O teremin, música e espionagem

Un theremin © Modulador de Ondas

A historia de Lev Sergeyevich Termen ou Leom Theremin é tan fascinante como a do seu instrumento

O meu conhecimento de Lev Sergeyevich Termen ou Leom Theremin e do exótico instrumento musical que inventou é muito recente; concretamente da audiçom em Rádio Clássica dum concerto da Semana de Música Religiosa de Cuenca no passado mês de Abril. A protagonista do concerto foi a virtuosa do teremin Carolina Eick, a melhor intérprete mundial do singular instrumento polo que dim.

O som do teremin é cativador e etéreo, brota dos delicados passes mágicos de braços e dedos do intérprete como assobiada desde o além. Em realidade procede do campo magnético criado por um par de circuitos electrónicos responsáveis respectivamente da frequência e o volume manipulado por interferência com o movimento do corpo e as maos do executante. A gestualidade particular de cada executante dota à interpretaçom de um carácter único como síntese do diálogo gestual de intérprete e campo. Um par de antenas é o único nexo entre ambos.

O seu inventor, Lev Sergeyevich, foi um personagem singular. A invençom do teremin tem data e lugar de nascimento precisos: outubro de 1920 e Instituto Físico Técnico Ioffe da Academia Russa de Ciências de Leninegrado onde trabalhava na altura.

Lev Termen, inventor do theremin Dominio Público Wikipedia

Como a Selva de Esmelhe do mago Merlin —que cai á mao direita vindo para este reino pola banda de Leom que era melhor pintá-la que descrevê-la— o teremin, umha espécie de birimbau sem palheta, mais vale escuitá-lo que tentar descrevê-lo. Olhem e escuitem como amostra a Eternity de Carolina Eyck para teremin e voz. A delicadeza precisa dos movimentos e da voz acompanhante formam um par perfeito capaz de materializar o misterioso som do estranho birimbau. À porta do fiadeiro/ hai umha pedra e um pau/ onde se sentam os moços/ a tocar o birimbau.

A história de Lev Sergeevich (1896-1993) é tam fascinante como o seu instrumento. Desde mui novo mostrou um marcado interesse pola música e a ciência, graduando-se em violoncelo no Conservatório de Sam Petersburgo em 1916 e em física e matemáticas nos primórdios da Revoluçom soviética. Em 1919 ingressa no Instituto de Física e Tecnologia de Moscovo e translada-se dali a Petrogrado onde se gradua em 1926. Foi neste breve lapso de tempo quando desenvolve os fundamentos do teremin mentres tentava desenhar um sistema inalámbrico de alarma.

Antes de terminar os estudos já patenteara o invento e apresentara o instrumento a Lenine e ao próprio Einstein. Antes de finalizar a década dos vinte, Leom Theremin dava-o a conhecer em concertos multitudinários através de Europa e Norte América ao tempo que travava amizade com a virtuosa de origem lituana Clara Rockmore que contribuiria decisivamente a difundir a paixom polo instrumento mundo adiante. Na década dos trinta, Theremin experimenta desde Nova Iorque com variados conjuntos orquestrais com teremin solista conseguido interessar á todo-poderosa RCA na espectacular combinaçom.

Em 1938, em plena campanha do terror estalinista, regressa à Uniom Soviética sendo imediatamente desterrado para espanto seu ao arrepiante penal de Kolymá que nos descreveu em implacáveis relatos Varlam Shalámov. Naquele inóspito destino, Lev Termen travou amizade com outros insignes condenados como Andréi Túpolev, criador da moderna indústria aeronáutica soviética. Foi naquele doloroso degredo onde desenvolveu um dos mais misteriosos artefactos da sua inventiva, o inquietante endovibrador: um sigiloso ressoador capaz de retransmitir a um observador externo ondas acústicas locais sem necessidade de qualquer fonte de energia

O espia perfeito, indetectável, discreto, incansável, permanentemente disposto a transmitir a um operador externo as conversas reservadas produzidas em qualquer apartado gabinete. Acode á memória o maravilhoso filme A vida dos outros do guionista e director Florian Henckel von Donnersmarck. Big brother is watching you, puro George Orwell.

A espionagem soviética tivo a habilidade de instalar em 1945 um magnífico endovibrador na embaixada Norte-americana em Moscovo oculto numha patriótica cobertura de madeira que funcionou a plena satisfacçom do big brother soviético até ser descoberto por mera casualidade em 1952 depois de ter espiado a consciência a quatro embaixadores consecutivos. A inteligência norte-americana tardou ainda dezoito meses em desentranhar o funcionamento daquele estranho artefacto que acabou merecendo a alcunha de A Cousa, The Thing. Ainda tivo solaz o nosso inquieto inventor para aperfeiçoar os métodos de espionagem acústica a distáncia a partir das vibraçons emitidas desta vez polos vidros das janelas mediante um novo aparelho alcunhado burám, ventalada, que lhe valeu um prémio Estaline em 1947.

Despidamo-nos do teremin escuitando Ocean capaz de mergulhar-nos nessa atmosfera onírica evocadora da vastidom oceânica. O venerável teremin preludiou a poderosa família dos instrumentos de música electrónica que alcançou com Vangelis, recentemente falecido, o seu apogeu. Examinemos em honra sua a memorável banda sonora de Blade Runner, onde a música se eleva a inquietante discurso cósmico. Longa vida à música das esferas e ao seu precursor, o teremin!

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