Portugaliza resplandece

Visom nocturna da Peninsula Ibérica ©

O título do encabeçado nem é umha metáfora nem pretende emular tampouco a brilhante comemoraçom do quinto centenário da Universidade Compostelana celebrada em 1995 sob o afortunado rótulo de Gallaecia Fulget. O fulgor compartido de Galiza e Portugal que loze a diário no céu nocturno europeu é um rigoroso indicador físico de umha megalópole ou megarregiom planetária, identificadas pola rede de satélites de observaçom e analisadas posteriormente polos gabinetes de geografia económica desde os anos sessenta do passado século.

O fulgor compartido de Galiza e Portugal que loze a diário no céu nocturno europeu é um rigoroso indicador físico de umha megalópole ou megarregiom planetária

A imagem que reclama a nossa atençom é a megalópole luso-galaica tendida entre o estuário lisbonense e o arco ártabro galaico; Portugaliza é a sua denominaçom precisa embora seja mais habitual denominá-la Eixo Atlántico.

Deixando à parte agora a perspectiva planetária para descrever esta megalópole, que já foi explorada aliás por nós nestas mesmas páginas, procedamos a actualizar a sua descriçom inscrevendo-a no ámbito europeu à que pertence, especialmente oportuna nestes tempos de reavaliaçom da Europa comunitária.

A versom actualizada do conceito de megalópole remete-nos à consabida representaçom das megarregions europeias em formato de bananas simbólicas —azul, dourada e verde— à qual é anexada agora o Golfo finlandês, sem esquecer o Eixo Atlántico, graficamente implícito apesar de ostentar um peso demográfico superior ao nodo finlandês

A versom actualizada do conceito de megalópole, oferecida pola Wikipedia 2018-2022, remete-nos à consabida representaçom das megarregions europeias em formato de bananas simbólicas —azul, dourada e verde— à qual é anexada agora o Golfo finlandês, sem esquecer o Eixo Atlántico, graficamente implícito apesar de ostentar um peso demográfico superior ao nodo finlandês. Banana azul, ocidental, —de Milan a Liverpool passando por Bruxelas e Londres: 130 milhons de habitantes; banana dourada, meridional, —de Génova a Mónaco incluído o arco mediterrânico espanhol e o provençal francês: 45 milhons; banana verde, oriental, — de Trieste a Varsóvia passando por Áustria, Chéquia e Hungria: 45 milhons; Portugaliza ou Eixo Atlântico logo após, com 10 milhons de habitantes, e finalmente o Golfo finlandês, setentrional, com 8 milhons. 

Os restantes elementos constitutivos de cada megalópole, aparte do seu peso demográfico relativo, som essenciais para ponderar a importáncia relativa de cada megalópole nessa rede conectiva de áreas metropolitanas interdependentes com o nível de actividade económica relativa medida polo PIB por habitante ponderado polo seu poder aquisitivo como variável fulcral, seguida da capacidade de geraçom de conhecimento, calibrada a partir do número de patentes registadas e artigos admitidos em meios de referência por milhom de habitantes, do consumo energético e a consequente emisom de efluentes de efeito estufa e, finalmente, do grau de conectividade física e a sua qualidade, como elementos mais significativos1. Os referidos indicadores som susceptíveis de tratamento econométrico e agregaçom a efeitos comparativos. 

Grandes rexións económicas europeas Dominio Público

Nom vem ao caso aprofundarmos agora nos pormenores técnicos desta atractiva temática de geografia económica que conta aliás com bons cultores entre nós2. Procedamos sem mais a revisar alguns aspectos relativos à posiçom de Galiza no concerto regional europeu para finalizar examinando a dinâmica expansiva da nossa megalópole, Portugaliza.

Quanto à dimensom relativa de Galiza nom será preciso lembrar ilustres antecedentes literários. Mais preciso será medirmos a sua autêntica dimensom consultando o lugar que ocupa entre as regions europeias partindo da informaçom proporcionada por Eurostat

Quanto à dimensom relativa de Galiza nom será preciso lembrar ilustres antecedentes literários: Ti dis: Galicia é bem pequena. Eu digo-che: Galicia é um mundo. Poderá-la andar em pouco tempo do Norte para o Sul, do Leste para o Oeste, cada terra é como um mundo inteiro, matinava Risco. Mais preciso será medirmos a sua autêntica dimensom consultando o lugar que ocupa entre as regions europeias partindo da informaçom proporcionada por Eurostat relativa às NUTS de nível 2,Nomenclature of Territorial Units for Statistics— para observar a sequência das duzentas e sessenta NUTS 2, organizadas segundo o PIB total e por habitante no espaço comum europeu. Um exercício comparativo que acho fascinante3 para evitar simultaneamente o envaidecimento pretensioso e o auto desprezo alienante.

