Galiza: o interminável processo de revoluçom passiva, do fim do campesinado à internacionalizaçom comercial

Tecido comercial contínuo Dominio Público Pixabay

A revoluçom passiva é um conceito desenvolvido nos Cadernos do Cárcere para aludir à adaptaçom de sociedades atrasadas incapazes de desenvolver projectos autónomos, em contraste com sociedades aptas para desenvolver projectos próprios. É o caso da Galiza em flagrante contraste com Catalunha e o País Basco. Os movimentos políticos autónomos gerados nestas três naçons culturais reflectem bem em cada caso o desequilíbrio entre aspiraçons e limitaçons operantes –desejos e realidades—em cada caso que determinárom o curso histórico dos respectivos nacionalismos.

A revoluçom passiva é um conceito desenvolvido nos Cadernos do Cárcere para aludir à adaptaçom de sociedades atrasadas incapazes de desenvolver projectos autónomos, em contraste com sociedades aptas para desenvolver projectos próprios. É o caso da Galiza em flagrante contraste com Catalunha e o País Basco

A história económica e social da Galiza contemporánea pode resumir-se em dous cenários consecutivos; a liquidaçom da economia rural presidida polo princípio de auto-suficiência familiar e a acelerada internacionalizaçom que liquidou a autarquia franquista (1937-1957) e a substituiu em forma acelerada pola tecnocracia tardo-franquista que protagonizou o Plano de Estabilización de 1959 e os sucessivos Planos de Desenvolvimento —1964-1967, 1968-1971 e 1972-1975— vítimas afinal da crise petroleira desencadeada em 1973 que sacudiu o mundo e revelando a radical dependência dos recursos energéticos mundiais. O petróleo ia ser já em diante a variável imprescindível da política, a sua autêntica gramática.

A estratégia adaptativa de Galiza ao colapso da economia de subsistência primeiro e á imparável internacionalizaçom económica depois é um caso insólito de capacidade adaptativa. Uma autêntica revoluçom passiva que transformou a nossa economia e sociedade.

A estratégia adaptativa de Galiza ao colapso da economia de subsistência primeiro e á imparável internacionalizaçom económica depois é um caso insólito de capacidade adaptativa. Uma autêntica revoluçom passiva que transformou a nossa economia e sociedade

O facto talvez mais revelador è o do estancamento demográfico secular de Galiza na constituiçom da Espanha contemporánea . Entre 1960 e 2020 a populaçom espanhola saltou de 30.582.936 a 47.431.256, um incremento de 16.848.320 que se concentrou em apenas cinco Comunidades autónomas, Andaluzia (2.566.865 que absorveu 17,8% do crescimento), Catalunha (3.852.583 que absorveu 16,4% do mesmo), Madrid (4.172.128, 14,3%) e Valência (2.573.917, 10,7%). As cinco Comunidades fixárom conjuntamente 8.993.365 novos habitantes, 53,4% do total. A Galiza com um exíguo crescimento de 97.306 habitantes entre 1960 e 2020 confirmava esse estancamento adaptativo próprio das sociedades submetidas a processos de revoluçom passiva de mudança sem crescimento.

A transformaçom experimentada no entanto pode ser qualificada de espectacular, nesse lapso temporal, Galiza superou o regime secular de economia familiar de auto-suficiência e acometeu um sólido modelo de internacionalizaçom comercial que tem o seu paradigma em grupos competitivos como Stellantis Vigo (1958) e Inditex Arteixo (Zara, 1975). Dous casos portentosos de êxito numha economia excêntrica aos mercados comunitários centrais.

Galiza superou o regime secular de economia familiar de auto-suficiência e acometeu um sólido modelo de internacionalizaçom comercial ©

Queremos prestar atençom à notável presença alcançada por Galiza nos mercados comerciais internacionais apesar da sua marcada excentricidade e discreta dimensom económica.

Galiza superou o regime secular de economia familiar de auto-suficiência e acometeu um sólido modelo de internacionalizaçom comercial que tem o seu paradigma em grupos competitivos como Stellantis Vigo (1958) e Inditex Arteixo (Zara, 1975)

Em perspectiva autonómica, a actividade exportadora galega sobre PIB é superada apenas polas cinco Comunidades hegemónicas —Catalunha, Madrid, Andaluzia, Valência— mais o País Basco, neste caso por estreita margem. O informe do Instituto Español de Comercio Exterior, ICEX, relativo a 2021 confirma a Galiza como sexta Comunidade exportadora só superada por Catalunha (25,44%), Madrid (12,59%), Andaluzia (10,91%) e Valência (10,24%), que somam conjuntamente 59,18% das exportaçons que salta aos 2/3 (67,29%) se lhe somamos o País Basco (8,11%). O resultado é notável tendo em conta que as doze Comunidades restantes ontribuem com o 24,73% às exportaçons espanholas e que mais destacada, Castela e Leom, com peso demográfico e PIB semelhante a Galiza, só contribui com 4,69%.

