Consórcio, confederaçom de vontades políticas, UTE em definitivo. Uniom Temporal de Empresas, ou de Esforços ou de Esperanças. O segmento mais activo e informado da sociedade galega, esse que acaba arrastando o resto, demanda hoje a representaçom colectiva da Galiza no Parlamento Espanhol. Sabemos bem que os deputados galegos do PP e do PSOE porfiam que esse mester está sobejamente coberto por eles mesmos mas bem sabemos a quem representam decerto os deputados do binómio hegemónico da política espanhola. A representaçom do BNG em Madrid arrasta insuficiências em cuja análise nom é agora oportuno entrar mas si é sublinhar o esgotamento político que experimenta o projecto, o que é mais alarmante, a eventualidade de esta formaçom nom alcançar desta vez representaçom parlamentar em Madrid. O momento político tem toda a aparência de final de ciclo acompanhada de umha crise de legitimaçom social do duopólio político que ostentou o poder desde o começo da transiçom, e também de um final de partida do nacionalismo resistencialista. Falamos de UTE, nom de OPA hostil (oferta pública de adquisiçom) como a que Podemos pretende formular contra IU.
Assi e todo, vivemos um momento esperançador. O reparto de cargos e privilégios, pura rapina em alguns casos, e a grandiloquência que disfarça meras política de despensa toca o seu fim depois de provocar umha insurreiçom da consciência social contra a situaçom e a exigência de mudanças profundas no exercício da política. Há quem fala mesmo de momento constituinte.
No entanto, as forças emergentes na Galiza Santiago, Crunha, Ferrol – transmitem umha clara vontade nacionalitária e transformadora, a começar polo uso normal e descontraído do idioma dos galegos tam menosprezado polos prebostes do duopólio instalado. Comparem os alcaides das cidades rebeldes com os senhores Caballero, nado em Ponteareas, ou Negreira, nado em Rio de Janeiro. O bastom de mando parecia levar incorporado o uso provocativo do idioma do poder.
Podemos, convertido em potente reactivo para precipitar as incrustaçons que obstruíam os entupidos canos da política espanhola, reconhece agora em forma explicita a singularidade do espaço político galego: “o ecosistema político galego tem as suas peculiaridades e será a direcçom galega de Podemos quem defina as fórmulas", declarou Pablo Iglesias. Mais ainda, depois de sondar a situaçom política sobrevinda na Galiza, Catalunha e Valência, a direcçom de Podemos reconhece a vigência do carácter plurinacional do Estado e compromete-se a obrar em consequência. Convém tomar-lhe a palavra.
A vocaçom nacionalitária emergente na Galiza é um elemento da maior importância política. Para além das ressessas práticas de autismo municipalista que asfixiárom municípios como Crunha e Vigo em tempos recentes, a perspectiva galega toma a alternativa. O estéril exercício de contemplar o próprio embigo cede ante a política do encontro e a cooperaçom. Seria óptimo que o nacionalismo existente, que foi capaz de manter içada a bandeira do compromisso com o projecto nacional galego, o BNG, fosse capaz de reconhecer o novo tempero do cenário político e a obsolescência do discurso resistencialista procedente dos anos sessenta. “Busca tu complementario que marcha siempre contigo y suele ser tu contrario”, avisava o Machado mais dialéctico.
Para compor o cesto das aspiraçons galegas nom faltam vímbios, escasseiam os cesteiros. Queremos crer que ainda podem aparecer vista a urgência de pôr fim definitivo à política do impropério estéril imperante no Hórreo e da irreleváncia que irradia o hemiciclo de Sam Jerónimo.
É preciso conjurar o duplo perigo da esterilidade do resistencialismo acomodatício e do inocente assemblearismo que todo cifra na voz da rua. As ruas nom falam e quando o fam é por boca de ventríloquo, como todos sabemos. O grande acordo que precisamos há-de ser público e explícito, deve somar siglas novas com velhas, aparatos em mutaçom com tribunos da plebe em procura de organizaçom. Apreendam de Podemos. A onda cidadá da mudança virá como consequência.
