O professorado da matéria de galego e a língua portuguesa

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Acostuma ser um lugar comum dizermos que o galego e o português são variantes da mesma língua, ainda que também, e para mim com razões de menor entidade, há pessoas galegas, isolacionistas puras, que dizem que são duas línguas diferentes. Entre as primeiras está o grupo maioritário formado pelos, chamemos-lhes assim, reintegracionistas não praticantes, potencialmente reintegracionistas, mas que ao alegarem distintos motivos, geralmente que é necessária na Galiza a normalização da língua antes da implantação de uma norma mais internacional, ou pela simples comodidade de não mudarem, caem na contradição de não se corresponder a sua cacarejada teoria da unidade linguística galego-portuguesa com a sua prática diária. E assim passam os anos e essa normalização plena cada vez parece menos possível. Infelizmente vão diminuindo o número de falantes, entretanto se continua com uma norma masoquista, artificiosa e que não satisfaz, com uma visão da língua reduzida, ilhada e pouco útil, ficando todos instalados num labirinto sem aparente saída. 

Tanto os reintegracionistas como os isolacionistas entendo que vemos como algo positivo que os escolares galegos tenham conhecimentos de português e que para isso o português esteja em todas as nossas escolas e liceus, desde o primeiro de primário até o segundo de bacharelato

Não obstante, e por uma vez, não debatamos acerca da questão de se o galego e o português são ou não a mesma língua, do reintegracionismo em qualquer dos seus graus nem do isolacionismo. Procuremos um âmbito amplo e de concórdia que acolha os distintos grupos, amiúde enfrentados, e que em conjunto nos permita superar o embaraço atual e nos faça avançar.

Termos um bom ensino nas escolas de primário e nos institutos ou liceus de secundário da Galiza é algo que a todos e a todas nos deveria preocupar. E, como parte dele, o das línguas em geral, e especialmente o daquelas que podem ser mais próximas e úteis para as futuras gerações. Por outra banda, é sempre oportuno sabermos aproveitar racionalmente os meios que já nos oferece o sistema educativo do que dispomos. Em tudo isso penso que estaremos de acordo.

Outra coincidência que podemos manter os dois grupos principais é a da proximidade entre o galego e o português e a da vantagem que representa o conhecimento deste último no mundo contemporâneo, com todos os seus países e o seu monte de falantes. Tanto os reintegracionistas como os isolacionistas entendo que vemos como algo positivo que os escolares galegos tenham conhecimentos de português e que para isso o português esteja em todas as nossas escolas e liceus, desde o primeiro de primário até o segundo de bacharelato. Até este momento não conheci o caso de que houvesse isolacionistas que se manifestassem em contra disso.

A introdução da matéria está a decorrer muito devagar, não abrange todo o alunado dos centros e não chega a todas as partes do país. Não cessa de haver alunos que querem ter português, mas estão em centros escolares onde não existe a matéria ou há claustros que não a querem ou não a podem estabelecer

Por meio da Lei Paz Andrade foi-se introduzindo timidamente nos últimos anos a matéria do português no ensino secundário público, porém, não no primário, como sucede com outras línguas, nem nos dois níveis do privado. São só por volta de uns setenta os liceus galegos que têm algumas aulas de português. Um número muito reduzido de alunos, também porque são poucas as aulas em cada um deles com português e porque assistem a elas só os voluntários que o fazem. A introdução da matéria está a decorrer muito devagar, não abrange todo o alunado dos centros e não chega a todas as partes do país. Não cessa de haver alunos que querem ter português, mas estão em centros escolares onde não existe a matéria ou há claustros que não a querem ou não a podem estabelecer. Além disso, existem escolares que querem ir também a francês ou não há suficiente alunado de português para formar grupo. 

Não parece que aconteça isso mesmo na Comunidade Autónoma da Extremadura, que assemelha mais implicada que a galega no seu ensino, apesar das nossas estreitas relações étnicas, culturais e históricas com Portugal. Lá as razões de aforro económico, se é que determinan o daqui, contam menos. E isso que várias vezes o presidente Feijó discursou acerca da lusofonia, do boas que seriam as relações de todo tipo com os países lusófonos e da súa pretensa vontade de aproximação à CPLP.

