“O mundo todo está tendendo para a direita e isso é preocupante”

Gilberto Gil estará esta terça feira en Vigo © Cedida

A família. A amizade. A vellez. A enfermidade. São os temas que alicerzam ‘OK OK OK’, o último álbum de Gilberto Gil, símbolo da música popular brasileira que estará o 16 de xulho en Vigo

A família. A amizade. A vellez. A enfermidade. São os temas que alicerzam ‘OK OK OK’, o último álbum de Gilberto Gil, um dos símbolos da música popular brasileira. Ele mesmo gosta de defini-lo coma uma “celebração à vida”. Gil, que respostou as nossas perguntas pelo correio eletrónico, estará o 16 de xulho no Auditorio Mar de Vigo num dos dous únicos concertos no Estado espanhol de toda a turnê europeia deste trabalho. 

OK, OK, OK’ poderia ser uma (nova) celebração da vida depois da doença. Se calhar por isso tem um tom vitalista, alegre… Que é ‘OK,OK,OK’ para você, como o definiria em poucas palavras?

“OK, OK, OK’ é uma celebração à vida”

Depois dos problemas de saúde, tive uma espécie de volúpia e compus muitas canções, várias delas para esse álbum. ‘OK, OK, OK’ é uma celebração à vida. 

A música que dá nome ao álbum fala da pressão para você se posicionar politicamente: alguns querem que você fique calado, e outros que seja mais ativo na expressão de sua opinião. Se sentiu muito pressionado a respeito disto depois do deixar de ser ministro da Cultura?

Sempre querem pedir nossa opinião sobre absolutamente tudo que acontece no mundo e é muito difícil e toma muito o tempo da gente. Isso tem sido assim desde muito antes de eu ser ministro de Cultura. 

“A presença e o amor da família durante o período em que estive me tratando foi muito importante para mim”

A família, a amizade e o amor -os afetos, em geral- estão muito presentes neste álbum. Por quê? Você escreveu ‘Sereno’ para seu neto, por exemplo.

Escrevi ‘Sereno’ para o meu neto mais novo e escrevi ‘Sol de Maria’ para minha primeira bisneta. A presença e o amor da família durante o período em que estive me tratando foi muito importante para mim.

Em relação ao acima exposto, vários dos representantes do que foi chamado de movimento tropicalista, como você, continuam a fazer fatigantes turnês internacionais que já não precisam para consolidar uma trajetória mais do que reconhecida. Pesa-lhes se calhar uma espécie de senso de responsabilidade de continuar?

“O que me move e me faz seguir me apresentando é o imenso prazer que sinto tocando e cantando”

O que me move e me faz seguir me apresentando é o imenso prazer que sinto tocando e cantando seja em estúdio seja, especialmente, nos palcos do mundo. 

Jacintho’ fala de assumir a velhice. Como 'Quatro pedacinhos', que fala sobre a doença, tem humor. Outras músicas de ‘Ok, Ok, OK’ falam sobre a importância de curtir pequenas -e grandes- coisas cotidianas, como a luz do sol ou a beleza. O disco inteiro emite uma sensação de paz. É necessário se calhar reivindicar hoje mais a paz e calma?

Sou uma pessoa bastante calma e sempre valorizei pequenas coisas que me fazem feliz. Essa velocidade da comunicação às vezes me assusta. 

Fazem parte do show colaborações com músicos como o seu amigo Caetano Veloso, ou Yamandu Costa, ou Roberta Sá. Poderemos ouvi-las no show de Vigo? Qual é a importância de colaborações com outros músicos neste álbum?

“Gosto de trabalhar com colegas a quem admiro”

Roberta Sá, para quem compus uma série de canções que estão no seu álbum ‘Giro’, está viajando conosco e é minha convidada especial nessa turnê. Gosto de trabalhar com colegas a quem admiro.

Dos músicos baianos, voçê é um dos que mais reivindicou a importância da influência, no Brasil, da música de origem africana. Ainda temos uma dívida, na América e na Europa, com a África a respeito do reconhecimento disto?

Com certeza. No mundo ainda não foi dado ao continente africano o valor e a importância que ele tem em nossa formação, não só musical. 

Uma das músicas de ‘Ok,Ok,Ok’, dedicada ao seu médico, Kalil, paresce fazer um jogo metafórico entre a doença e o seu curador e a “doença”, ou ao menos o problema, que supõem para o Brasil votar a certos líderes. Que explica, no seu parecer, a vitória de Bolsonaro nas eleições? (Num contexto internacional de fortalecimento da extrema direita). 
O mundo todo está tendendo para a direita e isso é preocupante. No Brasil o atual governo parece totalmente perdido e sem um plano objetivo de governo. Já estão no poder há uns bons meses e ainda não mostraram ao que vieram. 

Há já uns anos, num show seu na Quintana, em Santiago, resultou surpreendente a associação que você, uma pessoa tão sensível com a diversidade cultural, estabeleceu entre o internacionalismo e o espanhol e o galego e o nacionalismo. As suas palavras foram mal interpretadas ou se calhar faltaba-lhe informação sobre o contexto? 

Não me recordo desse acontecimento. 

Gilberto Gil estará en Vigo o 16 de xulho © Concello de Vigo

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