De quando Madrid descobriu o Atlántico, e a Galiza a euro diplomacia de proximidade

Megarrexións europeas ©

A imagem que encabeça este artigo nom precisa explicaçom: umha longa faixa atlántica de imemorial existência acabou configurando umha densa rede de sinapses económicas e humanas sem paralelo em todo o litoral atlántico europeu até os confins da Normandia. Essa faixa, classifica-se já entre as quarenta mega-regions que lideram o planeta. Confirma-o a observaçom do planeta via satélite e certifica-o a análise socioeconómica. Umha nova via galaica per loca marítima que a preguiça mediática prefere ignorar.

A faixa atlântica que se estende desde o generoso estuário do Mar da Palha lisbonense até as escarpadas penedias de Estaca de Bares, nom é objecto de especial atençom nos tratados usuais de geografia humana, o seu protagonismo actual provém de um documentado artigo académico de recente publicaçom: The Rise of the Mega-Region1. O trabalho de Florida, Gulden e Mellander, publicado polo Cambridge Journal da Oxford University Press2, baseia-se na observaçom da luminosidade nocturna captada por satélite, completada com a informaçom arrecadada sobre densidade demográfica, actividade económica e nível de competência investigadora. Toda esta informaçom é sintetizada posteriormente mediante técnicas de big data para mapear o resultado em imagens como a que encabeça este artigo, referida ao continente europeu.

A minuciosa criva dos dados apanhados ao longo e ancho da superfície terrestre, permite delimitar 40 mega-regions em todo o mundo mediante a ponderaçom de três magnitudes discriminantes: a populaçom, o PIB no 2000 e o número de patentes inovadoras acreditadas no 2001. Em breve, a tríada [milhóns de habitantes, milhares de milhons de dólares e patentes acreditadas] permite identificar 40 nodos mundiais com produto económico anual superior aos 100 milhares de milhons, responsáveis conjuntamente de 66% do produto mundial e 85% da inovaçom registada.

Das 40 mega-regions identificadas, duas revelam magnitudes fora do comum: Delhi-Lahore em razom da populaçom: 121,6 milhons de habitantes, (121,6; 110; 160) e o Grande Tóquio, por produto económico e capacidade inovadora: 2.500 milhares de milhons de dólares e 91.280 patentes registadas, em síntese, (55,1; 2.500; 91.280). Das 38 mega-regions restantes, três se localizam na Península Ibérica: a denominada Barcelona-Lyon (25; 610; 1.896), a galaico-duriense que nos inclui (9,9; 110; 44) e a de Madrid (5,9; 100; 849) que nos supera apenas em capacidade investigadora. Em termos ordinais, as três mega-regions ibéricas ocupam os níveis: (16, 11, 23), (31, 33, 39) e (35; 39; 28) respectivamente, relativos ao ordinal mínimo de 40.

Podemos apurar mais um chisco a avaliaçom para comprovar que o derradeiro posto em magnitude demográfica é ocupado pola conurbaçom de Denver, capital de Colorado, com 3,7 milhons de habitantes, e as de menor produto económico gerado formam o trio de Singapura, Bangkok e Madrid, com 100.000 milhons de produto gerado cada, embora Madrid destaque claramente em capacidade inovadora: 170, 58 e 849 patentes registadas respectivamente.

Voltando às três conurbaçons espanholas, nom é ocioso advertir que o inegável liderado do corredor mediterráneo no trio ibérico sustenta-se no generoso contributo da regiom de Lyon, com mais 500.000 habitantes no núcleo urbano, 2,2 milhons na conurbaçom e a sua condiçom de segunda cidade universitária da França.

Sirva o precedente enquadramento socioeconómico para interpretar como é devido o dogma da centralidade viária de Madrid, suplementada, chegado o caso, com o corredor mediterráneo. A minutagem da viagem por trem a Madrid leva traça de se tornar ideia obsessiva na opiniom pública espanhola. Bom, cada um é mui livre de cultivar as suas particulares teimas ferroviárias mas, há direito a exportá-las a Portugal? Por parte espanhola, concordemos, parece dar-se por garantida a aquiescência automática de Portugal aos desígnios da política viária espanhola.

Com esta certeza teria abordado a alta delegaçom espanhola a XXXI Cimeira celebrada em Guarda no passado 10 de outubro. Polo que depois se soube, o tema central da reuniom fora o de tentar alcançar um hipotético consenso ibérico relativo à alternativa estremenha para conectar por TAV Lisboa com Madrid. Quanto à hipotética alternativa atlântica, que permite aproximar as duas granes capitais portuguesas e conectá-las com a Galiza, ninguém parecia ter reparado. Afinal, quem poderia apoiar tam excêntrico traçado com destino a nengures?

Que o encontro nom correra como previsto tardou treze dias em transcender, justo o decurso preciso para a abertura das II Jornadas da Amizade da eurocidade Cerveira-Tominho em 23 de Outubro. A convocatória tinha por objecto comemorar a feliz aliança de duas apartadas vilas fronteiriças minhotas para formar umha eurocidade. Umha das quatro, por sinal, que demarcam a fronteira: Verim-Chaves, Salvaterra-Monção, Tui-Valença e Tominho-Cerveira; quatro pontes cívicas por onde circula à vontade a velha fraternidade galiciana.