- A primeira tarefa dos conjurados na causa unitária, nacional e regeneracionista é redigir um programa eleitoral claro e preciso arredor de três eixos fulcrais a) a afirmaçom nacional da Galiza e a sua defesa activa no quadro das transformaçons institucionais que se anunciam. b) a promoçom de um painel de políticas de coesom social com todas as forças progressistas presentes no hemiciclo c) a defesa activa dos interesses económicos da Galiza, quer no ámbito tributário quer no produtivo. Finalmente, como chave de abóbada, a vindicaçom da soberania lingüística e cultural da Galiza e consequente abertura a umha cooperaçom reforçada com Portugal. Um programa popular e participativo para remover pejas seculares e esse estado de subalternidade regionalista praticada polo PP, o PSOE e os turiferários do statu quo.
- A segunda tarefa é assaz delicada: confeccionar umha lista unitária e integradora capaz de reconhecer o peso social dos actores políticos concorrentes na tarefa comum.
Como sabemos, o artigo 23 da Constituiçom estabelece que poderám formar grupo parlamentar os colectivos de nom menos de cinco deputados que tenham alcançado 15% dos votos como mínimo na sua circunscriçom. Um exigente desafio a encarar com inteligência mediante umha minuciosa avaliaçom dos resultados eleitorais recentes, província por província, e da qualidade e ordem de prelaçom dos aspirantes a protagonizar a candidatura comum.
Nom é tarefa para neófitos nem para patriotas de partido. Precisam-se políticos com vocaçom nacional. A excelência no encabeçado das listas é um assunto decisivo. Os primeiros postos ham-de acreditar competência técnica, capacidade dialéctica e espírito cooperativo. De nada servem aqui lealdades de grupo; a tarefa que nos convoca demanda excelência e espírito cooperativo.
Importa o simbolismo, o símbolo é o estandarte de toda convocatória social. Precisamos de umha denominaçom inclusiva. “Galiza por diante, Candidatura Unitária” poderia ser um bom lema. Ajudaria também, para acentuar o carácter unitário da candidatura, a promoçom de umha ou mais figuras simbólicas de cabeceira, capazes de personalizar o carácter transversal e cívico da candidatura. Alguém parecido a Carlos Varela García, ex Fiscal Superior de Galiza, por exemplo. Outras personalidades, com ou sem conotaçom partidária poderiam reforçar os postos finais das candidaturas provinciais.
O calendário nom admite demoras e atitudes desdenhosas com o competidor para satisfazer a freguesia mais fiel só provam imatureza e incompetência. O tempo demanda cumplicidades e mao tendida. Um exemplo recente de más práticas foi a presuntuosa desqualificaçom de Alberto Garzón e o partido que representa por parte de Pablo Iglesias. Outro mais lamentável porque nos afecta directamente é a irreflexiva pressa que se deu o novo alcaide de Santiago de formar governo antes de negociar a sério com um BNG que tinha apoiado incondicionalmente o novo governo. Velhos modos do poder pouco compatíveis com a política que os tempos demandam. Martinho Noriega perdeu umha oportunidade de exercer de político nacional. Manca finezza, sobra traço tosco. Esperávamos mais.
O BNG tem agora a ocasiom para erigir-se em fiel da balança nacional nesta hora que reclama políticos e abomina de tratantes. Na próxima comemoraçom do 25 de Julho, a participaçom deveria ser plural e transversal, tanto em faixas como em alocuçons. Poderia ser um autêntico acto de abertura da convocatória unitária que a sociedade espera. A proclamaçom pública da vontade de levar Galiza ao Parlamento de Madrid. Haverá coragem para tanto? Nom queremos crer que se esterilize esta segunda oportunidade por incapacidade para interpretar o momento político que atravessa o país. Construir umha plataforma nacional inclusiva da qual emane umha candidatura parlamentar plural e coesa é nestes momentos umha prioridade nacional. Um eventual fracasso seria interpretado como derrota colectiva e prova evidente de que a velha política se resiste a morrer. Galiza por diante é a tarefa que hoje convoca a todas as forças dispostas a escuitar o clamor silencioso da cidadania.