Inverno demográfico ao tempero do Atlántico

Evolución do saldo vexetativo en Galicia 1975-2022 ©

Em 1986 Galiza registava o primeiro saldo negativo entre nascimentos e falecimentos e começava o declive demográfico acelerado do país

Em 1986 Galiza registava o primeiro saldo negativo entre nascimentos e falecimentos e começava o declive demográfico acelerado do país. Em 1987 observou-se ainda um resultado anómalo que parecia contradizer esta tendência, 25.824 nascimentos frente a 25.480 falecimentos com um saldo vegetativo positivo de 344. O lento progresso dos nascimentos e a aceleraçom dos falecimentos debuxam em adiante o rápido abatimento do saldo vegetativo com algumha pausa circunstancial. A base demográfica de Galiza esmorece como podemos visualizar no diagrama de cabeceira procedente do IGE1.

É pertinente enquadrar o processo de deterioro demográfico observado em perspectiva histórica para completar o cenário observado, 1975-2022.

O informe da Fundaçom BBVA2 La población en España: 1900-2009 oferece-nos o quadro interpretativo da nossa evoluçom demográfica em perspectiva secular. Nele podemos verificar que a populaçom espanhola experimentou umha profunda transformaçom durante esse século comprido desde os 18,8 milhons de habitantes registados em 1900 aos 46,7 em 2009 com um crescimento polarizado entorno aos pólos de concentraçom urbana destacados em azul no mapa adjunto. No século longo 1900-2009 os municípios de mais de 50.000 habitantes passam de 18 em 1900 até os 145 registados em 2009 mentres a percentagem de habitantes concentrados nos mesmos aumentava de 13,73% a princípios de século a 52,47% em 2009. Espanha trocava entretanto o seu ruralismo congénito pola plena urbanidade.

Na actualidade, segundo se nos informa, Espanha acaba de superar a cifra de 48 milhons de habitantes, incluídos os 6 milhons de imigrantes residentes com Marrocos como primeiro país de procedência, perto de 900.000 magrebinos. Traço este especialmente visível em Catalunha, Canárias e Andaluzia.

Voltando ao mapa, à parte da comentada concentraçom demográfica em torno a Madrid, Barcelona, o País Basco e Valenciano e as províncias de Sevilha e Málaga, junto com os arquipélagos Canário e Balear, interessa-nos destacar a situaçom da Galiza em solitária retaguarda e, o que é pior, encabeçando o deprimente ronsel de províncias em processo de despovoamento que se estende desde Lugo, Ourense e Zamora até o mar mediterráneo sem esquecermos Teruel que proclama desde o norte o seu direito a existir.

Taxa de crecemento acumulado da poboación por provincias 1900-2009 ©

A nossa matriz demográfica esmorece depois do imenso esforço reprodutivo que alimentou as enxurradas migratórias que espalhárom a estirpe galega por todo o continente americano primeiro e pola Europa em reconstruçom depois

A nossa matriz demográfica esmorece depois do imenso esforço reprodutivo que alimentou as enxurradas migratórias que espalhárom a estirpe galega por todo o continente americano primeiro e pola Europa em reconstruçom depois. Entre 1885 e 1930 Galiza esvaziou-se por todo o continente americano. Mais de 900.000 galegos emigrárom a América segundo estimaçons solventes e um pouco incertas polo elevado índice de clandestinidade que caracterizou o processo. Umha ponderaçom do 50% de procedência galega no conjunto da emigraçom espanhola é marcadamente verosímil. A grande crise de 1929 pujo fim a este processo de esvaziamento. Os portos da Corunha, Vila-Garcia, Carril e Vigo guardam saudosa memória dos vapores abarrotados de galegos em procura do sonho americano. Da Corunha partiam o maior número de emigrantes rumo a Cuba (80% entre 1912 e 1918 e 62,8% entre 1920 e 1930) e também a Porto Rico e a México. Vigo distribuiu as partidas de emigrantes por Argentina, Brasil e Uruguai, procedentes muitos deles da província de Ourense.

A emigraçom do período 1885-1930 leva o cunho indelével da procedência rural e a cultura tradicional que podemos evocar através do impressionante trabalho fotográfico de Ruth Matilda Anderson3, testemunha imperecedoira daquela Galiza ancorada no passado que inspirou a toda a Geraçom Nós e ao posterior exílio americano. A emigraçom posterior à crise do 29 tem já signo europeu e cor sépia da ditadura franquista. Suíça e Londres, sobre todo, acolhérom a inesgotável maré humana fugida das paróquias no traumático processo de crescimento da pós-guerra. A emigraçom galega vai-se arrombando também em bairros improvisados de Madrid, Barcelona e Bilbau. Meio milhom de galegos tomárom rumo a Europa entre 1951 e 1975 segundo estimaçons solventes4.

