Resoluções de Ano Novo: Integrarmos um desporto olímpico nas nossas vidas

Patricia Mamona e Ana Peleteiro, con cadansúa medalla dos Xogos Olímpicos de Toquio © COI

I

Hoje gostava de encorajar-vos a incluírem mais uma resolução de ano novo a falar de dois tipos de salto que poderiam deixar-nos ficar… com a língua de fora. Deixem que vos apresente o triplo salto e o salto em comprimento.

O Triplo Salto é uma combinação de três saltos sucessivos que terminam com a queda numa caixa de areia. Semelhante ao Salto em comprimento, mas com dois apoios prévios antes do salto, esses apoios permitem ao atleta chegar mais alto, mais longe…mais rapidamente. 

Estás a brincar, não estás? Estou sim, mas isso não tira qualquer valor ao salto em comprimento ou salto direto, e muitos chegam a uma marca pessoal semelhante em qualquer uma das duas modalidades.

E, se olharmos com perspetiva, não parece assim um desporto tão perigoso como, sei lá, saltarmos para o vazio sem paraquedas ou andar na corda bamba sem rede alguma por baixo.

Seja como for, o foco deste desporto na categoria amadora (ao pé de Lisboa) é desfrutarmos mesmo de saltar, quebrando, assim, as regras da gravidade e pontuação. Pois, essa malandra que nos quer coladinhos ao solo. E já agora, tal seriedade, quis dizer, gravidade, também nos quer esquecidos da força que possuímos para nos elevar dum piso pegajoso como aquele em que vivemos nas nossas galecidades

Em ambas as modalidades de salto, as atletas combinam velocidade, força e agilidade para saltarem o mais longe possível a partir de um ponto pré-determinado (e definido por outros) neste pegajoso chão, de breogão

Ou talvez usem antes uma combinação de habilidades tais e quais como entusiasmo, interesse e curiosidade…. Às vezes até eu próprio perco o fio da meada. 

Ainda (ainda bem que não me perdi), no caso da modalidade de triplo salto, na sua fase de voo, deve-se corrigir o equilíbrio através da rotação horizontal dos braços, colocando o centro de gravidade no lugar certo, um sítio qualquer aleatório e cêntrico que pode ser encontrado simplesmente abrindo os braços e deixando à nossa esquerda o amanhecer, à direita o pôr-do-sol e mesmo à nossa frente, o Sul, como quem diz, no ponto de mira: Viseu. 

Isto é assim porque tantos apoios prévios, às vezes, ensarilham-nos os pés e cairíamos fora da caixa (sim, neste caso com cê), quem sabe com um ene til enrolado ao redor dos tornozelos, ou se calhar bem enfiado no nosso calcanhar, de Aquiles .

Na Galiza temos pessoas que gostariam de aprender a falar, desculpem, quis dizer, a saltar corretamente, até, se necessário com a nossa língua de fora, mas ainda não souberam encontrar um modelo a imitar que lhes permita adquirir maiores habilidades e chegarem a uma marca desportiva em que se sintam confortáveis e reconhecidas. 

Eis a razão de estarmos aqui a falar de desportos e diversão, ainda que eu bem sei que este artigo tem muito que se lhe diga… isso….salta aos olhos.

Na modalidade de triplo salto as pessoas podem aproveitar, como primeiro apoio antes do salto final: familiares, grupos culturais ou comunidade local que ainda saltem com habilidade (se ainda existir tal coisa onde residirem), e como segundo apoio: o ensino regrado nas escolas de salto. Para o caso, sempre, melhor, escolas públicas. O objetivo disto tudo? Não se esqueceram, pois não? Dar o salto. 

Dar o salto traz consigo também mantermos uma boa dieta: comer produtos de qualidade e começarmos a utilizar, a consumir, integrar no dia a dia alimentos saltitantes cheios de bom-senso e bom gosto, deixando atrás alimentos adulterados para lucro só de uns poucos. Sim, nuns dias de boas festas como os de hoje poderiamos começar a preparar o direito ao Réveillon, saltarmos juntos por cima do balcão e assaltarmos a caixa porque, saibam, vamos todos morrer (e também você e eu) mas há quem se lembre bem do que fizeram connosco neste cantinho do local nos últimos 40 anos e qualquer revolta ainda vale a pena. 

