Som peças breves dedicadas a reivindicar um galego culto de vocaçom universal e propositada proximidade com o português do Brasil e de Portugal, mas, firmemente ancorado no galego vivo
Acaba de sair, publicado pola Editora Através, o livro de Carlos Garrido cuja capa ilustra este artigo. O seu contido e tam contundente e surpreendente. O estilo do autor navega entre a sabedoria filológica de professor da universidade viguesa e a agudeza crítica que os seus leitores conhecem bem.
O volume agrupa os cinqüenta e oito artigos de divulgaçom lingüística que Carlos Garrido vem publicando desde 2020 com periodicidade mensal em Nós Diario. Som peças breves dedicadas a reivindicar um galego culto de vocaçom universal e propositada proximidade com o português do Brasil e de Portugal, mas, firmemente ancorado no galego vivo. Em definitivo o galego ampliado defendido pola AGAL antes da sua recente desistência desta norma originária ante o formato português padrom, aparentemente mais produtivo mas também inevitavelmente afastado do receptor comum educado na norma vigente RAG-ILG cuja aparente facilidade oculta o seu elevadíssimo custo em termos de abrupto divórcio do português internacional e de inevitável entrega ao ubíquo espanhol.
No final do ano passado publicava Henrique Monteagudo, vice-secretário da Real Academia Galega e omnipresente personalidade da república oficial das letras galegas, um vigoroso artigo sobre a necessidade de umha vigorosa viragem do rumo da política linguística em vigor para abordar a extrema debilidade do uso do galego revelada polos dados do Instituto Galego de Estatística (IGE) no seu informe de 2023.
No artigo, o considerado professor da república RAG–ILG mostrava a sua lógica alarma ante os últimos dados estatísticos referentes à irreversível perda de uso e prestígio do idioma que confirma na nossa singularidade e nos constitui comunidade histórica e nai dum idioma florescente em Europa, América e África e oficial na Comunidade Europeia. Que a nossa sociedade demita irresponsavelmente de tam alto honor e que incluso as altas instáncias políticas obrigadas a conservá-lo e a enaltecê-lo o mantenha confinado em usos retóricos e cerimoniais é umha desgraça intolerável que cumpre superar.

O galego esmorece, talvez nom seja oportuno agora recordar as liortas cainitas sobre o controlo da agenda do galego e a sua defesa que acabou acaparando a RAG-ILG sem a mais mínima consideraçom às teses que reclamavam e seguem reclamando a necessidade de contemplar o português, lusitano ou brasileiro, como obrigada referência
Constata Monteagudo no seu artigo (1) que o questionário do IGE, de periodicidade quinquenal desde 2003, retrata umha realidade demolidora. Por primeira vez na história a percentagem dos usuários habituais do galego baixa do 50% da populaçom quando em 2003 se mantinha ainda no 60%. Na coorte etária decisiva da rapaziada dos 5 aos 14 anos só um de cada seis, em volta do quinze por cento, tem o galego como língua habitual quando, vinte anos atrás, a proporçom era ainda de quatro de cada dez. O inquérito IGE-2023 confirma a gravidade da situaçom: 1.176.000 falantes de galego contra 1.600.000 em 2003. Uma sangria mortal sem visos de reversom.
Nom se couta Monteagudo em criticar abertamente à desídia da Junta de Galiza e o seu reiterado discurso sobre a “imposiçom do galego” esse ignominioso relato exculpatório de Nuñez Feijoo que só tentava aproveitar os efeitos da secular submissom do galego e ocultar o deplorável papel das instituiçons obrigadas a defendê-lo (2),
As armas da eutanásia assistida contra o idioma refinam-se agora com o insidioso sintagma do “bilinguismo cordial”, nova pócima, ou poção como preferem em Portugal, que pretende instalar o relato de guardemo-nos do sectarismo intransigente, instalemo-nos no convívio civilizado que acolhe por igual as galinhas e raposo em civilizada convivência. E com todo, como esquecer os fundamentos do predicado pacifismo linguístico quando descansam no mais descarado apartheid propalado por Galicia Bilingüe e a sua falaz sacerdotisa Gloria Lago (3) da qual já ninguém quer lembrar-se depois de tê-la acompanhado em iníqua procissom pública?
O galego esmorece, talvez nom seja oportuno agora recordar as liortas cainitas sobre o controlo da agenda do galego e a sua defesa que acabou acaparando a RAG-ILG sem a mais mínima consideraçom às teses que reclamavam e seguem reclamando a necessidade de contemplar o português, lusitano ou brasileiro, como obrigada referência da imparável deriva espanhola de um idioma entregado a ele desde o século XVI com a consequência inevitável da avançada assimilaçom á sua irresistível omnipotência. Faltou magnanimidade e sobrou prepotência e sobretodo desprezou-se o generoso caudal nutrício derivado dum contacto assíduo com a nossa matriz. Campo livre ao império do castelhano, obturaçom do magistério luso-brasileiro, dilapidaçom dum vínculo imprescindível.
É verdade que o domínio político do Partido Popular esteriliza recursos imprescindíveis para a potenciaçom da língua. Imaginemos as consequências benéficas de umha TV com programas criativos em galego capazes de captar o interesse dos mais novos ou a possível cooperaçom com a TV portuguesa para receber programas culturais, filmes e noticiários subintitulados, recursos estragados num mundo superconectado. Mas nom, o silenciamento da língua irmã que nos acena desde Valença do Minho foi-nos decretado por arcanos motivos. Fugir do português convertido em dever de obrigado cumprimento.
