Teoria da Relatividade (III)

A importáncia das implicaçons económicas das pesquisas de Daniel Kahneman sobre os mecanismos mediante os quais os seres humanos tomamos decisons valeu a este notável psicólogo o Prémio Nobel de Economía em 2002.

Segundo Kahneman, esses mecanismos seriam dous (Sistema 1 e Sistema 2 na sua terminologia): o primeiro, um processo rápido, emocional, quase automático (e mesmo reflexo) que nos permite tomar decisons de maneira imediata; o segundo, um processo mais lento e reflexivo que exige concentraçom, suscita análises complexas, supom um esforço e, por isso mesmo, fatiga.

Ao primeiro recorremos para decidir em momentos de urgência ou sobre assuntos rotineiros do dia-a-dia, ainda sabendo que nom sempre as decisons tomadas sem maior reflexom som as melhores. Ao segundo recorremos quando nom podemos, ou intuimos que nom devemos, tomar umha decisom "à ligeira", vencendo a preguiça intelectual mas sem ter a certeza de podermos sortear com êxito escolhos cognitivos susceptíveis de distorcerem  num determinado sentido a nossa percepçom e condicionar a nossa decisom. A forma em que som apresentados os feitos que avaliamos, a proximidade no tempo de determinadas imagens, o efeito halo, a aversom ao risco, etc. podem ser factores de distorçom da realidade.

Votar ou nom votar, votar umha ou outra candidatura, é umha decisom que parece requerer certa reflexom e deveria activar portanto o Sistema 2. Nom obstante, quando se trata de comportamentos políticos, a Teoria da Eleiçom Pública reconhece umha certa lógica à chamada "ignoráncia racional" porquanto o custo da obter e avaliar informaçom veraz, afirma-se, é mui elevado relativamente à ínfima probabilidade que temos de incidir no mapa político.

Daí que, na prática, a maioria das persoas que decidem votar baseiem a sua escolha na valoraçom de afinidades ideológicas e indícios que consideram confiáveis. E aqui reside precisamente a amêndoa da questom pois estabelecer con certa solvência esse grau de afinidade e a confiabilidade dos indícios é tarefa que exige certo esforço, para fugir das armadilhas cognitivas que acecham os processos de tomada de decisons.

Dando por feito que para quem é nacionalista  nem o Partido Popular nem o Partido Socialista de Galicia, ainda que podamos introduzir algum matiz, som opçons de voto, a nossa análise reduze-se obrigadamente a três únicas alternativas, duas candidaturas de formaçons políticas galegas (Bloque Nacionalista Galego e Compromiso por Galicia) e umha candidatura de grupos galegos e estatais (Alternativa Galega de Esquerda).

 

Indícios e afinidades

O fracasso das anteriores tentativas de captar para o galeguismo o centro político revela sem dúvida certa exiguidade do sector social que poderia converger ideologicamente com CxG. Por outra parte, a diversidade de trajectórias e expectativas persoais que convivem no seio da formaçom, o feito de o grupo nom ter atrás de si umha prática provada de intervençom social, as surprendentes contradiçons que pujo de manifesto o seu comportamento errático na frustrada tentativa de unir-se à AGE e a defecçom de persoas e colectivos que gozam de certo eco mediático, somados a actuaçons de duvidosa legitimidade democrática no processo de abandono do BNG, som indícios que nom animam a confiar na solvência desta coaligaçom e parecem augurar resultados pouco satisfatórios, mais ainda porque a ausência de figuras que podam ser vendidas como o detergente que lava mais branco fecha a possibilidade de recorrer a umha campanha publicitária de impacto emocional (Sistema 1) como a que desenvolve AGE.

Porque, com efeito, se para a AGE a possibilidade de encontrar votos ideologicamente afins é ainda mais complicada que para CxG, na medida em que é preciso harmonizar o ideário de duas formaçons que discordam abertamente em terrenos sensíveis, e se os indícios apenas permitem por agora imaginar até onde levará esta colisom de trajectórias -persoais e colectivas- em muitos sentidos antagónicas, o recurso a substituir a informaçom política por publicidade comercial é sem dúvida umha tentaçom, umha tentaçom que pode ter consequências curiosas, algumhas inquietantes.

A primeira e mais óbvia é que para muitas persoas afins à ideologia de EU a imposiçom de ter que votar um indivíduo a quem dedicarom os seus mais indignados impropérios durante a etapa em que Beiras encarnava a expressom mais histriónica e menos progressista do nacionalismo (os seus abraços com Fraga, os seus acordos com PNV e CIU, o desinteresse pola mobilizaçom social em favor do gesto individual ocorrente e extemporáneo, a sua displicência principesca polos que chama "os de abaixo", etc.), essa imposiçom, dizíamos, representa umha derrota dos princípios ideológicos em que essas persoas militarom toda a vida, como mostra a irritada atitude das vozes que discrepam de esta manobra eleitoral,

A segunda consequência é o inquietante contributo desta candidatura à reduçom do pensamento político complexo a umhas quantas fórmulas efectistas, às vezes grosseiras (para consumo "dos de abaixo"?). Um processo que alimenta o domínio ideológico do poder que Danilo Zolo denomina tele-oligarquía, cujas sequelas alarmantes já som visíveis no evocado modelo grego  (22% de apoio popular a grupos neo-nazis).

Esta simplificaçom perigosa, que só pode explicar a procura do voto desinformado, propicia essa curiosa indiferença com que se aceita o que é talvez o mais peculiar paradoxo desta candidatura: o feito de duas formaçons que centram os seus afáns no descrédito da instiuiçom parlamentar unirem-se -contra a sua própria e respectiva história- para ter possibilidaes de aceder a essa mesma instituiçom. Umha instituiçom em que o cabeça da lista provincial com maiores possibilidades perpetrou hai anos algumhas das suas mais criticadas farsas.

Claro que, como nacionalista, as minhas inquietudes viajam também por outros territórios. Tenho a aguda suspeita, e o lacerante temor, de que esta (A)nova agrupaçom de velhos galeguistas vai caminho, se é que nom chegou já, de tentar nos traer de volta ao ponto de partida: pucho na mao, espinha vergada, que venhem os de Madrid!

Nom hai espaço hoje para falar dos problemas do BNG. Fica para a próxima.

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