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Quem pudesse obrigá-los aos donos disto tudo a entregarem os mapas e saírem com as mãos em alto, os bolsos vazios e aí podermos finalmente dizer: ‘foi bonita a festa pá’ enquanto o público batia palmas e pulava aos saltinhos recolhendo corações de Viana e galos de barcelos ou desses outros cor-de-rosa, azul ou lilás que mudam de acordo com o clima e que nós atiraríamos desde as nossas carretas de samba dançando kizomba.

Afinal de contas dar o salto é também mudar de cena e falar, falar e falar como um papagaio e mobilizar as boas emoções, nem que seja gaguejando ou como numa canção de Van Morrison tipo “the way young lovers do” e aí já poderiam, até, saltarem para um outro patamar dizendo, dependendo das horas e dos copos ou coragem: eu te amo, eu tchi amo, eu amo-te, eu amo você, ame ndu ku sole, lobiloviloviloviiu ou wathever, que, seique, quer dizer sei lá. 

Lembrem-se que esta nossa língua emfesta lá no alto e pelo mundo fora pode até ser utilizada sempre de fato macaco e em oficinas mas também de salto alto, blazer ou bombazina ou com o coração a latejar aos saltos, brincos nas orelhas e piercing nos umbigos. Fardados como quiserem mas com ténis ou sapatilhas, fato de treino e mangas arregaçadas já que para o caso o importante era… começar a saltar, nem que seja começando de cócoras e corados como um tomate ou, se forem timid@s, às agachadas. 

Lembrem também: Há um lugar bem pertinho de nós em que todos pulam sem vergonha, experimentem visitar e se for possível regularmente. 

Já agora…. há quanto tempo é que não pulavam numa poça de lama como faziam quando eram crianças sem pensar em mais nada e a viverem o momento? Há quanto é que não liam cousas loucas, mata e moita, muita coisa de que dous minutos antes não estavam à espera como loiça-toiro-miradouro, lavadouro ou menino d'oiro? Antigamente é que era bom, andávamos aos saltinhos fugindo de raias imaginárias que fechavam em quadrados isolados o passeio e nos passos de peões não podíamos tocar no asfalto. 

Afinal, quem não sentiu essa emoção de estar no ar, com toda a vida pela frente e a cumprir a própria vontade de galgar obstáculos invisíveis? 

Era mesmo assim que devíamos transitar para qualquer nova habilidade. 

Ok, voltando ao texto, confesso: salto de comprimento, triplo ou de altura (este fica para um outro artigo) para o caso pouco importa. Todos três têm um senão: se começarem com isto talvez não consigam parar: sim, essa é a verdade, isto é mesmo viciante, agarra-te logo, mas os bons vícios são afinal Bons hábitos e o que seria de nós sem eles agora que os Maus fecharam no Porto por causa da hora ter chegado agora ao momento do mata-bicho-no-café-da-manhã-pequeno-almoço-dejejum. Há palavras que convem aprender juntas para o caso de viajarmos pelo ar.

Patricia Mamona e Nubia Soares ©

II

Respire, e se já recuperou o fôlego, continuamos. 

Se conduzir não beba, mas lembre:

Saltar é bom, e neste desporto olímpico qualquer pessoa pode levantar os pés do chão e até melhorar as suas marcas, pois até às vezes uma pessoa fica um pouco bêbada e mais confiante em si própria de apanhar tanto ar fresco e com excesso de oxigénio lá pelas alturas. 

Iá, eu sei, em desportos “participar é o que conta”, o importante é saltá-lo… o espírito desportivo não tem nada a ver com a pontuação ou com comes e bebes mas quando dás por ti…. embebedaste-te de ar puro, a língua anda à solta e começas a tagarelar. 

Lembrem também que sem saltar com certa regularidade dificilmente poderemos obter progressos na marca que deixamos lá na areia. 

