dos anos noventa, apesar das contrarreformas e mudanças realizadas depois e até hoje; de facto as palavras arriba reproduzidas procedem literalmente do “anteprojeto de decreto que regula a ESO e o Bacharelato” deste ano 2015 [!]. Mas o melhor vem a seguir porque, ao ditado da “lomce”, esse mesmo documento pontifica que “ao rematar o 4º curso da secundária o alunado realizará umha avaliaçom individualizada … cuja superaçom (imprescindível para obter o título) requererá umha qualificaçom igual ou superior a 5 pontos sobre 10” [!!] ; idêntica redaçom aparece para o bacharelato, e a mesma para a educaçom primária num documento anterior.

Assim constatamos que os alquimistas desta contrarreforma têm decidido sem reparo algum dar o nome de “avaliaçom individualizada” a umha prova externa com status de “reválida” que consiste em … umha maratona de exames [!!!]. Mesmo já estám a regular esses exames mediante um projeto de decreto que contempla para secundária e bacharelato um mínimo de 350 perguntas com formato de eleiçom múltipla … E assim também comprovamos que estám decididos a deixar constância disso em todos os documentos e diários oficiais que possuem, à mesma vez que sem rubor continuam com a cerimónia de escrever que “a avaliaçom será contínua, formativa e integradora”. Definitivamente ... pura liturgia; e ademais … muito cinismo.

Grazas ás socias e socios editamos un xornal plural

As socias e socios de Praza.gal son esenciais para editarmos cada día un xornal plural. Dende moi pouco a túa achega económica pode axudarnos a soster e ampliar a nosa redacción e, así, a contarmos máis, mellor e sen cancelas.