Há tempo que a Galiza nai de emigrantes se tornou receptora; como no resto de Espanha e em Europa, as nossas sociedades envelhecidas demandam trabalhadores para as tarefas que os nativos se negam a desempenhar, o cuidado dos idosos, os trabalhos penosos e mal pagados que os nativos rejeitamos.

Há tempo que a Galiza nai de emigrantes se tornou receptora; como no resto de Espanha e em Europa, as nossas sociedades envelhecidas demandam trabalhadores para as tarefas que os nativos se negam a desempenhar, o cuidado dos idosos, os trabalhos penosos e mal pagados que os nativos rejeitamos

Extraímos do Instituto Galego de Estatística as cifras actualizadas de emigrantes e imigrantes com origem e destino em Galiza no período 2002-20215 representadas no diagrama adjunto. A Grande Crise de 2008 impactou com dureza na economia mundial através das inúmeras ligaçons financeiras que a mantenhem coesa. O seu impacto fai-se patente nos fluxos migratórios. A imigraçom, que alcançava 113.000 entradas em 2007, colapsava até o mínimo de 88.000 em 2013, seguida de vigorosa recuperaçom até o novo máximo de case 110.000 alcançado em 2019. A emigraçom foi-se recuperando no entanto desde o 2002 até os máximos relativos alcançados em 2011 e 2018 com cifras em torno às 95.000 saídas.

Espanha, a Galiza que fôrom em tempos apêndice atrasado de Europa participam agora de cheio na Uniom Europeia com todas as venturas e desventuras das sociedades abastadas que a conformam. Pertencemos já ao espaço dos privilegiados que as sociedades esfameadas do Sahel tentam inutilmente assaltar fugindo da guerra e da miséria. De caminho fomos perdendo parcelas da nossa identidade tradicional, vítima da homogeneiçaçom anglo-americana: filmes, música, focos de actualidade, Talvez consista nisso o progresso, esse ídolo inevitável e inconstante.

Saldo migratorio Joám © IGE

Conservamos um valioso talismao que, a maneira de benéfica couraça, contribui a proteger os nossos fluxos mercantis, a nossa cultura genuína e o nosso futuro; referimo-nos à viçosa e incomovível franja litoral que nos acolhe e nos ata a Portugal

Entremeias fomos perdendo moreas de traços identitários num processo agudizado polas torpes escolhas que se fôrom assentado como a de naturalizarmos a ortografia castelhana como torpe substituta da conatural portuguesa que nos une ao ancho universo da lusofonia que irradia desde a Brasil, a nossa autêntica metrópole planetária.

Conservamos sem embargo um valioso talismao que, a maneira de benéfica couraça, contribui a proteger os nossos fluxos mercantis, a nossa cultura genuína e o nosso futuro; referimo-nos à viçosa e incomovível franja litoral que nos acolhe e nos ata a Portugal. Um sólido contraponto a essa outra franja inóspita e despovoada que separa Galiza e Portugal de Espanha recorrida pola venerável Rota da Prata. Inconsistentes imagens literárias? Ao contrário, julguem os leitores. O primeiro destino das exportaçons galegas a todo o mundo é a França que recebe o 19,1% da totalidade e o segundo é Portugal com o 15,7%; quase um 35% entre ambos. Falamos pois de umha aliança de interesses persistente potenciada com fluxos de investimento cruzados. A Portugaliza é um facto afortunado e incontrovertível. Seria bom que o próximo governo galego abandonasse a estreita gaiola provinciana em que gosta encerrar-se e valorize a vivificante franja atlántica que nos dota de dimensom internacional.

Fala-se recorrentemente do lugar do nosso idioma no Parlamento Europeu, pura mimese das aspiraçons de cataláns e bascos. Desde o princípio, o nosso idioma planetário é plenamente reconhecido no Parlamento Europeu na sua patente dimensom internacional por mais que este facto manifesto contrarie aos paladins da Galiza provinciana. Ninguém nos minimiza, minimizamo-nos ao teimar em reduzirmo-nos a uma província excêntrica do Estado Espanhol, capital Madrid. Um fábula isolacionista grata apenas aos profissionais dedicados ao ensino do galego “de seu” sem folgos para cruzar o rio Minho e aos espanholistas irredentos.

 

Notas

1https://www.ige.gal/estatico/estatRM.jsp?c=0201&ruta=html/gl/OperacionsEstruturais/Resumo_resultados_MNP.html

2 La población en España: 1900-2009 - Fundación BBVA, 2017/05

3 https://www.elespanol.com/quincemil/articulos/cultura/ruth-matilda-anderson-la-fotografa-que-mostro-galicia-al-mundo

4 https://www.globalgalicia.org/noticia/actualidad/2016/02/21/medio-millon-gallegos-emigraron-europa-1951-1975/0003_201602G21P8991.htm

5 https://www.ige.gal/web/mostrar_actividade_estatistica.jsp?idioma=es&codigo=0201003

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