Eleições em Madrid, desde a Galiza

Isabel Díaz Ayuso felicita a Feijóo na súa cuarta investidura o 5 de setembro de 2020 CC-BY-SA Xunta de Galicia

(ler em galego normativa oficial)

Madrid (leia em "madrilenho" Espanha) teve eleições. Umas eleições, conforme fôrom definidas pela direita e como acabou no final, entre a liberdade de "tomar umas cervejas" (1) ou o socialismo de cuidar da saúde numa pandemia. Uma Comunidade que sumou mais horas de bares abertos e de excesso de mortes estatísticas em relação aos anos anteriores, escolheu a primeira.

É preciso dizer também que esta eleição, com um resultado tão claro, foi facilitada por uns meios de comunicação que construírom uma realidade paralela de dados económicos e de saúde, quase sem oposição escrita. Uma realidade paralela (2) que convenceu os já convencidos (a elite madrilena) e a muitas pessoas abafadas pelos graves problemas de saúde e económicos decorrentes de uma crise terminal do sistema económico neoliberal e de uma crise sanitária, ambas as duas graves.

Uma vitória que é a vitória duma direita que tem algumas diferenças substanciais com a direita do resto do PP. Porque Madrid, como bem que nos repete Ayuso, é Espanha, não a capital da Espanha, mas a “Espanha”, a sua essência e a sua materialização à vez, o lugar ao que os melhores espanhóis conseguiram aceder, ainda que inicialmente tivessem o infortúnio de terem nascido em províncias. Graças, claro, ao capitalismo do mérito e ao centralismo ... ao centralismo também de mérito, é claro. Porque há algo melhor para ter éxito na vida, que viver em Madrid, deixar de ser de províncias, um paleto da Coruña, Jaén, Barcelona, ​Teruel ...? (¿ainda existe Teruel?) (3) Existe algo mais legal que ser da elite madrilena, essa classe social tão cheia de magníficas cópias de “assholes” (1) (4) como Aguirre ou a própria Ayuso? (vamos entender a palavra como objeto de análise e debate científico sobre certas formas de ver o mundo, ver referência).

Coido que isso nos dá algumas pistas sobre a vitória do PP de Ayuso. Em primeiro lugar, é o mesmo PP que o de Casado, aquele que queria se desmarcar do abraço de urso de Vox? É o mesmo que o de Feijoo, esse que agora terá de provar que se ele não foi a Madrid não é por serem um fracassado, mas porque ... porque ... ¿Porquê? O que é que a Galiza e o PP da Galiza pintam ante o PP de Madrid-Espanha? Pergunto-mo seriamente, qual é o papel económico da Galiza, ou da região atlântica e/ou a cantábrica da península no esquema Madrid-Espanha? O que se passa, por mencionar algo, com uma energia produzida na Galiza mas consumida, mais barata, nesse "Madrid-Espanha" e sem ter de sofrer as consequências ecológicas e sociais da sua produção, e tendo a sede social da empresa produtora? Ou, para assinalar algo também importante, o que pinta a Galiza perante um PP que defende os "touros" como o máximo legado "cultural" do espírito espanhol para o mundo? (entendendo por espanhóis toda a península agás, pelo menos por agora, Portugal). Parece que como diz Ana Pontón (5) (BNG): “Cada dia fica mais evidente que Madrid não é a solução, faz parte do problema” e isso não facilita o“trabalho” a um PP galego. E algo semelhante poderia-se dizer doutros “PPs”.

Mas numa competição, quando alguém ganha, alguém perde. E quem perdeu em Madrid? Ok, todos nós sabemos, perdeu a esquerda. Claro que Podemos aumentou o número de votos e escanos. E Mas Madrid também, e ainda mais do que Podemos. E que passaria se o PSOE do "homem tranquilo" tivesse mantido os 13 escanos que tinha? Ou pelo menos tivesse obtido a metade dos escanos perdidos pelo Ciudadanos (o mesmo número maldito, 13)? A esquerda sumaría71 cadeiras, sendo 69 a maioria absoluta. A derrota é, claro, da esquerda, mas centra-se no PSOE, um PSOE que jogou justamente para "centrar-se", para ser menos de esquerdas do que já é. Um PSOE que até deixa de ser o mais votado para ser ultrapassado pela "descentrada" Mónica García, de Más Madrid.

Precisamente Mas Madrid é quase o único do bloco da esquerda que tem novas para celebrar e mostra quanto (a meu ver) a clareza importa, começa a importar: Um trabalho sério na Assembleia de Madrid, uma atitude menos radical nas formas, mas mais radical no fundo, sem medo a defender com firmeza propostas como a renda básica do mesmo jeito que a sanidade, a educação, os cuidados ... Suficientes, Universais e Incondicionais.

Porque em tempos de crise sistémica, quando todo um modelo, o neoliberalismo, está a rematar, não há equilíbrio entre mantê-lo a todo custo ou acabar com ele, não se pode defender o centrismo e a equidistância quando se tem que escolher entre os “assholes” de quem falei antes ou as pessoas normais. Se te esforças em ficar calmo, calado, em não te molhar, ninguém acreditará em ti e poucos te votarão. Pela contra, é preciso defender, sem alarde, mas com firmeza, as linhas mestras que vão na direção da mudança. Porque ou há mudança (pacífica, firme, radical no fundo) ou há barbárie. Neste momento, não há meias tintas.

Unidas Podemos também sobe, algo que provavelmente devemos agradecer ao sacrifício pessoal de Pablo Iglesias. São três escanos mais que em 2019, mas o resultado ainda é muito ruim. A consequente renúncia de Iglesias mostra uma grande coerência política e pessoal, honestidade e coragem. Chega ao seu fim uma tentativa de articular o 15M em termos de estruturas organizativas do século XX? Esperemos que Yolanda Díaz, educada nas mesmas estruturas, seja capaz de superá-las.

E, por fim, uma reflexão de Mónica García (6) “Começa a conta para trás das eleições de dentro de dous anos, começo a trabalhar esta noite”.

Porque temos que seguir buscando e alcançando soluções para os graves problemas deste sufocante, decadente e predatório sistema neoliberal.

Porque ao cambio (pacífico, firme, radical no fundo) ainda continua a ser possível e necessário.

 

Ligações

(1) Análisis de Ignacio Escolar, eleccións: https://www.eldiario.es/escolar/victoria-ayuso-revoluciona-tablero-politico-nacional_132_7899800.html?mc_cid=5caee4bc12&mc_eid=63bd7c4f83

(2) Análisis de Iganicio Escolar, as mentiras de Ayuso: (https://www.eldiario.es/escolar/mentiras-ayuso-libertad_132_7880588.html)

(3) Teruel Existe: https://gl.wikipedia.org/wiki/Teruel_Existe

(4) Asshole: A Theory, de Aaron James https://www.casadellibro.com/libro-assholes-a-theory/9780804171359/6793074

(5) Ana Pontón: https://twitter.com/anaponton/status/1389683765811765249?ref_src=twsrc%5Etfw

(6)Mónica García https://praza.gal/politica/o-pp-seguira-gobernando-madrid-reforzado-por-unha-contundente-vitoria-electoral

 

(1)Babecas, em espanhol gilipollas (como termo que define um tipo de personalidade que é objeto de estudo científico)

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