Impossível resistir-se ao fascínio de escoitar do escuro balbordo procedente da profundidade do cosmos por efeito de acontecimentos catastróficos sobre o tecido espaço temporal que mos envolve. A sua detecçom porém é extremamente difícil devido à infrequência de episódios de magnitude suficiente para serem analisados com os sofisticados sistemas construídos para tal fim: umha impressionante rede mundial baseada na técnica da interferometria a incidir sobre um delicado sistema de espelhos receptores. O lençol espaço temporal que nos envolve é enrugado e vacilante.
Por extraordinário que poda parecer o hermético estertor procedente do além que perseguíamos foi já detectado em 21/05/2019 como relatei no meu blogue em Praça1. A proeza requereu a estreita cooperaçom simultânea de três estaçons auscultadores situadas duas delas nos E.U.A. as (LIGO), Laser Interferometry Gravitational waves Observatory, e umha terceira em Itália, (VIRGO), Variability of solar irradiance and Gravity Oscillations. Um prodígio de tecnologia e cooperaçom transnacional.
Neste singular verao de 2023 o esperto ouvido dos cientistas conseguiu sintonizar finalmente o subtil zunido produzido por longínquos pulsares dispersos por toda a Via Láctea. Após anos de observaçom, cientistas de todo o mundo conseguírom sintonizar o longínquo pulso de ondas gravitacionais de baixa frequência que parecem inundar o universo e abrem umha nova janela ao estudo das ondas gravitacionais
O acelerado progresso dos artefactos desenhados para perscrutar o universo vai estreitando o campo de percepçom dos estertores cósmicos no tecido espaço temporal em que estamos inseridos. Aquele brutal estertor fora produzido pola transmutaçom energética de 9 massas solares desaparecidas na colossal colisom de dous buracos negros massivos de 66 e 85 massas solares a 17.000 milhons de anos-luz do nosso planeta, quando o universo contava com a metade de idade. O memorável episódio passou aos anais da ciência como GW190521 e serviu de prólogo a um vasto programa de indagaçom do confuso balbordo que nos chega do fundo do cosmos.
Neste singular verao de 2023 o esperto ouvido dos cientistas conseguiu sintonizar finalmente o subtil zunido produzido por longínquos pulsares dispersos por toda a Via Láctea. Após anos de observaçom, cientistas de todo o mundo coordenados polo Observatório Norte-Americano de Nanohertz para Ondas Gravitacionais NANOGrav2, conseguírom sintonizar o longínquo pulso de ondas gravitacionais de baixa frequência que parecem inundar o universo e abrem umha nova janela ao estudo das ondas gravitacionais.
Ao contrário das infrequentes ondas gravitacionais de alta frequência observadas polo sistema LIGO e VIRGO, as ondas de baixa frequência só podem se percebidas mediante um descomunal detector muito mais grande que o nosso planeta. Para suprir esta exigência, os observadores conseguírom adoptar todo um segmento da Via Láctea a maneira de descomunal antena de ondas gravitacionais partindo dessas exóticas estrelas conhecidas como pulsares que balizam como faros a profundidade do cosmos. Agora trás denodados esforços de 15 anos de observaçom, o NANOGrav pudo anunciar ter colectado a informaçom recopilada por 68 pulsares para compor um macro detector baptizado como matriz de tempo de pulsar. Umha insólita façanha prometeica. O Jornal Astrofísico, plataforma especializada em informaçom cosmológica3 destacava a releváncia do acontecimento incluindo um detalhado mapa-múndi da rede de observatórios implicada na investigaçom. Diversas plataformas especializadas na divulgaçom de informaçom cosmológica4 ecoavam a importáncia da notícia.
Os pulsares som núcleos ultra densos de estrelas massivas desaparecidas em espectaculares supernovas que viram acompassadamente varrendo o espaço ritmicamente com feixes de ondas de rádio que parecem “pulsar” quando vistos da Terra. Os mais rápidos denominados, pulsares de milissegundos, giram centenares de vezes por segundo com pulsos muito estáveis que os convertem em autênticos relógios cósmicos. O soberbo Grande Colisor de Hádrons, LHC, do CERN, Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire, o mais poderoso acelerador de partículas do mundo, parece em comparaçom um ingénuo joguete doméstico.