Por que não introduzir de jeito oficial e obrigatório a todos os níveis e desde o ensino primário na matéria de galego algumas unidades didácticas de língua portuguesa e de literatura e cultura lusófona, tentando conseguir que todo os escolares galegos tenham um nível básico de português que lhes permita lê-lo, entendê-lo oralmente e escrevê-lo?

A matéria de galego na Galiza é obrigatória em todos os níveis escolares e toca-lhe um considerável peso nos horários. Por que não introduzir de jeito oficial e obrigatório a todos os níveis e desde o ensino primário na matéria de galego algumas unidades didácticas de língua portuguesa e de literatura e cultura lusófona, tentando conseguir que todo os escolares galegos tenham um nível básico de português que lhes permita lê-lo, entendê-lo oralmente e escrevê-lo? A percentagem que ocupariam essas progressivas unidades de português dentro do currículo e do horário da matéria de galego seria mínima. Todo o alunado, portanto, além de estudar o galego normativo atual, aprenderia também umas noções básicas de português. Para além disso, haveria uma matéria específica de português, como segunda língua estrangeira, voluntária, para quem quiser aprofundar mais. 

Dada a proximidade com o português não seria complicada uma aprendizagem básica da sua ortografia e do seu léxico. Prestigiaria-se desse jeito entre o alunado e as suas famílias e teria um maior sentido o frequentemente questionado currículo da matéria de galego. E isso não significaria um incremento dos horários nem do professorado, e sim oferecer o essencial de duas matérias só no tempo antes dedicado a uma, aínda que a parte do português fosse só do 10% do total. Evitaria também nos governantes a desculpa de que não podem gastar um dinheiro com o que não se conta.

As organizações de renovação educativa, os sindicatos do ensino, as associações de mães e pais e os partidos políticos galegos poderiam pedir com decisão à Junta essas mudanças nos currículos escolares para incluirem essas unidades didácticas

A formação e a capacitação do professorado, já com estudos de filologia galega, na variante portuguesa e brasileira, com as escolas oficiais de línguas e com possíveis cursinhos acelerados organizados pela Conselharia de Educação da Junta da Galiza, resultariam fáceis de solucionar. Só se necessitaria boa vontade política e ganas de resolvê-los problemas, principalmente por parte do Governo Galego.

As organizações de renovação educativa, os sindicatos do ensino, as associações de mães e pais e os partidos políticos galegos poderiam pedir com decisão à Junta essas mudanças nos currículos escolares para incluirem essas unidades didácticas, visando que todo moço ou moça quando acabe o secundário saia com uma capacitação mínima em língua portuguesa.

Entretanto isso não suceda cabe só uma opção voluntarista e mesmo discreta para os departamentos de galego e para o seu professorado, porém, muito profissional, a de fazê-lo da mesma maneira, e sem que se incremem em excesso os conteúdos. Mesmo ainda que essas unidades novas na matéria de galego não contem da mesma maneira na qualificação da avaliação que as já existentes. 

Não seria mau que o professorado de galego estudasse algo de língua e cultura portuguesa, ainda que fosse de jeito autodidata

Perguntem as professoras e professores de galego que possam ter dúvidas por meio de um inquérito às famílias acerca do acolhimento da proposta. Perguntem-lhes se querem que os seus filhos também conheçam um português básico por meio de umas poucas unidades na matéria de galego ou se preferem que só conheçam o galego que se dá atualmente nas escolas da Galiza. Explicando-lhes a grande utilidade do objetivo pretendido entendo que os pais galegos estariam encantados. 

Por tudo, não seria mau que o professorado de galego estudasse algo de língua e cultura portuguesa, ainda que fosse de jeito autodidata. Como muitas e muitos membros do seu coletivo vêm a fazer rigorosa e meritoriamente desde há anos.

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