A recente publicaçom de Farpas e Lampejos é um autêntico agasalho de Natal que recomendo vivamente a todos porque vam com certeza a desfrutar e a aprender. A dupla comdiçom de filólogo e naturalista entusiasta está presente desde a mesma capa do livro
Que fazer? A obra lamentavelmente desdenhada de X. R. Freixeiro Mato (4) é um exemplo singular do caudal de magistério desperdiçado por incúria culpável ou soberba auto-suficiente. Lingua de calidade (2009) e Estilística da lingua galega (2013. Vigo, Xerais) som marcos consagrados do paradigma do galego de qualidade esse sintagma imprescindível no curso da dignificaçom e recuperaçom do galego genuíno sem quebrar os estreitos limites impostos polo uso do galego codificado de curso oficial. Ignoro se estes livros som de uso habitual nos centros de ensino, como deveria ser.
Mas, penso que deveríamos dar um passo mais ainda para tender pontes ao universo da lusofonia que precisamos para vindicar como património irrenunciável e meta definitiva do galego reabilitado como sonhava Castelao. A tal fim contribui o livro cuja imagem preside este artigo, Farpas e Lampejos regeneradores, Editorial Através, 2024; ou tojos e flores se me permitem a transliteraçom. Tojos para os adversários, flores para os partidários.
Um autêntico regalo à inteligência filológica apto para todos, um exercício de prática lingüística quotidiana que conviria adoptar como acontece com o todopoderoso espanhol, através dos excelentes comentários de Alex Grijelmo em El País na série La punta de lengua, umha goçosa galeria de apontamentos lingüísticos na esteira de El dardo en la palabra que recolhia os artigos jornalísticos do filólogo Fernando Lázaro Carreter entre os anos 1975 e 1996. Nada temos parecido na Galiza onde o nosso idioma nom tem merecido atençom jornalística especializada. Umha prova mais da desatençom polas particularidades e giros estilísticos que o galego atesoura.
A excepçom é a série de colaboraçons do professor da Universidade de Vigo Carlos Garrido em Nós Diário desde o ano 2020. Lamentamos que a sua apariçom esteja reservada à versom em papel que limita a sua difusom. O gosto polo nosso idioma através do seu exame crítico é um assunto de singular atractivo imerecidamente descuidado polos meios de comunicaçom.
Considero conveniente referir-me a um conceito que julgo crucial para a estratégia de sobrevivência do nosso maltratado idioma: o de variante galega áurea. O professor reserva este qualificativo a aquelas palavras e expressons supra dialectais no âmbito luso-brasileiro
A recente publicaçom de Farpas e Lampejos é um autêntico agasalho de Natal que recomendo vivamente a todos porque vam com certeza a desfrutar e a aprender. A dupla comdiçom de filólogo e naturalista entusiasta está presente desde a mesma capa do livro que serve para dilucidar de golpe o status do escorna-bois em galego nativo e em galego português. Umha capa tam potente como o texto que guarda.
Este esforço por situar o galego na sua família de pertença é a questom que merece atençom do professor e que nom podemos por menos de agradescer como antídoto eficaz á culpável impregnaçom do nosso idioma polo castelhano com fatais consequências para a sua reabilitaçom e dignificaçom ante o perigo certo do seu definitivo abandono por simples assimilaçom.
Nom é o momento de analisar polo miudo o contido do livro, rico em análise lexical, morfossintática, ortográfica, pragmática e sociolingüística do galego mas considero conveniente referir-me a um conceito que julgo crucial para a estratégia de sobrevivência do nosso maltratado idioma: o de variante galega áurea.
O bisturi do professor desvenda este mecanismo reabilitador, tam adequado para navegar no abismo indiferenciado da dispersom designativa que afoga o galego no pélago indiferenciado do tudo vale
O professor reserva este qualificativo a aquelas palavras e expressons supra dialectais no âmbito luso-brasileiro, o escorna-bois, genuinamente galego, nom mereceria este reconhecimento ainda que sim vaca-loura, pouco usada Galiza com este significado. A importáncia desta qualificaçom é a de combater a ubíqua doença da dispersom designativa, fenómeno derivado da secular ausência de variantes consagradas polo cultivo literário e o uso. Defeito congénito enaltecido a exemplo de riqueza morfológica por aqueles que desconhecem os efeitos deletérios da ausência duma norma culta em galego e o seu abandono nas silveiras silvestres do uso indiscriminado.
O galego contemporáneo oferece seis variantes para o órgao produtor da urina: rem, ril, rile, rilo, rim, rinle, aponta o professor Garrido, a variante áurea é aqui rim supra dialectal em Portugal e Brasil. O bisturi do professor desvenda este mecanismo reabilitador, tam adequado para navegar no abismo indiferenciado da dispersom designativa que afoga o galego no pélago indiferenciado do tudo vale.
A capacidade dialéctica de Carlos Garrido para a ironia e o sarcasmo som esgrimidas com admirável habilidade para desqualificar as posiçons sabichonas e ignaras incapazes de reconhecer os procedimentos e instrumentos de recuperaçom do galego na actual situaçom de extrema prostraçom e abandono secular. Fagam-me caso, regalem-se o livro caso nom o tiverem e observarám o galego de outra maneira, um idioma rico e competitivo, próprio duma sociedade informada e aberta ao mundo.
Notas
1 https://www.elespanol.com/quincemil/opinion/20241116/crise-do-galego-unha-diagnose-compartida/901410098_0.html
2 https://www.laopinioncoruna.es/sociedad/2009/02/09/movilizacion-galicia-bilinguee-desata-batalla-25354296.html
3 https://es.wikipedia.org/wiki/Galicia_Biling%C3%BCe
4 https://gl.wikipedia.org/wiki/Xos%C3%A9_Ram%C3%B3n_Freixeiro_Mato