Galiza: estancamento dinámico e um cisne negro

Índice sintético de competitividade rexional (ICREG) © CGE

I Um persistente estancamento dinámico

Estancamento dinámico, assi é, que lhe permite á Galiza ostentar um honroso 9º posto no índice sintético de competitividade regional, ICREG, elaborado polo Conselho Geral de Economistas1

O recente informe do Conselho Geral de economistas sobre a competitividade das CC.AA. dá-nos pé a destacar a resiliência de Galiza perante as turbulências económicas neste tempo de mudanças e incerteza generalizada.

O conceito rector da pesquisa do CGE é o esquivo conceito de competitividade que pretende resumir numa abordagem polivalente a capacidade adaptativa de cada CC.AA. aos desafios económicos presentes.

O Informe da competitividade regional de Espanha 2021 examina as perspectivas pós-pandemia ante os desafios de recuperaçom abertos num entorno de incerteza tam extenso como difícil de predizer. Cara onde imos?

A apresentaçom sintética, oferecida no encabeçado deste artigo, amostra os principais resultados atinentes a Galiza em perspectiva geral.

A primeira conclusom a tirar é que, apesar de ser insatisfatória, a situaçom de Galiza situa-se nesse espaço mesocrático que separa as Comunidades privilegiadas —País Basco e Madrid, seguidos de Catalunha— das preteridas, concentradas nas Comunidades insulares e do Sul.

Principais datos estatísticos correspondentes a Galicia © CGE

Em particular, a Galiza ostenta o posto 9 entre as 17 CC.AA. com uns standards respeito à meia espanhola moderadamente aceitáveis: 5,7% em peso demográfico (100*2.702/47.451), 5,2% em peso económico (100*58.060/1.121.948), 90.9% em PIB por habitante (100*21.489/23.644) e 92,5% em produtividade por ocupado (100*54.050/58.427). A ocupaçom, no entanto, segue sendo-nos umha variável adversa com apenas o 5,6% de percentagem de ocupados em Espanha (100*1.074/19.202), inferior ao nosso peso demográfico, e com certeza a taxa de desemprego sobre populaçom activa, significativamente superior à espanhola: 12,0% contra 15,5% (100*12,0/15,5), 77,42% do standard em vigor em Espanha.

O número de variáveis baralhadas para cifrar um conceito tam escorregadiço com é a competitividade de umha economia nas suas múltiplas facetas é generoso, para que nada relevante se escape. Nada menos que 53 que cobrem campos tam heterogéneos como entorno institucional, capital humano, infra-estruturas, eficiência empresarial mercado de trabalho e inovaçom. Com a série de 53 variáveis se elaborou-se o ranking actual, referido ao 2020.

Vista a capacidade selectiva do procedimento, o 9º posto entre 17 atribuído a Galiza pode julgar-se satisfatória. E mesmo a resistência ao deterioro constatada.

II Um cisne negro levanta o voo

O estado de estancamento dinámico que couta a nossa economia e impossibilita de avanço pugna por perpetuarse-se e de facto só poderia superar-se mediante um choque externo de magnitude e suficiente como a de alterar os fundamentos macroeconómicos e a estrutura produtiva actual da nossa economia no contexto espanhol. Por enquanto resistimos num apreciável noveno posto da sequência autonómica, com Inditex, Stellantis Vigo e a Refinaria de Repsol Corunha como sólidos pilares do comércio exterior.

O choque inovador preciso para alterar a nossa posiçom emergiu inesperadamente onde menos o podíamos esperar: a escolha do Porto de Ponta Lagosteira da Corunha, auxiliar como é sabido do complexo petroleiro de Repsol Corunha (1961), como porto de referência pola segunda empresa mundial de transporte marítimo, Maersk. Maersk, convém lembrar, ostenta este liderado ex aequo com a suíça Mediterranean Shipping Company (MSC) por umha leve diferença de actividade de apenas 1.888 contentores Teus de 20 pés; standard, como sabemos, no transporte marítimo mundial. Dous gigantes europeus em qualquer caso.

Com a inesperada escolha, o gigante danês Maerks (1912) destapou de repente a centralidade económica de duas Comunidades espanholas condenadas a excentricidade insuperável, a andaluza e a galega. O talismã do prodígio foi o dom que passava desapercebido de contarem ambas Comunidades com recursos primordiais para a grande transformaçom da economia mundial em curso conhecida em Europa como Next Generation. Mais em particular, a série de projectos estratégicos seleccionados para articular o processo a recuperaçom e transformaçom económica (PERTE)2, aprovado em sucessivos Conselho de Ministros em 2021-2022. Os sectores seleccionados requerem atençom prioritária, solidez e capacidade para poderem ser acometidos com agilidade. Todo um repto para as Administraçons territoriais implicadas.

O horizonte de oportunidades revelado de repente pola singular opçom de Maerks insire de golpe o sistema portuário galego ao processo Next Generation. O elemento decisivo desta escolha foi a disponibilidade de Galiza para o subministro de energia barata e, consequente, para a potencialidade do sector electroquímico conexo com este recurso estratégico.

