Política e cultura de altos voos

Na Galiza não estamos acostumados à política de altos voos. A nossa passividade e renúncia a nos auto-governar faz que deleguemos toda a responsabilidade das nossas vidas nos políticos profissionais. E estes, seguindo esta mentalidade de ave de curral, cumprem com a tarefa de fornecerem de subvencioncinhas ou choínhos. Já aquele conselheiro de Redondela dissera que un intelectual galeguista lhe custa cem mil pesetas. Mas ainda apesar de tudo, a nossa sociedade não perdeu ainda o valor de voar como as águias.

Na Galiza não estamos acostumados à política de altos voos. A nossa passividade e renúncia a nos auto-governar faz que deleguemos toda a responsabilidade das nossas vidas nos políticos profissionais

Como é público e sabido há umas pessoas na Galiza que estão a assessorar o governo para a entrada da nossa comunidade autónoma num clube de países que, entre outras cosas, têm os maiores crescimentos económicos do planeta, com a característica comum de possuir litoral, e de ter a língua mais falada do hemisfério sul. O lavor que estão a desenvolver estas pessoas é impagável: desde apresentarem contatos diplomáticos e lograrem a presença oficial do governo galego em foros exclusivos, até facilitarem os consensos políticos num tema no que o confronto parece o normal desde que caíram os precários consensos linguísticos, e o uso do idioma próprio continua um declínio que semelha inevitável.

É precisamente este tema do valor internacional do nosso idioma onde há um ponto de encontro e mesmo um bálsamo para as disputas ideológicas num tema tão sensível como é o da língua. Ainda que só fosse por isso mereceria a pena aprofundar. De facto, apenas os extremos ficam fora desse novo consenso: dum lado, o nacionalismo espanhol mais râncio, como o que representa a organização xenófoba "Galicia Bilingue"; doutro lado, um nacionalismo galego obsoleto que ainda funciona com ares de superioridade, e que acredita que a negação ou ocultação da dimensão internacional do galego aumenta e fundamenta o seu valor moral e o das pessoas que o utilizam. A soberba isolacionista não lhes permite ver que o efeito é justo o contrário: faz-nos mais pobres e vulneráveis ante pessoas e ideologias mal intencionadas. Por isso afinal os extremos tocam-se .

O papel da Galiza como ponte entre os dous mundos ibéricos é ignorado polo nacionalismo excluinte dum lado e doutro

O papel da Galiza como ponte entre os dous mundos ibéricos é ignorado polo nacionalismo excluinte dum lado e doutro. A potência histórica de Galiza e o seu idioma é negada por quem apenas querem ser um apêndice da Espanha, mas também por quem desejam imitar as outras nacionalidades do Estado nas suas reivindicações linguísticas e políticas, quando já quiseram ambas para si o tesouro dum idioma internacional. O próprio governo do Estado sabe da importância estratégica que tem Galiza, e quanto menos não põe pedras no caminho nem recursos de inconstitucionalidade à lei Paz Andrade que deu pé ao despregue da dimensão internacional do galego. A classe política deve estar agora à altura duma visão grande e de longo prazo. E a intelligentsia galega sair duma postura acomodada e inerte, e concentrar as energias em fomentar o que nos une com a nossa História e o nosso Futuro, e não o que nos separa.

Desde que a Lei Paz Andrade fora aprovada por unanimidade do Parlamento, as pessoas que formam a Academia Galega da Língua Portuguesa, junto com outras organizações de carácter reintegracionista como AGAL, trabalham com discrição e generosidade para lhe facilitar à Junta o caminho da CPLP. A História pagará-lhes com o reconhecimento que merecem, pois esse trabalho de Consulting que val milhões ainda tem que ser feito com os seus próprios meios e tempo. Não quero deixar de nomear pessoas como Ângelo Cristóvão, Valentim Fagim ou Maria do Vigo. A lista é grande, mas devia ser ainda mais, pois como dissera Castelão, nesta obra há lugar para todos.

As pessoas que formam a Academia Galega da Língua Portuguesa, junto com outras organizações de carácter reintegracionista como AGAL, trabalham com discrição e generosidade para lhe facilitar à Junta o caminho da CPLP

A obra de recuperar a nossa dimensão mundial, e com ela a nossa potência, a nossa História, auto-estima e dignidade, é responsabilidade de todos e todas nós. Não importa a língua que falemos, nem a ortografia que aprendêramos a escrever. Não deixemos comodamente esta obra grande em mãos de circunstâncias e aritméticas políticas. Ao invés: toda a chamada classe política e a cultural deve sentir o alento e apoio de todos e todas. Depois, a gente da política e a cultura verá se querem estar à altura da sociedade, ou comportar-se neste tema como  uma "casta".

Não é preciso arengar-nos aos empresários desde foros "ad hoc" para que usemos o galego. Basta abrir os olhos para ver que a rendibilidade do nosso idioma não é só de marketing local: é útil para os nossos negócios internacionais. Mas é uma questão também de todos e todas: podemos solicitar aulas de português no centro de estudo das nossas crianças, utilizar a ortografia internacional ou ao menos NH na comunicação escrita, na configuração do email e o telemóvel, aceder a todo o material cultural e de consumo disponível na nossa língua... Se você tem mão nalguma organização que edite conteúdos escritos em castelhano, porque não fazer versão em galego internacional? Se alguém perguntar, é a ocasião de dizer com orgulho que se trata do nosso próprio idioma, e que também se dirige a um quarto de bilhão mais de utentes. Afinal podemos e seremos você e eu quem façamos esta revolução silenciosa.

É uma questão também de todos e todas: podemos solicitar aulas de português no centro de estudo das nossas crianças, utilizar a ortografia internacional ou ao menos NH na comunicação escrita, na configuração do email e o telemóvel

Tocará portanto à nossa geração perder o medo. Aceitarmos como própria a língua na que falamos e escrevemos mais de douscentos cinquenta milhões de pessoas, e porém deixar aos nossos filhos e filhas uma herança que lhes faça sentir orgulho e não lástima de nós. Poderão eles e elas receber das nossas mãos o legado duma língua que não desaparece na escuridão, dum idioma que mais bem lhes abre imensas possibilidades e futuro. Poderão os nossos filhos e filhas dizer-nos em paráfrase de Eduardo Pondal: "deixaram-vos uma língua de plástico, temos graças a vós uma língua que val ouro"

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