Temos um problema

Imaxe da manifestación nacional do feminismo galego hai dous anos CC-BY-NC-SA Galiza Contrainfo

As moças que estamos ativas em política, as que decidimos organizar-nos em projectos de libertaçom nacional mistos, temos um problema. Os moços que participam connosco nesses espaços, tenhem outro. Na minha, nossa, organizaçom abrirom-se, nos últimos quatro anos, três processos de investigaçom contra militantes por diferentes tipos de violências machistas graves.

Na minha, nossa, organizaçom abrirom-se, nos últimos quatro anos, três processos de investigaçom contra militantes por diferentes tipos de violências machistas graves

Escrevo eu mas este testemunho é a necessidade de todas as moças que participámos dos grupos de gestom de agressons e de todas as que participamos nos foros nom-mistos da organizaçom. Dá igual o tempo que levemos politizadas ou militando: escuitamos o relato dumha companheira e reconhecemo-nos nele. É lógico quando vivemos o mesmo, quando, ao militar, todas desenvolvemos as mesmas técnicas para “sobreviver”. Modificamos o nosso tom de voz, ocupamos o espaço físico dumha outra forma e falamos mais, conscientemente, para que vós, em comparaçom, ocupedes menos minutos do total. Perpetua-se inconscientemente a divisom sexual do trabalho: nós organizamos, procuramos inclusons e conclusons, desculpamo-nos polos abusos da palavra, etc; eles formam-se e formam, interessam-se quase unicamente polos temas mais ortodoxos e som, geralmente, mais passivos à hora de levar adiante o trabalho marcado.

E, depois de tentar camuflar as diferenças de socializaçom, estamos exaustas, seguimos inseguras e observamos como nom avançamos. Os debates som bumerangues. Do “tenhem que falar disto entre eles, sós” ao “devemos facilitar-lhes umha guia para assegurar êxitos” e de novo ao “outra vez dando-lhes o trabalho feito? Devem organizar, convocar, reflexionar, concluir eles”. “As açons devem ter assignadas um obséquio ou um castigo”, mas também “com o punitivismo nom imos lograr umha mudança no moço assinalado”, e de volta ao “necessitam um golpe de realidade para reparar na gravidade dos factos”. Pola outra banda, passividade, conformismo, perpetuaçom do estado das cousas.

Por que será que nos sentimos mais seguras, valoradas, quando há algumha companheira entre as interlocutoras? Por que credes que fugimos de espaços onde unicamente há homens presentes? 

Por que será que nos sentimos mais seguras, valoradas, quando há algumha companheira entre as interlocutoras? Por que credes que fugimos de espaços onde unicamente há homens presentes? Ou por que procuramos amparar-nos nas companheiras adultas que já passárom polo que nós?

No artigo “As moças e a militância partidária” do nosso Combater nº 12 (2018) falávamos das travas que as jovens tínhamos para involucrar-nos politicamente e do traumático que é denunciar umha agressom e observar como o teu contexto protege a quem agride. Falávamos da sororidade que nasce entre moças de diferentes organizaçons e projetos políticos cada vez que um caso destes estoupa. Como vedes, estamos mais ou menos igual em todas as partes porque o problema está aqui dentro e aí fora; em nós e, principalmente, em vós.

Desde o nosso espaço pomos empenho em chantar estas contradiçons diante dos companheiros, mas nom é suficiente. No país existem cento e umha iniciativas de encontro e debate entre mulheres sobre qualquer ámbito das nossas vidas. Em câmbio, custa-nos nomear experiências que, em aproveitamento das mil e umha ferramentas de que dispomos, se centrem no ponto de vista dos homens. Honestamente, nom vemos vontade nem responsabilizaçom real pola vossa parte.

Como nom vai existir masculinizaçom nas organizaçons se por cada agressom que cometedes e se fai pública somos três, quatro, cinco moças que passamos meses (e anos) obsessas com os processos? Se a responsabilidade recai sobre nós, emulando ser juízas, no canto de sobre os homens que cometérom os factos?

Como nom vai existir masculinizaçom nas organizaçons se por cada agressom que cometedes e se fai pública somos três, quatro, cinco moças que passamos meses (e anos) obsessas com os processos? Se a responsabilidade recai sobre nós, emulando ser juízas, no canto de sobre os homens que cometérom os factos? Se vos rebotades connosco por fazer que perigue a vossa comodidade?

Esta reflexom, ou chamada de atençom, nom vai tanto para deixar unicamente constância dum facto; é um aviso a navegantes. Companheiros, podedes pensar que somos misândricas ou podedes ter altura de miras, identificar o trauma gigante que provocades em nós e trabalhar, com todas as vossas energias, em deixar de pôr em perigo a saúde e a participaçom política das camaradas. A maior parte das minhas companheiras e mais eu estamos pragadas de conflitos relacionados com a gestom das violências machistas; algumhas acudimos a profissionais para procurar fazer mais levadeiros os dias, as mais tivemos que rachar com relaçons interpessoais, até o momento importantes, por nom poder carregar tanta decepçom, mágoa e raiva.

Toda prática política revolucionária deve assegurar a saúde, protecçom e integridade das pessoas que nos involucramos nos projetos coletivos

Em tempos em que sujeitos iluminados da esquerda reivindicam as mesmas proclamas que o fascismo e arremetem contra os princípios de solidariedade, de cuidado das pessoas que temos ao lado, por considerá-las a debilidade do nosso movimento, é mais necessário do que nunca evidenciar que toda prática política revolucionária deve assegurar a saúde, protecçom e integridade das pessoas que nos involucramos nos projetos coletivos.

Escrev(em)o(s) isto porque sabemos que nom é algo exclusivo do nosso espaço político, porque lemos outras companheiras nas redes sociais, escuitamos outras moças nas assembleias feministas e temos amigas noutros espaços políticos que, protegendo a informaçom que deve pertencer às denunciantes e investigadoras, nos contam o cheias de inseguridades e fartas que estám. E tanto tem o hábil que sejades socialmente, quantas amizades mulheres tenhades ou por quantas relaçons passárades: observamos os mesmos patrons.

Depende de vós, homens que talvez estejades lendo, resolver o problema. Com sorte, ainda nos atopades com energias para tirar do carro convosco

Escrev(em)o(s) isto nom porque consideremos que lhe estamos a descobrir algo novo a alguém. Isto vai assim público porque esta gestom, noutra forma, nom é exclusiva dos espaços de militância. Vivemos isto a todos os níveis na nossa vida. Depende de vós, homens que talvez estejades lendo, resolver o problema. Com sorte, ainda nos atopades com energias para tirar do carro convosco.

 

Élia Lago. Membro da Mesa Nacional de Isca!

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