Geografia do desamparo: medir as necessidades básicas num mundo de desigualdades

IDH versus PIB per capita em paridade de poder de compra CC-BY-NC-SA Joám Lopes Facal

Atender as necessidades básicas da gente deveria ser o objectivo prioritário de todo sistema político decente embora, o crescimento económico e a reduçom da dêveda sejam as prioridades habituais. Como bem sabemos, a luita contra a pobreza e as carências sociais é relegada com frequência ao cuidado de entidades benéficas dedicadas a remediar os buracos dos três pilares do Estado de bem-estar: sanidade, educaçom e um sistema protector de pensons e ajudas familiares para conjurar o risco de pobreza. Estas necessidades podem ser qualificadas de básicas ou elementares. Se a sua cobertura é insatisfatória ainda em Espanha é fácil imaginar o seu nível na interminável série de países de economia precária e governos incapazes e corruptos que proliferam mundo adiante. 

O cuidado das necessidades humanas básicas num mundo progressivamente interdependente é um assunto de interesse mundial que fraguou no denominado Índice de Desenvolvimento Humano, IDH, arquitectado para examinar o mundo desde esta perspectiva. A origem do índice remonta-se ao Programa das Naçons Unidas para o Desenvolvimento de 1990 que decide adoptá-lo como indicador universal representativo por mais que a sua origem cabe retrotrai-la aos anos trinta do século XX com a proposta de Simon Kuznets de elevar o PIB por habitante a índice comparativo idóneo para medir o nível bem-estar apesar do deficiente desenvolvimento da contabilidade e as estatísticas macroeconómicas naquela altura.

O PIB em dólares por habitante nom tardou em ser aperfeiçoado para incorporar-lhe a capacidade efectiva de compra do dólar em cada país, que é o conceito realmente relevante para medir o nível de prosperidade. Foi assi como nasceu o PIB por habitante corrigido por paridade de poder aquisitivo, PIB ppa, habitual nos nossos dias. Corrigir os dólares por habitante atribuídos a cada país segundo a taxa de cámbio em vigor para revelar a sua capacidade efectiva de compra, foi um passo decisivo para consagrar o PIB como magnitude central na medida do grau de bem-estar.

O PIB ppa, tem ganhado geral aceitaçom como indicador idóneo para comparaçons internacionais de bem-estar entre países por dissimiles que eles sejam. A criatividade analítica nom tardou em identificar umha versom simples e irónica desta magnitude no denominado padrom hamburguesa em engraçada alusom ao padrom ouro que a Primeira Guerra Mundial iria enterrar definitivamente. A lógica do nutritivo padrom é irreprochável. Além do facto de o Mac Donalds Big-Mac ser um produto uniforme a escala mundial, a famosa hamburguesa condensa no seu preço final o custo dos seus ingredientes e mao de obra em moeda local, imediatamente traduzível a dólares sem mais que aplicar a taxa de cámbio em vigor. Em forma imediata obtemos o valor efectivo do dólar através de um produto bem definido a escala internacional. A solidez do procedimento vem confirmada polo facto de a revista britânica The Economist dar conta periódica do alimentício padrom num dilatado conjunto de países. É a partir de umha metodologia semelhante —comparar o preço em dólares de um determinado cesto de produtos básicos nos diferentes países — como se elabora-se o índice de poder de compra nos diferentes países1

Na ediçom de 2021, o ranking hamburguesa de The Economist vinha encabeçado por Suiça com 7,29 $ por unidade de Big-Mac e rematado com 1,77 $ que valia no Líbano. O dólar quadruplica pois o seu valor de compra entre o Líbano e Suíça. Convido os leitores curiosos a consultarem o ilustrativo ranking2. A estreita correlaçom entre nível de ingressos por habitante e IDH é manifesta: por regra geral, os países mais ricos gozam de melhores serviços públicos; e também de hamburguesas mais caras.

Dito seja de passagem, o índice hamburguesa supom umha imerecida homenagem a um deplorável ícone universal da comida-lixo, similar de certa maneira á popularidade da horrenda boneca barbie, aos fugazes heróis do calendário futeboleiro internacional ou ás inevitáveis pipocas de companhia para visionar filmes e jogos aditivos no universo da cultura digital massificada.

Os dados mais recentes do diagrama Gapminder que encabeça este artigo: [PIB em $ ppa/habitante ↔ IDH], correspondem ao ano 2015 e o tamanho dos globos representa a populaçom de cada país, onde destacam a Índia e a China como capeons demográficos indiscutíveis. Dispomos agora de dados actualizados ao 2019 procedentes do informe IDH 2020 do PNUD3. Podemos comprovar como Noruega encabeça o valor do IDH mundial com [66.494 $ ppa/habitante; IDH 0,957] e a Republica Centro Africana, [993 $/habitante; 0,397] e o Níger [1.201 $/habitante; 0,394] cerram o ranking.

