No reino de Dinamarca

Há poucos dias escrevia eu neste jornal que @s escritor@s calavam. Calavam na altura e continuam a calar, na maioria dos casos, perante acontecimentos de flagrante injustiça no terreno da cultura, espaço que el@s alimentam e polo que, antes do que por outro, devem é luitar. A língua do país é repudiada nos programas escolares, o livro é abandonado na trovoada da crise sectorial, a AELG recebe apenas esmolas enquanto é acossada pola burocracia caprichosa e o olho permanentemente ameaçador da administração; ao tempo, os “chiringuitos” ou feudos dos amigos dos gobernantes florescem nesta procela sem dar contas a ninguém, há quem diz mesmo que sem seguir os procedimentos básicos de organização, sem dar contas periodicamente aos membros e sem cumprir com os requisitos mínimos a que obrigam por norma os apoios das administrações (cfr. n este mesm o jornal: "Política Lingüística promociona un concurso de relatos no que só se pode participar en castelán"). É dizer, que muit@s escritor@s continuam a calar enquanto a justiça social, a democracia e o compromisso com o país anelado durante a ditadura e pretensamente sementado nos seguintes quarenta anos se esfarela nas nossas mãos.

Por isso é preciso dizer que algo há de podre neste reino de Dinamarca. E não vou acusar, como também não figem antes, organizações a que nem pertenço e, caso continuem com práticas antidemocráticas e se calhar ilegais, a que não desejo pertencer. Mas o que admira é esta passividade generalizada e tamanha, a conivência com práticas autoritárias e personalistas que não há tanto chamaríamos de caciquistas. E traz-me à memória esta perene palavra as motivações do poeta Manuel António à hora do seu abandono da Irmandade Nacionalista da Corunha (com todos os méritos que desta e doutras Irmandades este ano deveríamos relembrar): eram burgueses de mais para ele porque impediam o progresso social que só podia vir da “eliminação do mandinho”, essa figura do senhor que devia ser já obsoleta, aquele que atua como sendo proprietári o dos rec ursos públicos e a quem alguns prestam homenagem e se subjugam para a concessão de dádivas e privilégios.

Não se trata, também não, de acusar pessoas com nomes e apelidos de se terem comportado indignamente, nem de acusar umas de terem voltado os olhos quando isto acontecia perto de si, nem outras de terem amparado com seu meritório trabalho e sua vontade de concórdia práticas aberrantes que contribuem a destruir o humilde tecido cultural que durante lustros sem conta os corações mais generosos e inspirados do país fôrom erguendo. Trata-se de refletirmos e apoiarmos com urgência aquilo que a Terra precisa, é dizer, a democracia, a transparência e amor polo que é comum a todos @s galeg@s, para além dos gostos ou preferências de cada um.

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