Soubem o que a palavra "fato" significava em Lugo, quando lá fum um verão. Chegados do Vigo de finais dos 80, fomos apresentados às crianças daqueles lugares com os nossos nomes. Tudo era normal, até que um rapaz chamado Javier foi apresentado com a sua alcunha: Fato.
As gargalhadas ainda ecoam à entrada do Courel, ali junto às terras de Fisteus. Desconhecíamos que “fato” era a palavra utilizada em muitas áreas de Lugo como sinónimo de "parvo". Para um rapaz ou uma rapariga do Courel, assumir esta condição com tanta alegria, era para rir ainda mais.
A controvérsia pode ser simbolizada pola confusão em redor da palavra "facto": escreve-se "facto" ou "fato"? Se os galegos de Lugo decidissem, nunca aceitariam escrever "fato". Isso seria demais
Anos mais tarde na cidade do Porto, lembro que entre uma chuva intensa e as sombras da cidade naquele outono húmido, havia uma loja que me fazia lembrar a mercearia da minha família da Terra de Montes. Ali, na montra, um manequim num casaco azul, com uma camisa branca às riscas e uma gravata preta fina e dourada, podia ler-se sobre um pequeno recorte de cartão a palavra "fato". O meu olhar espantado por causa da polissemia da palavra.
Anos mais tarde, na verdade muitos anos mais tarde, descobrim que no mesmo ano que tinha estado no Courel, fora debatido o Acordo ortográfico da língua portuguesa, conhecido como AO'90, criando uma grande controvérsia ainda por resolver entre os países de língua oficial portuguesa. A controvérsia pode ser simbolizada pola confusão em redor da palavra "facto": escreve-se "facto" ou "fato"? Se os galegos de Lugo decidissem, nunca aceitariam escrever "fato". Isso seria demais.
Parecia que a abertura das fronteiras tinha um objectivo têxtil de mostrar que tipo de relação seria prioritária entre Espanha e Portugal. Um fato de negócios para a fronteira entre Lisboa-Extremadura-Madrid. Um fato militar para a fronteira entre Lisboa-Porto-Galiza
O facto é que o fato poderia ser um interessante jogo de palavras.
E é por isso que fiquei impressionado no ano 2020, com os diferentes fatos usados polo Rei Filipe VI em Badajoz (Extremadura) e Tui (Galiza) no ano da abertura das fronteiras estatais entre Espanha e Portugal.
Dous factos com fatos diferentes.
Na Extremadura, Filipe VI residente em Madrid, optou por um fato civil acompanhado polo governo espanhol também em Madrid e liderado polo presidente do governo Pedro Sánchez. Na Galiza (Tui), polo contrário, escolheu um fato militar sem ser acompanhado polo governo espanhol, mas polo representante do Estado na Galiza, o presidente da Xunta. Aqui não visitou representantes empresariais ou culturais da Galiza e Portugal como prioridade, mas a uma instituição militar.
Parecia que a abertura das fronteiras tinha um objectivo têxtil de mostrar que tipo de relação seria prioritária entre Espanha e Portugal. Um fato de negócios para a fronteira entre Lisboa-Extremadura-Madrid. Um fato militar para a fronteira entre Lisboa-Porto-Galiza.
Meses mais tarde, um facto abalou a imprensa espanhola. O governo português, vestido com fatos civis em Badajoz, apostou na relação económica baseada em factos com a Galiza através de comboio de alta velocidade
O simpático é que o 50% do trânsito económico entre Espanha e Portugal é através da Galiza e Portugal. O simpático, é que estou certo que poucos galegos sabem da existência da comandancia naval fronteiriça do Minho, assunto prioritário para o rei Filipe VI.
Meses mais tarde, um facto abalou a imprensa espanhola. O governo português, vestido com fatos civis em Badajoz, apostou na relação económica baseada em factos com a Galiza através de comboio de alta velocidade. Assunto que ligaria em 2030, as grandes cidades da Galiza e Portugal.
Parece que os fatos, afinal não tinham sido tão influentes como os factos. Parecia que os de Lugo tinham decidido o sentido final da palavra.