Outro facto que demonstra o bom desempenho na actividade comercial externa da economia galega é o facto de ostentar saldo comerciais —exportaçons menos importaçons— positivos: 5.154,01 M€ em 2021. Um comportamento que dista de ser comum. Nesse mesmo ano, incorriam em flagrantes saldos negativos o conjunto de Espanha (-26.177,92), Catalunha (-9.890,24) por nom aludir a Madrid (-41.702,11) vítima da voracidade centrípeta. O País Basco acompanhava a Galiza no virtuoso saldo comercial positivo: 4.609,06 M€. 

Nom estará de mais sublinhar a importáncia de exibirmos um saldo comercial de signo positivo. A contabilidade macroeconómica estabelece que a magnitude do PIB coincide com a soma do Consumo (público e privado) mais o Investimento (em maquinária e existências) mais o Saldo Comercial com o exterior: PIB = C + I + (X-M). O PIB de Galiza —59.105 M€ em 20201— deve-lhe mais de 5.000 M€ ao seu saldo comercial positivo com o exterior.

Quanto à geografia dos nossos trocos comerciais internacionais, o traço fundamental que a define é o facto de Europa constituir de longe o nosso parceiro insubstituível

Para caracterizar adequadamente e nossa actividade comercial externa, resulta indispensável examinar dous aspectos, a geografia dos nossos parceiros e o carácter das mercadorias objecto de transacçom. 

Quanto à geografia dos nossos trocos comerciais internacionais, o traço fundamental que a define é o facto de Europa constituir de longe o nosso parceiro insubstituível. À Europa dirigimos 80,64% das nossas exportaçons (61,72% á Zona Euro). França (20,60%) em particular e Portugal (12,86%) fôrom os nossos seareiros de referência em 2021 seguidos de Itália (9,65%) e Alemanha (5,31%). Europa, matriz política e económica de referência para todos os europeus segue concitando no entanto umha notável genreira entre nós nos círculos nacionalistas. Os caducos fantasmas da guerra fria e dos movimentos de descolonizaçom prevalecem sobre o magistério de Castelao e a sua geraçom, a saber por quê.

Quê exportamos? O ICEX 2021 analisa a composiçom do fluxo exportador. Os bens de consumo (25,48%) —nomeadamente a confecçom (22,80%)— e o sector do automóvel (23,10%) concentram conjuntamente do 48,58% das exportaçons, com Inditex e Stellantis Vigo de protagonistas. Segue-lhe a tríade das semimanufacturas (14,59%) —metais, produtos químicos, materiais de construçom— os alimentos (13,13%) —nomeadamente a pesca (9,54%)— e os bens de equipamento (12,51%) —nomeadamente material de transporte (7,14%)— responsáveis de um 40,23% adicional, totalizando conjuntamente 88,81% dos 25.269,60 M€ exportados em 2021. Produtos todos eles de economias modernas. Cremos pertinente destacar o impacto de Inditex que comercializa desenho e excelência logística acompanhada de umha nuvem de empresas colaboradoras como activo empresarial de futuro.

A alegada excentricidade do país, tantas vezes esgrimida como desvantagem insuperável, revelou-se falsa. Firmemente ancorada na economia comunitária, a Galiza avança com firmeza pola senda da competitividade. O resultado nada tem de predizíveis os lúgubres rust belts e as cidades excluídas do progresso económico por terem perdido a senda tecnológica ou a centralidade aí estám

O fluxo importador, 20.115,59 M€, está muito mais polarizado, encabeçado polo sector do automóvel (25,70% do total) e os alimentos (19,52%), que junto com as semimanufacturas (14,09%) e os produtos energéticos (13,13%) —principalmente petróleo, e derivados (12,62%)— concentram 72,44% do total.

Apontemos um traço fundamental da balança comercial, os principais rubros exportadores estám intimamente correlacionados com os importadores. É manifesto no caso de Inditex, Stellantis e a Refinaria de Repsol Corunha, agentes essenciais no seu fluxo particular exportador e importador. 

Sólida balança comercial com destacado contributo exportador à economia espanhola, aonde se encaminha a nossa economia? O actual quadro de expectativas aponta a umha ambiciosa renovaçom da nossa base industrial a impulso da nossa potente oferta energética renovável e ao inovador catálogo potencial de produtos verdes de síntese.

A alegada excentricidade do país, tantas vezes esgrimida como desvantagem insuperável, revelou-se falsa. Firmemente ancorada na economia comunitária, a Galiza avança com firmeza pola senda da competitividade. O resultado nada tem de predizíveis os lúgubres rust belts e as cidades excluídas do progresso económico por terem perdido a senda tecnológica ou a centralidade aí estám.

 

Notas

1 https://datosmacro.expansion.com/ccaa/galicia

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