A ética nas organizações empresariais

Na ética profissional e o Managing contamos com uma figura ainda não bem reconhecida na Espanha (sim internacionalmente) como é o Professor Javier Fernández Aguado. O seu último contributo com um estudo do Managing no Terceiro Reich é diretamente impressionante. Aguado criou uma nova e original linha de análise dos modos de direção das empresas -tanto a nível teórico como em Consulting- que parte de dous factos: que a direção se deve fazer com objectivos a longo prazo (direção por hábitos) e uns valores estáveis; e que as organizações podem dar lugar a umas estruturas corruptíveis apenas polo facto de serem organizações.

O pensamento de Aguado foi quem de superar aquela doutrina clássica e estática do Managing que fazia diferenças entre dous tipos de empresas: dum lado as que seguem o esquema das democracias ocidentais, assimilando "o povo" ao mercado, e o "pluralismo" ao acionariado disperso; doutro lado -naquele modelo ultrapassado- estariam as empresas autocráticas, nas que a propriedade tomaria as decisões de modo arbitrário. O primeiro tipo de empresa, assimilável às multinacionais, conduziria ao sucesso, e daria lugar a relações internas mais justas nas que o mérito prevalece também no progresso dentro das organizações. O segundo teria a ver com as propriedades familiares, cuja falta de crescimento e progresso interno viria dado precisamente pola sua constante falta de adequação das decisões ao mercado, já que os trabalhadores devem ganhar o favor do "ditador", e não o do "povo".

A experiência recente e a crise do capitalismo veio demonstrar que é precisamente nas multinacionais e grandes empresas onde se produz a concentração de capital e poder

Mas a experiência recente e a crise do capitalismo veio demonstrar que é precisamente nas multinacionais e grandes empresas onde se produz a concentração de capital e poder. Os oligopólios -favorecidos polo Estado contra o libre mercado- oferecem uns produtos e serviços de pior qualidade, e favorecem umas relações humanas internas corruptíveis. Os trabalhadores aceitam as condições impostas ao não existir um mercado local produtivo e laboral onde circular, mas regimes estatais de monopólio. Ao contrário do que afirmava Marx, não é o livre mercado o que faz que o capitalista se aproprie da mais-valia dos proletários (salários baixos) para evitar perder o seu capital e se ver convertido ele em proletário. Antes bem é o Estado quem distorce a liberdade de produzir e comerciar, prejudicando as pessoas também enquanto trabalhadoras e consumidoras. Poderíamos falar desde Monsanto até o monopólio bancário, passando por comunicação, energia, e outros setores "estratégicos". Os oligopólios, onde se acumula o capital e o poder, distorcem a liberdade de mercado, e bloqueiam a entrada de competidores em complicidade com as estruturas políticas, que são a sua extensão apresentável em sociedade.

Os oligopólios, onde se acumula o capital e o poder, distorcem a liberdade de mercado, e bloqueiam a entrada de competidores em complicidade com as estruturas políticas, que são a sua extensão apresentável em sociedade

Aliás, internamente, as relações humanas ficam nas multinacionais e oligopólios facilmente condicionadas pola estrutura hierárquica piramidal, dando ocasião à corrupção e a degradação ética das pessoas. Um exemplo bem recente o temos no que foi o calote maciço das "preferentes" onde a decisão tomada de cima de estafar os clientes foi lançada através da estrutura vertical de mando até chegar aos vendedores de produtos financeiros, a quem lhes lembravam de passagem que o banco estava a passar por momentos difíceis e seria necessário prescindir de alguém, e que se iam fazer mais algo para além de estar todo o dia a tomar cafezinhos... Quando a base laboral da pirámide recebeu a ordem, e depois a fatura da hipoteca e de todos os demais créditos, sabendo também que o sector estava em crise e minguando, o comportamento ético destas pessoas assalariadas ficou em sério risco de vulnerabilidade. O principal ativo desse banco, a credibilidade da rede comercial, foi destruído. Algo semelhante acontece, nas "ajudas" governamentais e a publicidade de partidos políticos profissionais aos oligopólios dos meios de comunicação, que em realidade priva às comunidades de pluralismo e liberdade de informação, favorecendo um condicionamento certo e na seleção e focagem do publicado polos jornalistas e colaboradores dos grandes meios, que com frequência ultrapassam os princípios básicos da deontologia profissional.

Que o poder corrompe é algo já sabido desde Platão. Que o sistema atual conduz à acumulação de capital e poder, não frente ao Estado, mas com a sua participação, é algo que estamos a descobrir ainda. Mas também há que considerar que, da mesma maneira que as organizações viram em corruptas polo efeito da acumulação de poder, de igual jeito, o funcionamento da estrutura do poder e os seus efeitos perversos criam relações de concorrência interna afinal destrutivas dentro das próprias organizações. O III Reich, ou a China post-revolucionária de Mao Zhe Dong, igual que todas as organizações carismáticas, inclusive as religiosas, têm nas suas origens um poder concentrado, o qual leva a uma estrutura de decisões arbitrárias que -como assinalara Weber- caso de não mudarem e adequarem os princípios à realidade, acabam dando lugar ao colapso. Se seguimos a pista de regimes autoritários que ainda existem, caso da China, que sobreviveu decisões ditatoriais erradas (como aquelas que causaram em 1958-1961 a morte por fome de mais de 36 milhões de pessoas) encontramos que o comportamento dos governadores chineses de hoje, pouco tem a ver com os de faz ainda quinze anos, que podiam mesmo fazer ostentação do seu poder. Ainda que continua a haver alá um Partido Único, a competência quando não ódio aberto entre os seus integrantes e fações leva com que os comportamentos tenham que ser quanto menos... mais discretos.

Não há futuro para o regime atual de concentração de capital e poder, baseado no "punho visível dos Estados", na expropriação da soberania das pessoas, e nos impedimentos à liberdade e oportunidades para empreender

Não há futuro para o regime atual de concentração de capital e poder, baseado no "punho visível dos Estados", na expropriação da soberania das pessoas, e nos impedimentos à liberdade e oportunidades para empreender. Sobre tudo, porque é eco-tecnicamente inviável. Assim o pus de manifesto o estudo de Global Footprint Network, e já antes o silenciado informe do Clube de Roma, que vem de lembrar recentemente José Maria Viña. Mas também não tem futuro porque tem dentro a semente da sua destruição. No entanto, as pequenas e medianas empresas, as familiares e as cooperativas (as de verdade ambas, não as disfarçadas), estão em melhores condições para ré-orientarem o negócio, e também para criarem um universo de valores estável, e horizontalidade no fluxo da informação e das decisões. Isto -junto com outras condições de soberania que haverá que assumir e desenvolver- faz com que as pessoas ganhem e contribuam com valor nas empresas. Ao não serem absolutamente dependentes delas podem desenvolver comportamentos éticos, solidários e responsáveis. A economia e a pequena e mediana empresa tradicional, a cooperação e federação frente à competência e a absorção, muito ao contrário do que o sistema nos fez acreditar, é o futuro deste Pais, e talvez da Humanidade. O que necessitam não é nenhum favor, mas que as deixem nascer e existir: todo o contrário do que o Estado faz.

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