É oportuno lembrar que o valor do IDH pondera três necessidades básicas: umha vida dilatada e saudável objectivada na esperança de vida ao nascer; a garantia pública do acesso á educaçom, que combina os anos de escolarizaçom em vigor com a sua duraçom efectiva, e por fim, o nível de vida imperante traduzido no PIB ppa por habitante. Este índice sintético tridimensional normaliza-se depois ao intervalo [0,1] partindo da média geométrica das suas três magnitudes4 constitutivas. A magnitude IDH permite segmentar o conjunto dos países em quatro categorias: países de mui alto desenvolvimento (IDH > 0,8), de desenvolvimento alto (IDH entre 0,80 e 0,70), de desenvolvimento meio (IDH entre 0,70 e 0,55) e de desenvolvimento baixo (IDH < 0,55) que podemos visualizar5 e examinar a vontade6.

O primeiro grupo fica delimitado por Noruega no topo [66.494; 0,957] e as paradisíacas Ilhas Maurício [25.266; 0,804] na base; o segundo é encabeçado pola acolhedoras Ilhas Seicheles [26.903; 0,796] —com IDH ligeiramente superior ao de Cuba— e remata no Gabom [13.930; 0,703], com IDH algo inferior ao de Egipto. O terceiro grupo, países de desenvolvimento meio, é encabeçado por Quirguistám [4.864; 0,697]—com IDH similar ao de Marrocos— e remata nas Ilhas Comores [3.099; 0,554], com IDH algo inferior ao de Paquistam. O tramo final dos países menos desenvolvidos começa em Mauritánia [5.135; 0,546] e remata no Níger [1.201; 0,394]. O PIB ppa em $ por habitante corresponde a 2017 e o IDH a 2019 como já apontámos.

É relevante traduzir os resultados a cifras de bem-estar tangíveis. A escala mundial IDH vai dos 82,4 anos de esperança de vida com 18,1 anos de escolaridade legal e 12,9 efectiva ostentados por Noruega (66.494 $ ppa/habitante) até os 62,4 de esperança de vida com 6,5 de escolaridade esperada e 2,1 efectiva de Nigéria (1.201 $ ppa/habitante). Entre ambos extremos desfila o resto dos países numha escala descendente em que desaparecem 40 anos de expectativa de vida e quase 11 de escolaridade. Um abismo.

A analítica IDH permite desvendar o fosso que separa umha ditadura cleptocrática e tribal de umha ditadura burocrática adepta a arcaicas ortodoxias igualitárias condenadas pola história

A escala de renda percebida e standards de cobertura social garantida suscita umha interessante questom, esta é a da brecha existente na classificaçom de ambas magnitudes. A análise desta brecha revela em que medida os países priorizam a atençom social sobre o resto das abrigas orçamentárias como as infra-estruturas e outras mais inconfessáveis como o armamento ou a simples rapina da oligarquia que detêm o poder. A ínfima qualidade democrática da maioria dos países submetidos á pobreza converte estes comportamentos de coerçom armada contra o povo em prática habitual.

A forma mais simples de evidenciar o mencionada brecha entre riqueza meia e bem-estar social correspondente é comparar o lugar ocupado por um e outro no ranking mundial. O resultado é altamente revelador ainda que a ninguém poderá surpreender. O topo da brecha em prioridade dos serviços públicos é ocupado por Cuba, [8.621; 0,783], no fundo da sua preteriçom a infortunada república da Guiné Equatorial [13.944; 0,582]. A diferença de posiçons no rankins mundial do PIB ppa por habitante e o IDH tem no primeiro caso signo positivo: 115-70 = +45; no caso da Guiné flagrantemente negativo: 88-145 = -57.

De nada lhe vale ao povo guineano o seu petróleo e o facto de ocupar o destacado posto 88 entre 189 países no ranking mundial de riqueza per capita quando é submetido polo seu governo a um nível de serviços sociais similar ao de Zámbia ou Nepal enquanto Cuba equipara o nível dos seus serviços sociais ao das Ilhas Seicheles e mesmo supera México com nível de renda muito superior. A analítica IDH permite desvendar o fosso que separa umha ditadura cleptocrática e tribal de umha ditadura burocrática adepta a arcaicas ortodoxias igualitárias condenadas pola história.

Concluímos este breve percurso pola economia mundial do bem-estar convidado os leitores interessados a consultarem o ranking mundial do IDH 2019 no site Datosmacro7 do diário económico Expansión que, além de oferecer um ilustrativo mapa mundial de IDH, proporciona séries adicionais de grande interesse sobre movimentos migratórios, nível de fecundidade, natalidade, mortalidade e esperança de vida, entre outros, de marcada utilidade para explorar o estranho mundo da opulência e a desventura em que vivemos.

1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_pa%C3%ADses_por_PIB_(Paridade_do_Poder_de_Compra)_per_capita

2 https://es.statista.com/estadisticas/635750/indice-big-mac-precios-mundiales-de-una-hamburguesa-big-mac-en/

3 http://hdr.undp.org/en/content/download-data

4 Os interessados na sua metodologia podem consultar: https://economipedia.com/guia/guia-para-calcular-e-interpretar-el-idh.html.

5 http://hdr.undp.org/en/composite/HDI

6 Human Development Report 2020, PNUD: http://hdr.undp.org/en/content/download-data

7 https://datosmacro.expansion.com/idh

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