Gente e paisagem ante a Galiza minguante

Vista parcial de Vigo CC-BY-SA Merixo

A paisagem galega é a grande obra-prima do povo galego. A prova manifesta da secular interacçom entre a terra e os seus habitantes. Na Galiza, cada recanto tem o seu nome num autêntico delírio onomástico. O geógrafo e o economista, interpretarám a sumptuosa manta multicolor que cobre o país como signo inequívoco do diálogo ininterrompido de gente e paisagem para assegurar a abastança alimentária. Umha potente interface entre a natureza e a necessidade humana levantada por um povo laborioso e prolífico.

Esse manto produtivo que cobre o país tem o seu nome próprio: policultivo de subsistência, um potente mecanismo adaptativo descrito com agudeza polo geógrafo valhisoletano Jesús García Fernández (1928-2006). O sistema alcançou o seu apogeu no século XVIII num país submetido ao foro mas também comprometido com a inovaçom produtiva — milho e pataca; roças, barbeitos e cultivos em socalco) para dar de comer a umha sociedade austera e laboriosa. Policultivo de subsistência é a brilhante equaçom entre demografia e agronomia com a emigraçom como parâmetro de ajuste. Um monumento à soberania alimentar.

O primeiro censo moderno de Espanha, elaborado em 1857, registava 15.464.340 habitantes no país com 1.776.879 em Galiza (11,5%) e 1.652.291 (10,7%) em Catalunha. A Comunidade Basca, com 413.470 habitantes (2,7% do total) tinha menos povoaçom que qualquer província galega exceptuada Ourense. Galiza 1857: Rosalia era daquela umha mocinha de vinte anos que já publicara o seu primeiro poemário.

A metade da populaçom galega é já definitivamente urbana. Os labregos e marinheiros, elevados a categoria antropológica intemporal até há bem pouco tornárom definitivamente em simples agentes económicos da cadeia de valor alimentar

A ruralidade constitutiva de Galiza reflecte-se na densa malha de aldeias, vilas e cidades que cobre o território. Em 1860 viviam nas sete cidades galegas — as quatro capitais mais Ferrol, Santiago e Vigo —122.400 habitantes, 6,8% apenas da populaçom galega. A Corunha contava na altura 27.500 residentes, Vigo nom passava de 11.000. Em 1900, a populaçom conjunta das sete urbes rectoras nom superava ainda os 131.000 habitantes. Em 1940 somavam já 260.600 residentes (10,4% do total); em 1981739.000: 26,8%. Em 2013, os sete municípios urbanos acolhiam 997.839 habitantes (36,3%) e chegavam a 1.342.361 (48,8% da povoaçom total) se lhes acrescentarmos os 11 municípios mais populosos fora das sete urbes capitais. Referimo-nos a vilas que registam entre 25.000 e 40.000 residentes: Narom, Oleiros, Arteijo, Ames, Culheredo. A metade da populaçom galega é já definitivamente urbana. Os labregos e marinheiros, elevados a categoria antropológica intemporal até há bem pouco tornárom definitivamente em simples agentes económicos da cadeia de valor alimentar.

O delicado equilíbrio do policultivo de subsistência quebrou irremissivelmente com a modernizaçom económica. Entre 1860 e 1936, 1.775.000 galegos emigrárom a além-mar, justo a magnitude da populaçom de Galiza em 1857. Rosalia levantou acta da esgaçadura na consciência das viúvas de vivos e mortos que ninguém iria consolar.

