"A estratégia para a regeneraçom lexical do galego consiste numha coordenaçom com o léxico luso-brasileiro"

Carlos Garrido © DUVI

O professor Carlos Garrido (Universidade de Vigo) publica o livro Léxico galego: degradaçom e regeneraçom. Garrido fai um pedido "a todos os utentes cultos que queiram dignificar o galego aplicando estas medidas de coordenação com o português e o brasileiro que garantem que o galego tenha uma funcionalidade verdadeiramente plena. Ainda resta muito por fazer. O importante é que já sabemos qual é o norte, agora o que compre é seguí-lo e não desviar do caminho".

Desde o século XIX e mais nas últimas décadas assistimos a um processo de recuperação da língua na Galiza, depois dos Séculos Escuros. Essa recuperação não afecta o léxico? Continua a degradación?

Por causa das inibiçons e intervençons despropositadas das instáncias codificadoras oficialistas, o léxico hoje maiormente utilizado no galego de vocaçom culta vê-se gravemente afligido pola descaraterizaçom, incoerência e disfuncionalidade, o que compromete a genuinidade, economia e funcionalidade da nossa língua e estorva o seu prestigiamento social na concorrência com o castelhano.

Qual deve ser a estratégia a seguir para atingir essa "regeneração plena" da que falas?

Como se mostra na monografia Léxico Galego: Degradaçom e Regeneraçom, em que realizo umha modelizaçom dos fatores de degradaçom que historicamente tenhem incidido sobre o léxico galego, e em que analiso pormenorizadamente as correspondentes estratégias paliativas disponíveis,  a estratégia que se revela mais natural, mais económica, mais eficaz e mais vantajosa do ponto de vista sociolingüístico para conseguirmos nesta altura a regeneraçom lexical plena do galego consiste, em geral (e com as pequenas adaptaçons que for conveniente introduzir), numha coordenaçom constante com o léxico luso-brasileiro.

A RAG está a empregar em parte o léxico do português para completar o vocabulario culto e técnico-cientifico. Como valoras este trabalho?

A RAG está cheia de contradiçons, porque, se, por um lado, no ponto quarto da Introdución às suas normas ortográficas e morfológicas proclama, com efeito, a coordenaçom com o léxico português como medida fundamental para a habilitaçom em galego de léxico culto e especializado, por outro lado ela enche as suas obras lexicográficas -em geral, de muito baixa qualidade- de soluçons, nom só servilmente decalcadas do castelhano (como comillas, em vez de aspas, ou marmelada, em referência a um doce pastoso feito de frutas diversas, quando em galego a marmelada só pode ser, naturalmente, de marmelo), como também soluçons por eles inventadas, e pessimamente inventadas, que surgem em detrimento de umha mínima funcionalidade: os flocos de milho nom podem ser os do cinema, como pretende a RAG, porque, entom, como se chamarám os flocos de milho que se tomam com leite no almorço?) e de umha mínima eufonia (a icona, a i-cona: admitiria-se em castelhano o neologismo el icoño?).

Frente a esta castelhanizaçom e disfuncionalidade o que cabe aplicar, no caso da habilitaçom de palavras modernas, de surgimento posterior ao início na Galiza dos Séculos Obscuros (séc. XV), é a constante expurgaçom dos castelhanismos suplentes e a constante incorporaçom das correspondentes unidades lexicais luso-brasileiras, plenamente idiomáticas e plenamente funcionais em galego.

Pós exemplos de termos escolhidos para unificar as variantes dialectais, como ril, que na tua opinião são escolhas erradas. Há outros exemplos?

Frente ao fenómeno degradativo da variaçom geográfica sem padronizaçom do léxico galego, as instáncias codificadoras oficialistas tenhem mostrado até agora, por um lado, umha irresponsável inibiçom, que redunda em ineficácia comunicativa para o galego (nesta altura, por exemplo, a maior parte dos utentes cultos de galego nom sabem qual é a variante supradialetal no caso de fiestra ~ janela ~ ventá ~... e em centos de casos similares), e, por outro lado, umha irresponsável intervençom, guiada por umha lamentável falta de sentido ecuménico e económico, que redunda numha flagrante renúncia ao prestigiamento e utilidade social do galego. Esta segunda atitude transparece, por sinal, em casos de variaçom como o de rem ~ ril ~ rile ~ rim ~ rinle, nos quais, registando-se no galego contemporáneo diversas variantes, a RAG prioriza umha forma diferente daquela variante galega que já foi consagrada em luso-brasileiro como supradialetal (neste caso, rim), e que conhecem e utilizam hoje 200 milhons de pessoas que falam variedades de galego.

Fas um pedido aos "utentes cultos que queiram dignificar o galego" para que façam as escolhas léxicas que nos acheguem ao tronco comum do português e do brasileiro?

Assim é, porque, como se mostra eloqüentemente em Léxico Galego: Degradaçom e Regeneraçom, para o galego a alternativa à estratégia congenial e emancipadora de coordenaçom constante com o léxico luso-brasileiro consiste, simplesmente, na descaraterizaçom e na ineficácia comunicativa, com a conseqüente subordinaçom formal e funcional da nossa língua ao castelhano.

Carlos Garrido © DUVI

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