Variacións no ICREG © CGE

O menu produtivo que agora se abre à economia galega é extraordinariamente extenso e prometedor, a começar polo subministro de hidrogénio verde, metanol e derivados orgânicos resultantes. A tal fim, já foi rubricado um acordo entre o Governo espanhol e Maersk com Andaluzia e Galiza em qualidade de sócios protagonistas. Maerks cifra o seu objectivo em alcançar um subministro de metanol verde suficiente para alimentar a sua frota no horizonte 2040 mediante a produçom de dous milhons de toneladas do combustível verde. Os planos em curso ajustam-se à perfeiçom à aspiraçom do Governo a liderar, junto com Portugal, um nodo pioneiro na revoluçom energética da Uniom Europeia. A pugna interna sem quartel do sector energético e a iniciativa privada por promover os necessários parques eólicos provocou decontado a inevitável reacçom defensiva por parte das comunidades proprietárias dos montes ameaçados e da cidadania comprometida com o meio natural e ADEGA com o apoio técnico do Observatório Eólico de Galiza, OEGA, nascido em 2019 como fruto de la colaboraçom da Fundaçom Juana de Vega, a Fundaçom Isla Couto e a Universidade de Vigo. O baptismo político da mobilizaçom antieólica tivo lugar em Compostela com a manifestaçom conjunta de duzentas plataformas ambientalistas na comemoraçom do Dia Mundial do Meio Ambiente no passado mês de Junho. Entretanto, as grandes energéticas preparam o próximo assalto com os parques eólicos marinhos a instalar na costa de Ortegal ou em volta do Cabo Silheiro e a costa de Baiona. Trata-se agora de poderosas torres de 230 metros de rotor —três vezes a altura quase das torres da Catedral de Santiago— e quase 0,5 Gigawatt de potência que pode ser umha oportunidade para confirmar o papel rector de Astano como fornecedor de megaestruturas marinhas a um tempo que um ominoso desafio ao tráfico litoral e à actividade pesqueira. As externalidades inerentes à actividade industrial, esse gravame colectivo tantas vezes ocultado se agudizam.

As posiçons encontradas de ambientalistas e partidários do desenvolvimento eólico auguram um duro processo negociador com as instituiçons públicas inequivocamente alinhadas a favor dos interesses energéticos e o imperativo económico.

Como quer que suceda, a revoluçom Maersk está em marcha com beneplácito político previsivelmente unânime. O facto de Maerks eleger o Porto Exterior da Corunha para produzir hidrogénio verde e bioetanol abre umha via áurea para o desenvolvimento da química verde galega, decisiva para o nosso futuro industrial.

A produçom de hidrogénio verde, amoníaco, etanol e os produtos de síntese orgânica concomitantes já em marcha anunciam um programa irrenunciável para transitar pola árdua agenda climática.

Umha enumeraçom provisória dos projectos mais maduros compreende a produçom de hidrogénio verde mediante a aliança Reganosa-EDP e desenvolver n´As Pontes com 156 M€ orçamentados. Ou a instalaçom projectada por Forestal del Atántico em Mugardos (131 M€). A produçom de biometanol verde, primeiro elo da inerminável cadeia da química verde, é a proposta de Iberdrola e Foresa a instalar em Begonte (500 M€) e Caldas de Reis (40 M€).

O amoníaco verde é o objectivo industrial de Armonía Green Galicia que o grupo investidor andaluz Ignis3 pretende instalar também no Porto Exterior corunhês (383 M€).

Fai-se difícil acreditar neste tsunami de expectativas que evocam o gold rush californiano de 1848-1855 protagonizado desta vez nom por intrépidos aventureiros senom por circunspectos grupos empresariais, autóctones e forâneos, orientados polo lucro em perspectiva.

A base económica e a tecnologia dos processos de síntese orgânica som bem conhecidos; a energia eléctrica requerida acumula-se agora na multitude de solicitudes pendentes de autorizaçom pola Junta de Galiza.

A perspectiva aberta a unha transformaçom radical da base produtiva da economia galega em perspectva verde peta na porta do futuro algo difusa ainda mas em absoluto utópica. O cepticismo galego, sedimentado por séculos de esperanças falidas e transformaçons adaptativas a impulso de outrem parece ter chegado a um ponto de inflexom histórico que nada fazia pressagiar mas que por vezes se materializa. Custa trabalho imaginar-nos em papel protagonista, mas bom, algum dia teria que ser que a Roda da Fortuna, décimo Arcano Maior do Tarô decidisse parar em Galiza, naçom nascida do milagre que reverbera em Compostela.

Afinal, a teoria do cisne negro, evocado polo filósofo libanês Nassim Taleb4 nasceu para fazer aceitável a emergência de acontecimentos com efeitos inesperados.

 

Notas

1 https://economistas.es/Contenido/Consejo/Estudios%20y%20trabajos/ICREG-Web1612.pdf

2 https://planderecuperacion.gob.es/como-acceder-a-los-fondos/pertes

3 https://www.aeh2.org/socios/ignis-energia/

4 https://es.wikipedia.org/wiki/Teor%C3%ADa_del_cisne_negro

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