Na actualidade somos 2,7 milhons de galegos, em descenso irremediável. As projecçons demográficas debuxam no horizonte 2050 com 1,7 milhons de habitantes por colapso vegetativo e incapacidade para captar fluxos de imigraçom. É a Galiza minguante em demografia e peso eleitoral, 5,7% da populaçom espanhola, em aberto contraste com Andaluzia (17,9% da populaçom), Catalunha (13,3%) e Madrid (14,2%) que concentram conjuntamente quase a metade da populaçom espanhola e dos titulares dos meios de comunicaçom. Em 2018 nacérom 32.402 galegos e morrérom 16.563: saldo vegetativo, -15.839. Desde 1988 a Galiza véu registando saldos vegetativos negativos sistemáticos: 270.000 acumulados em 30 anos, mais do que a gente que vive hoje na Corunha e município.

A imagem de umha Galiza litoral, próspera e conectada rodeada por 4/5 partes do território com ocupaçom rarefacta e minguante é já umha realidade

A imagem de umha Galiza litoral, próspera e conectada rodeada por 4/5 partes do território com ocupaçom rarefacta e minguante é já umha realidade. Horizonte inevitável ou ainda reversível a impulso da nova consciência ecológica e a decisom política? De estamos instalados num modelo dual de umha rede urbana interconectada e digitalizada incrustada num território em despovoamento acelerado.

Para descrever o mapa demográfico de Galiza, os demógrafos decidírom segmentar o território em três zonas tipo segundo a densidade de povoaçom: Zonas Densamente Povoadas, (ZDP: densidade superior a 500 hab/km2 com presença de algum núcleo próximo nom inferior aos 50.000 habitantes), Zonas Intermédias (ZIP: densidade superior a 100 hab/km2 com um núcleo de 50.000 habitantes como mínimo) e, finalmente, as Zonas Pouco Povoadas (ZPP). Dentro de cada categoria ainda é possível graduar a intensidade da ocupaçom em alta, meia e baixa.

Em 2009, dos 315 Concelhos existentes na Galiza apenas 10 alcançavam a categoria ZDP: 2,2% do território (637,4 Km2) e 33,7 % da povoaçom (941.154 habitantes). Vinham logo após 61 municípios ZIP: 10,8% do território (3.185, 4 Km2) e 32,5 % da povoaçom (909.691 habitantes). O resto ocupa-o os 244 municípios ZPP: 87,1% da superfície (25.729,8 Km2) e 33,8% da povoaçom (945.244 habitantes).

Grao de urbanizaçom dos Concelhos, 2016 (GU 2016) © IGE

O Padrom Contínuo do INE de 2018 confirma a singularidade do povoamento disperso que nos caracteriza e remonta ao Paroquiale Suevorum de Teodomiro, século VI. A partir dos 313 municípios de Galiza (3,9% apenas dos 8.124 contabilizados em Espanha), o INE procede a classificar as entidades de povoamento em quatro categorias: colectivas, singulares, nucleares e disseminadas. Em todas elas, o peso percentual de Galiza resulta desmesurado: entidades colectivas, 3.771 (76,8%); singulares, 30.347 (49,1%); núcleos, 10.400 (27,8%); disseminadas, 20.711 (50,9%). Em conjunto, a Galiza concentra 45% das entidades de povoaçom existentes em Espanha com apenas 5,7% da povoaçom. Bom argumento para equacionar serviço público e financiamento orçamentário.

O porco-bravo, o javali, o urso mesmo vam voltando aos velhos caminhos sem gente que levam a nengures

Entramos agora no Nomenclátor Estatístico de Galicia, 2019, teclamos núcleos disseminados com menos de 3 habitantes; saem 4.384: aldeias sem gente ou com um ou dous habitantes residuais.

Examinamos depois a densidade demográfica municipal que alcança o seu máximo na Corunha, 6.408,7 hab./Km2. No extremo contrário procuramos os municípios com menos de 10 hab./Km2, saem 25, todos eles na montanha luguesa e ourensã. Deles, os três mais vazios caem em Ourense: Vilarinho de Conso, A Veiga, Chandreja de Queixa, A Veiga com apenas 3 hab./Km2. O porco-bravo, o javali, o urso mesmo vam voltando aos velhos caminhos sem gente que levam a nengures.

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