Por essa razão, para quem gostar mesmo de ver avanços nas suas marcas pessoais, fazer tais desportos no dia a dia fica ainda melhor a tal ponto que, ao inscrever pegadas novas na areia do quotidiano, atletas podem acabar por sentir que afinal, isto sim, é a sua praia. A cultura do esforço e repetição nos desportos é parte do processo de diversão. E nestas modalidades e a estas horas da noite ou do dia é tudo saltitante, pega-pega, esconde-esconde, lusco-fusco e fala-fala. É assim minha gente, é a brincar que tudo corre melhor. Para o caso, é também verdade que como em qualquer outro desporto, as primeiras vezes podemos até cair muito aquém do salto desejado. Mas… quem se importa com as marcas temporárias? O pá, a sério, saltar…é tão bom mesmo, percebem? Não percam o ânimo!

Vamos com as dicas: 

Uma maneira simples de começarmos a saltar para fora da caixa do nosso peganhoso chão (e entrarmos na caixa do desporto internacional adulto) é através daquilo que podemos chamar, meio a brincar, de salto passivo: podemos ouvir podcast em que se salta, podemos ver filmes saltitantes na netflix e podemos até legendar as séries para o caso em que a compreensão for, nos primeiros momentos…. aos saltos. 

Mas o salto ativo, ah pessoal! Isso é um outro patamar de satisfação. 

Façam o que eu faço e também o que eu digo: visitem grupos que já saltam há uns tempos, falem de refogados a saltitar na frigideira, façam novas amizades que pratiquem a mesma vontade de pular degraus e quebrarem juntos com simbólica violência tectos de vidro que nos foram colocados sem repararmos. Aquilo que produz uma nova força em nós é dar pulos de alegria com o grande que pode ser a nossa comunidade se saltarmos com vontade coletiva. 

Quase a acabar já a minha defesa de meterem o salto nas vossas vidas até na sopa ou nem que seja um saltinho assim pequenino de chinelo, coloco a questão dos medos do salto coletivo, que eu já ouvi dizer que lá que os há, há. 

Não admira, é desde crianças que ouvimos “vais cair” e também “?que pone tu DNI?”. É assim, agora vemos as consequências: há quem tenha medo a se passar das marcas ou passar as raias e atingir lugares aos quais não ousa (ou não queria) ter chegado.

Há muitos tipos de salto e num saltinho vou ir acabando com o estado a que isto tem chegado antes de perder o fôlego ou chegar à centésima página. Para essas pessoas o meu conselho-parvo: Pessoas podem dar saltos diferentes. Mais curtos ou mais compridos. Não existe o conseguir pularem de mais. Não, não vai nascer bigode ou aparecerem embriagados lá em casa para o almoço a cantarem “às armas” ou “Coimbra tem mais encanto” só por finalmente conseguirem… saltar baim. 

Até mesmo no caso de atingirem uma marca profissional nível pró(-academia) acreditem em mim: vão poder saltar menos ou mais segundo as suas vontades ou circunstâncias! É mas é tão intuitivo sabermos quando, quanto, até onde, por quê, para quê e com quem saltar que não vão ter qualquer dificuldade. 

Já para concluir o último conselho publicitário: Tal e como recomenda a ONL (Organização para a aprendizagem Normal das Línguas), entre outros benefícios para a saúde associados a uma hora ao dia de salto estão ainda a redução da pressão ambiental doutras línguas, o aumento da capacidade de produção oral e da expressividade própria, a manutenção dos níveis de domínio e competência linguística e, consequentemente, a diminuição do risco de vir a desenvolver substituição, paralisia ou incapacidade comunicativa. Podem comprovar se entraram nalgum destes riscos sanitários verificando que ainda conseguem pronunciar a regra dos três efes: Fala, Fátima e Futebol ou, para o caso, também serve o clássico mnemotécnico VêCêCêBê: Voltei com cartazes de cravos nas bochechas.

Finalmente lá se aproxima a conclusão, por isso só me resta mandar beijinhos ou qualquer coisa do género com a divisa da nossa equipa de salto malandro escrita com luzes de Natal em letra bem grande (à grande e à viguesa): 

Uma hora de salto ao dia não sabem o bem que lhes fazia”.

Boas entradas e boas saídas!

Pulem!

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