A Galiza e o mundo de depois do coronavirus

CC-BY Verdegaia

Parecia que o mundo contemporâneo, tecnológico e neoliberal, funcionando como uma espécie de máquina global altamente sofisticada, estava perfeitamente controlado e organizado, e que as catástrofes planetárias de tons apocalípticos eram fatos só próprios de um remoto passado ou dos filmes de ficcão científica. Porém, algumas vezes a natureza, como partes integrantes dela, nos lembra o engano de certas crenças assumidas, além da nossa real insignificância humana e das fraquezas da nossa civilização.

Nem sequer os países percebidos como mais sólidos e com os maiores meios tecnológicos e económicos, aqueles acreditados como os mais poderosos e avançados do mundo, se puderam livrar de entrarem no cenário distópico de sofrer em carne própria uma grave pandemia, com a sua imensa sequela de mortes e desgraças humanas. Esses mesmos países, por outra banda, tão estruturados e interconectados nos assuntos económicos e militares, demonstraram que, até numa situação limite e de emergência, eram incapazes de manter uma mínima solidariedade com os que estiveram mais afetados pela catástrofe sanitária.

Demonstrou-se de um jeito cru que esta crise sanitária e a crise económica derivada são provas palpáveis da negativa e muito deficiente globalização neoliberal e do preocupante estado global do meio ambiente. Evidenciou-se também que o sistema neoliberal não sabe responder com eficácia, e menos numa situação desse teor, às necessidades mais básicas, sanitárias, sociais e económicas, da população. Inclusive houve declarações e comportamentos lamentáveis, próprios de uns sociópatas, de altos dirigentes governamentais e políticos, a quem parecia que a saúde e a vida da população não lhes inquietava nada e sim e unicamente a continuidade dos negócios das grandes empresas.

A estas alturas da história, e com todo o visto, sou muito céptico da possibilidade de que se produzam importantes mudanças políticas e sociais comandadas pelos governos e os partidos políticos. Apesar das catástrofes. Certo é que todos eles deveriam procurar a melhora e potenciação da sanidade pública e das residências de idosos, e a relocalização das atividades agrárias e industriais, procurando o desejável horizonte da soberanía alimentar e industrial, e uma redução do transporte desnecessário e do internacional, especialmente poluente. E evitarem, aliás, o avanço da mudança climática. E, com certeza, tudo isso teria de ser exigido pelas sociedades. Mas entendo que é muito difícil, em pleno furação ideológico e político neoliberal que vai devorando todas as comunidades, que deixem de primar para eles a defesa dos interesses das grandes corporações, das que são contumazes representantes políticos, sobre os relativos à vida e ao bem-estar da cidadania ou à preservação da natureza.

Sinceramente não vejo à massa social com ideias claras nem predisposta a qualquer tipo luta, nem sequer eleitoral, contra o sistema imperante e a favor da mudança política drástica que se precisaria. Os meios e as tecnologias da comunicação mais requintadas vão ficar mais uma vez ao serviço dos que já mandam no mundo. E a sua, mais que provável, agenda de nacionalismo autoritário e repressivo estatal, com globalização esta vez mais limitada, assegurará aos grupos oligárquicos dominantes poderem prosseguir acumulando riquezas e explorando às sociedades e à natureza.

É mais realista acreditar na possibilidade de que surjam mudanças no âmbito individual e no dos pequenos grupos de pessoas. Porque depois de sofrermos o trauma das inúmeras mortes, do medo coletivo prolongado e da passagem pelo escuro túnel do confinamento ou quarentena, inesquecível para o resto dos nossos dias, nalgum grau entendo que seria razoável pensar que se tenham de produzir.

E como galego desejaria também que aqui, na Galiza, um país rico e com enormes potencialidades naturais e humanas, se começasse a valorizar mais a residência fora dos bairros com elevada densidade de população das cidades, o campo e os seus produtos ecológicos, o pequeno comércio, a autosuficiência, a vida simples e tranquila, o cuidado da saúde, e que emerjam novas atividades e atitudes produtivas e comunitárias.

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