O luzido evento convocou umha selecta presença institucional portuguesa, galega e mesmo vascongada onde nom faltou o presidente da Junta, senhor Feijó e, mais importante ainda, duas ministras de governo português, a reputada economista socialista e Comissária Europeia, Elisa Ferreira3 e a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa4. Um observador atento poderia enxergar outros eminentes participes ainda como o professor da USC Rubén Lois ou o reconhecido jornalista Xavier Fortes, além das autoridades cerveirenses e tominhanas organizadoras do acto.

Decorria o acto pola via habitual das boas maneiras quando a ministra senhora Abrunhosa tomou a palavra. A sua intervençom foi tam inesperada como contundente: O governo português decidira descartar a conexom ferroviária de alta velocidade através de Extremadura como “tratou de impor” o Governo de Espanha na XXXI Cimeira da Guarda. A sua prioridade, prosseguiu, era modernizar a linha Lisboa-Porto até a Braga e Vigo como eixo privilegiado de conexom ferroviária através da Península. Para irmos a Madrid, apontou com desenvoltura a ministra, já temos o aviom”. O nunca visto, o Governo Português formulando critérios divergentes de Madrid.

A patente discrepância com o executivo espanhol, zelosamente silenciada até o momento, saltava finalmente á luz. Inesperada liçom de euro estratégia num contexto comunitário inevitavelmente pós-nacional. Outono de 2020, prolegómenos da decisiva Agenda Europeia 2030: Madrid descobre repentinamente o Atlántico e Galiza em meio da polémica viária.

Como era de esperar, a viragem lisboeta foi saudada com passageiro alvoroço desde Vigo e Santiago entrementes o argumentário doméstico recuperava folgos. A Cámara Municipal viguesa voltou decontado a bater na tecla favorita da marginaçom de Vigo na conexom por AVE a Madrid. Sem deixar de congratular-se pola boa nova que, aliás, revalorizava a variante sul do nodo intermodal de Urzáiz, o Concelho volvia à sua reclamaçom consabida: conectar com Madrid por alta velocidade através de um by-pass de 57 quilómetros de túneis e viadutos para chegar directamente a Ourense através de Cerdedo e O Carvalhinho. Aforro de tempo na viagem Vigo-Madrid: de três horas e meia a três horas e dez minutos. Vantagem adicional: evitar a desvio a Santiago.

Os entusiastas da variante viguesa fariam bem em estudar as alternativas em curso para o traçado do corredor atlântico com origem em Portugal. Umha síntese clara das mesmas pode consultar-se numha recente publicaçom da ADIF5. Oportuno material de reflexom para a inauguraçom da primeira fase (¿?) da plataforma logística viguesa PLISAN depois de 20 anos de árduos esforços. Entretanto, o porto seco de Leixões assinava um convénio com o seu par em Salamanca6 que deveria ter merecido maior atençom de parte dos nossos planificadores.

Imaxe nocturna da Península Ibérica dende a Estación Espacial Internacional © ISS

Agora que começam a agendar-se excursons espaciais para contemplar o planeta a altura estratosférica, talvez poderia ser boa ideia reservar algumha passagem aos nossos planificadores para permitir-lhes contemplar a espectacular luminiscência nocturna da faixa atlântica, ajudando-os de passo a compreender que Lisboa é vizinha de porta com porta e Madrid, apenas a capital.

Obnubilados polo brilho de Madrid, nem Vigo nem Santiago conseguem enxergar o laborioso formigueiro que nos ata ao sul, vivo retrato da nossa modernidade urbana e portuária certificada polo olho insone dos satélites.

Temos sido leccionados a cotio em que o atraso da chegada do AVE á Galiza era devido à nossa consabida excentricidade geográfica, complicada com umha orografia adversa e um modesto potencial demográfico; naturalmente, visto desde Madrid. O único comentário que nos vem à boca é... depende!

 

Notas

1“The Rise of the Mega-Region”, Cambridge Journal of Regions, Economy and Society, May 2008: https://www.researchgate.net/publication/5094449_The_Rise_of_the_Mega-Region

2 https://academic.oup.com/cjres

3 https://ec.europa.eu/commission/commissioners/2019-2024/ferreira_pt

4 https://es.wikipedia.org/wiki/Ana_Abrunhosa

5 http://www.adif.es/gl_ES/empresas_servicios/doc/Present-CorredorAtco_febrero-19.PDF

6 https://www.atlantico.net/articulo/vigo/oporto-inauguro-puerto-seco-servira-meseta/20150908091655491255.html

Grazas ás socias e socios editamos un xornal plural

As socias e socios de Praza.gal son esenciais para editarmos cada día un xornal plural. Dende moi pouco a túa achega económica pode axudarnos a soster e ampliar a nosa redacción e, así, a contarmos máis, mellor e sen cancelas.