A espectacular formaçom conhecida como os Pilares da Criaçom situa-se na Nebulosa da Águia, M16 do Catálogo de Messier, Constelaçom da Serpente, situada a 7.000 anos-luz da Terra, 70 séculos nos separam da imagem contemplada. Ignoramos como terá evoluído a formaçom no lapso temporal que a separa do momento actual. A nebulosa foi descoberta polo astrónomo suíço Jean-Philippe Loys de Chéseaux em 1745 mas, nom foi até agora, com o telescópio espacial Hubbel e, sobretodo, com o James, JWST, quando a espectacular imagem se revela na sua solitária grandeza. Um oceano de pó e gás estelar que transluz umha maré de estrelas, maduras e em formaçom.
A nebulosa foi descoberta polo astrónomo suíço Jean-Philippe Loys de Chéseaux em 1745 mas, nom foi até agora, com o telescópio espacial Hubbel e, sobretodo, com o James, JWST, quando a espectacular imagem se revela na sua solitária grandeza
A unidade de medida que usamos para calibrar a dimensom do universo é o espaço percorrido à velocidade da luz, metáfora para nós da imediatez. Na nossa insignificáncia cósmica admiramo-nos de que a luz poda circunvalar a terra 7,5 vezes em apenas 1 segundo sem reparar em que o raio de luz é um mensageiro parcimonioso como explorador da imensidade cósmica. Infelizmente carecemos de um veículo mais rápido segundo postulou Albert Einstein, insuperável legislador do espaço celeste. Imediatez e lentidom, microcosmos e macrocosmos, categorias com que o ser humano se empenha em reduzir à própria medida a insondável magnitude da natureza.
Os espectaculares Pilares da Criaçom cobram actualidade de novo com as recentes imagens captadas polo JWST, pontualmente comentadas no benemérito portal GCiencia da Real Academia Galega das Ciências e, mais por extenso, no site da própria NASA1
Um atento cotejo da imagem oferecida polo JWST com as precedentes reveladas polo Hubble revela a capacidade do James Webb para avesulhar através das espessas cortinas de poeira e gás que configuram o cenário observado, multiplicando os pontos de luz estelar inseridos nos colossais dedos cósmicos.
Na Constelaçom do Cisne, podemos observar ainda um fenómeno mais assombroso, um gigantesco cronómetro cósmico accionado por um sistema estelar binário denominado Wolf-Rayet 140, que se contrai em períodos exactos de oito anos produzindo de cada vez um novo anel de poeira cósmica que se vai somar aos dezassete anéis actualmente observáveis
Nesse horizonte, na Constelaçom do Cisne, podemos observar ainda um fenómeno mais assombroso, um gigantesco cronómetro cósmico accionado por um sistema estelar binário denominado Wolf-Rayet 1402, que se contrai em períodos exactos de oito anos produzindo de cada vez um novo anel de poeira cósmica que se vai somar aos dezassete anéis actualmente observáveis. Um estranho ballet cósmico que materializa a cada pulso umhas imensas conchas concêntricas semelhantes a um descomunal cepo arbóreo de dezassete anéis originados polos sucessivos pulsos de vento estelar separados exactamente oito anos-luz. Estranho cronómetro este pendurado no grande salom do Universo a 5.600 anos-luz.
A nossa irremediável condiçom de seres culturais pode levar-nos a assemelhar os Pilares da Criaçom com as torres da Sagrada Família ecoando o maravilhoso intróito de A Criaçom de Haydn em que canta a grandeza do cosmos recém-nascido: —Rafael: Ao princípio Deus criou o céu e a terra, e a terra era informe e deserta e as trevas reinavam sobre os abismos — Coro: Mas o Espírito de Deus pairava sobre as águas. E berrou Deus: Faga-se a luz!, e a luz foi feita —Uriel: E viu Deus que a luz era boa e separou a luz das trevas.
Despojandos de símbolos e mitos, como descrever a insólita beleza do universo desmesurado? Ao final remanesce a sóbria voz da Ciência como guia insubstituível da nossa percepçom para transitar a magnitude do nosso assombro. Caberám ainda novas epopeias capazes de inspirar a nossa capacidade efabulatória que irradiava ainda na ciência ficçom?
Estamos feitos de pó de estrelas desaparecidas há milénios, somos da mesma matéria que habitamos. Pó fugitivo apenas reflexionando sobre o próprio pó que somos. Mas sabemos que nós, simples detrito estelar, temos a capacidade de compreender o cosmos insondável e de submetê-lo a conta e razom
Nom sabemos que mais nos pode deparar o olho dourado do JWST3, talvez umha geografia de espaços férteis em moléculas precursoras da vida que nos revele a singularidade da espécie humana em meio do cosmos imperturbável. Estamos feitos de pó de estrelas desaparecidas há milénios, somos da mesma matéria que habitamos. Pó fugitivo apenas reflexionando sobre o próprio pó que somos. Mas sabemos que nós, simples detrito estelar, temos a capacidade de compreender o cosmos insondável e de submetê-lo a conta e razom. Admiramo-nos de que as nossas observaçons se subordinem à disciplina matemática, esse instrumento mental criado por nós da nada. Como explicar essa concordância de mente e cosmos?
A questom é desconcertante, umha aporia de difícil resoluçom: as matemáticas, descobrimo-las ou inventámo-las, preexistem ou fabricamo-las a vontade? E caso assi fosse como parece razoável, como explicar daquela o facto de que o cosmos inescrutável se submeta docilmente ao nosso jogo intelectual? umha aporia epistemológica que reverbera no pensamento matemático. Matemática: Platonismo, formalismo ou construtivismo?4. Inventamos ou descobrimos a ordem do universo revelado polo olho dourado do James Webb?
Notas
1 https://www.cnet.com/science/space/nasa-james-webb-telescope-captures-sharpest-pillars-of-creation-portrait-ever/
2 https:// https://francis.naukas.com/2022/08/30/el-telescopio-jwst-observa-el-sistema-binario-wr-140-de-tipo-wolf-rayet/
3 https://praza.gal/opinion/um-grande-olho-dourado-perscruta-a-luz-primeira
4 https://epistemologia0910.wordpress.com/2010/01/13/olhar-para-a-matematica-a-partir-da-epistemologia/