Dous discursos

Discurso de Felipe VI no III Encontro Luso-Espanhol, celebrado o 30 de setembro en Cascais © Rui Ochoa / Presidência da República

Os discursos aludidos referem-se a dous foros contendentes, divergentes em formatos, em procedência dos intervenientes, em contidos, mas, altamente relevantes ambos para Galiza pola ideologia que projectam

Os discursos aludidos referem-se a dous foros contendentes, divergentes em formatos, em procedência dos intervenientes, em contidos, mas, altamente relevantes ambos para Galiza pola ideologia que projectam. Um deles transmite sem inibiçons a retórica constitucionalista que tenta esquecer o papel central do Título VIII relativo à organizaçom territorial do Estado e, na mesma medida, a incómoda evidência da nossa identidade colectiva singular e permanente no desafinado concerto das identidades hispânicas. O outro, polo contrário, está consagrado a potenciar o histórico nexo hispano português tantas vezes ocultado no paraíso das boas intençons ou mesmo na persistente vergonha da origem. Num e outro discurso a singularidade de Galiza acaba escamoteada na medida em que, para nós, Portugal é um facto substantivo, nunca adjectivo, onde o situa o consenso constitucionalista espanhol habitual

Referimo-nos a dous Foros de projecçom e intençom contraposta. Um deles, “La Toja—Vínculo Atlántico” —despectivamente alheio e desdenhoso da singularidade política galega desde ao próprio enunciado— exibe umha desinibida imagem corporativa —do ramo da gastronomia e a hostelaria, concretamente—tem como sede o sumptuoso Gran Hotel La Toja (1907) e celebra neste ano celebra a sua quinta ediçom1 sob a presidência de Felipe VI. O outro, que comemora em 2023 o terceiro encontro luso-espanhol2, em Cascais sob o alto patrocínio do Presidente da República, amigo notório e manifesto da monarquia espanhola.

Do contido e valores do Foro “La Toja—Vínculo Atlántico” pouco podemos comentar porque é bem conhecido, um magma auto celebratório onde brilham com luz singular os discursos retro constitucionais de Mariano Rajoy e Felipe González empenhados em perpetuar o seu legado imarcescível. 

Em aberto contraste com o entusiasta ruído mediático que sói acompanhar o Foro da Toxa, os Encontros luso-espanhóis, com sólida presença nos meios de comunicaçom portugueses, soem passar desapercebidos em Galiza como sintoma inequívoco da olhada hispano-cêntrica que domina o imaginário galego como inevitável ponto cego. Nom obstante os discursos proferidos em terra portuguesa serem altamente reveladores da substancial identidade cultural galego-portuguesa. O manifesto desinteresse pola temática desenvolvida nos sucessivos encontros luso-espanhóis é prova manifesta da radical alienaçom colectiva em que estamos instalados.

Em aberto contraste com o entusiasta ruído mediático que sói acompanhar o Foro da Toxa, os Encontros luso-espanhóis, com sólida presença nos meios de comunicaçom portugueses, soem passar desapercebidos em Galiza como sintoma inequívoco da olhada hispano-cêntrica que domina o imaginário galego como inevitável ponto cego

Ninguém que olhar com a mínima atençom o debate institucional desenvolvido nos sucessivos encontros luso-espanhóis pode deixar de constatar a sua inegável transcendência e actualidade. Bastem umhas breves notas de passagem para comprovar a centralidade das matérias tratadas, especialmente para um observador galego. 

O primeiro a destacar é o excelente domínio do português de Felipe VI que utiliza com prazer sempre que tem ocasion, umha flagrante diferença com os representantes políticos galegos que denota o desdém por Portugal que impregna a olhada espanhola.

Bom dia, buenos dias comezou a sua intervençom Felipe VI impregnada de piscadelas amistosas ao idioma comum, sem esquecer a referência aos Lusíadas de Camões sobre esta terra onde a terra acaba e o mar começa. Em português referiu-se também ao protagonismo compartido ante os grandes reptos do século XX: E, em relação com a esta última questão, permitam-me recordar que a portuguesa e a espanhola são duas sociedades ligadas por duas línguas que os especialistas definem como “intercomprensíveis” que contam já com 800 milhões de falantes e que são, sem dúvida, uma das nossas forças da nossa coesão no plano internacional. Constataçom pertinente, ausente nas relaçons institucionais galego-portuguesas.

A frase de despedida insiste em destacar a proximidade com a presença comum nos grades reptos do século como a internet, a computaçom quántica, a nanotecnologia ou o recente desenvolvimento da IA. Reitero a minha profunda satisfação por estar hoje presente nesse evento e desejo os maiores êxitos para este e para o próximos encontros luso-espanhóis acertada concretização da nossa identidade fraterna. Muito obrigado, muchas gracias.

Que longe estamos do pacovazquismo que impregna o discurso oficial da política galega: a diferença de abertura das vogais [e, o] abertas e fechadas do nosso sistema fonético, a singularidade dos nosso [n] velar de final de palavra que impedem ligá-los à vocal inicial da palavra seguinte, tam esquiva para os aprendizes desde a fonologia castelhana. Por nom falar da entoaçom da frase que enriquece e singulariza o galego. Umha riqueza conatural e persistente tam difícil de adquirir como impossível de ocultar.

Bem faria o circunstancial líder da direita em aplicar-se ao aprendizado do inglês, um idioma de inúmeros acentos, e render-se à luita inútil de erradicar o seu acento de nascimento, inscrito com tinta indelével nas suas circunvalaçons cerebrais, ou adoptá-lo como sinal de orgulhosa procedência

Quanto esforço ridículo —observem o embaraço de Feijóo para pronunciar com o acento plano dos locutores de rádio e TV— para tentar ocultar a nobre raiz da sua fala nos Peares, no meio da Ribeira Sacra. Inútil empenho, que, igual que os pesares no Album Nós de Castelao, que, por mais que um bebe, as condenadas aboiam.

Bem faria o circunstancial líder da direita em aplicar-se ao aprendizado do inglês, um idioma de inúmeros acentos, e render-se à luita inútil de erradicar o seu acento de nascimento, inscrito com tinta indelével nas suas circunvalaçons cerebrais, ou adoptá-lo como sinal de orgulhosa procedência como os camaradas Juan Manuel Moreno Bonilla e Elías Bendodo Benasayag. Alem do facto de que ter exercido de presidente de Galiza mesmo demandaria respeito por um idioma que só os iletrados julgam signo de indigna procedência. Pesadume habitual do oriundo de qualquer excêntrica colónia.

O Foro da Toxa gosta engalanar-se com a participaçom estelar de excelsas figuras da história política espanhola como Mariano Rajoy e Felipe González; o êxito fica assegurado. Entre A Toxa e Cascais, entre o provincianismo pretensioso e a honesta perspectiva internacional, optamos sem duvidar por Cascais.

 

Notas

1 https://www.casareal.es/ES/Actividades/Paginas/actividades_actividades_detalle.aspx?data=15888

2 https://efe.com/espana/2023-09-30/felipe-vi-rey-foro-cascais/

Núñez Feijóo, durante a última sesión do debate de investidura © Congreso dos Deputados

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