Talvez haveria que renunciar por tempo indefinido a compreender a sístole e diástole cósmica quando desconhecemos quase todo do espaço cósmico. A matéria constitutiva do universo observável é-nos quase desconhecida
Ao longo de 15 anos, a rede ode observatórios de Arecibo em Porto Rico e Green Bank Telescope na Virgínia Ocidental e o Very Large Array no Novo México, ambos nos EUA, divulgárom através de NANOGrav umha generosa colecçom de pulsares que consolida a matriz observacional em construçom. Os pulsares som, na verdade, fontes de rádio muito fracas e precisam de milhares de horas de observaçom para poder ilustrar o programa de experimentos conduzidos pola National Science Foundation, NSF, especializada em observaçons de rádio de alta sensibilidade.
Astrofísicos de todo o mundo investigam os ecos gerados polas ondas gravitacionais. A rede de observatórios estende-se ao Parkes Pulsar Timing Array na Austrália, o Chinese Pulsar Timing Array, o European Pulsar Timing Array e o Indian Pulsar Timing Array coordenados no consórcio International Pulsar Timing Array. Este intenso esforço mundial revela a existência de ondas gravitacionais com períodos —intervalo temporal de repetiçom— de anos e até de décadas. Umha exótica espécie de ondas gravitacionais que parece inundar o espaço cósmico.
A interpretaçom do caudal massivo de informaçom captada é ainda problemática. O Dr. Scott Ransom, do National Radio Astronomy Observatory declarava: "Estávamos ouvindo algo, nom sabíamos o quê. Agora cremos saber que é a música do universo gravitacional. À medida que continuemos a ouvir, provavelmente seremos capazes de distinguir as notas dos instrumentos desta orquestra cósmica. A combinaçom dessas ondas gravitacionais junto com os resultados dos estudos da estrutura e evolução das galáxias vai revolucionar a nossa compreensão da história do Universo.” A música do universo gravitacional, poderosa imagem do monótono fungar.
Quod nihil scitur era o lema do nosso douto filósofo tudense Francisco Sánchez alá por finais do século XVI; prudente suspensom do juízo nos parece quando verificamos que a medida em que se expandem as fronteiras do conhecimento outro tanto aumenta a magnitude do nossa perplexidade.
Ë difícil de avaliar ainda o alcance e implicaçons das notícias sobre a referida harmonia gravitacional quando ficam irresolutos enigmas fundamentais sobre a distribuiçom da matéria no universo e o enigma da energia escura essa hipotética energia omnipresente responsável da expansom acelerada do Universo, misterioso contraponto á força da gravidade. Contracçom gravitacional expansom atribuída à enigmática energia escura, descomunal par dialéctico que teria comovido a filosofia do diamat de nom ter colapsado a tempo junto com o teratológico aparato filosófico da Academia de Ciências da Uniom Soviética (1925-1991).
Os intentos de compreender a hipótese da energia escura como origem da vertiginosa expansom do universo som desalentadores, mera etiqueta para designar o incompreensível: constante cosmológica fundamental, quintessência cifrada da dinâmica temporal do cosmos, contraparte da misteriosa matéria escura? Meras formulaçons do desconcerto.
Talvez haveria que renunciar por tempo indefinido a compreender a sístole e diástole cósmica quando desconhecemos quase todo do espaço cósmico. A matéria constitutiva do universo observável é-nos quase desconhecida. A julgar polo que cremos saber o universo conhecido, desde os corpos celestes até o nosso próprio corpo fugidio é um mínimo resíduo de apenas 4% do conjunto, um 23% adicional seria matéria escura e o restante 73% é atribuída à energia escura5. Se qualificamos como matéria escura o 96% de todo o existente, que significado pode ter tentar catalogar o 4% restante?
Quod nihil scitur era o lema do nosso douto filósofo tudense Francisco Sánchez alá por finais do século XVI; prudente suspensom do juízo nos parece quando verificamos que a medida em que se expandem as fronteiras do conhecimento outro tanto aumenta a magnitude do nossa perplexidade.
Notas
1 https://praza.gal/opinion/a-onda-na-gaiola
2 https://nanograv.org/news/15yrRelease
3https://iopscience.iop.org/collections/apjl-230623-245-Focus-on-NANOGrav-15-year
4 https://www.space.com/gravitational-waves-astronomers-why-so-excited
5 https://rosamariacastro.com/2012/03/blas-cabrera-%E2%80%9Csolo-conocemos-el-4-del-universo%E2%80%9D/