Ponderar o grau de bem-estar relativo da Galiza e das demarcaçons regionais portuguesas que conformam Portugaliza no conjunto das NUTS 2 da Uniom Europeia é um exercício doado mediante umha simples manipulaçom da série oferecida por Eurostat4. Incluiremos na análise a posiçom relativa das CCAA espanholas a efeitos comparativos.

A sequência resultante é mui instrutiva. Encabeça a listagem das NUTs Londres Centro (Inner London- West) com umha renda por habitante disparatada de 167.500 $ seguida, já a considerável distáncia, por Luxemburgo com 75.100 $ por habitante. Temos que descer até o posto 40 para dar com a CCAA espanhola mais afortunada, Madrid, com 36.400 $, quase emparelhada no ranking com a Lombardia e Londres Oeste e Noroeste. Seguem-lhe em ordem descendente o País Basco, Navarra e Catalunha (posto 67) até chegarmos a Lisboa e área metropolitana, no posto 91 com 29.700 $ por habitante, praticamente emparelhada com a renda meia do conjunto da UE: 29.200 $ por habitante.

Galiza participa nesta dinâmica compartida através da pertença à megalópole luso-galaica em pleno processo de consolidaçom ainda. Recordemos simplesmente os planos de conexom ferroviária de alta velocidade Lisboa-Porto-Vigo e a perspectiva de conectar os principais portos da fachada atlântica ainda em projecto

Seguem por ordem descendente Aragom, A Rioja, as Ilhas Baleares e Castela e Leom (posto 139 com 25.200 $ por habitante) e chegamos a Galiza (posto 156 com 23.900 $ por habitante) empatada com Cantábria. Seguem-lhe a Comunidade Valenciá, Astúrias e o Algarve (posto 171 com 22.700 $ por habitante) e algo mais abaixo Múrcia e as Ilhas Canárias (posto 180, 22.000 $ por habitante), Ceuta, Castela-A Mancha, a Ilha de Madeira, o Alentejo e Andaluzia (posto 201 com 19.800 $ por habitante) seguidas dos Açores, Melilha, Centro de Portugal e Norte de Portugal (210, 18.700 $ por habitante) e finalmente Extremadura (posto 215, 18.400 $ por habitante). Surpreende a equiparaçom da regiom portuense com a extremenha nos postos mais recuados, Para nom perder a perspectiva global será bom recordar que o mapa do atraso económico se intensifica a partir daqui até chegarmos à República de Macedónia (posto 257; 10.100 $ por habitante) e a certas regions de Bulgária e Roménia que se debatem por debaixo dos 10.000 euros por habitante e ano de renda.

As megalópoles coincidem na característica comum da sua persistência temporal e capacidade de concentrar actividades a maneira de um curso fluvial permanente que flui e cresce sem invadir as ribeiras.

Evolución das megarrexións europeas Dominio Público

Um interessante trabalho académico do Instituto de Estudos Regionais e Metropolitanos da Universidade Autónoma de Barcelona5 ilustra a autonomia e sustentabilidade assinalada mediante a análise da mudança experimentada polas megarregions europeias em três anos de referência: 1992, 2001, 2009. Assinala o estudo que durante este período de dezassete anos o conjunto das megarregions europeias duplicárom quase a sua superfície (de 645.654 a 1.149.361 quilómetros quadrados) e incrementárom com vigor a sua populaçom (de 259,8 a 347,9 milhons de habitantes) até o ponto de concentrarem em 2009 quase 70% da populaçom comunitária, estimada por Eurostat para esse ano em 499,7 milhons de habitantes.

Galiza participa nesta dinâmica compartida através da pertença à megalópole luso-galaica em pleno processo de consolidaçom ainda. Recordemos simplesmente os planos de conexom ferroviária de alta velocidade Lisboa-Porto-Vigo e a perspectiva de conectar os principais portos da fachada atlântica ainda em projecto. Um processo em todo o caso irreversível e avalizado polo governo português.

A polaridade constitutiva [estuário lisbonense ↔ arco ártabro] articula em suma a irrefreável singularidade galaico-portuguesa apesar da sua clamorosa excentricidade com os eixos de concentraçom económica europeus e as suas apetitosas bananas

Nom é momento este para ponderar as fortalezas e fraquezas da megalópole luso-galaica mas nom podemos resistir-nos a mostrar a impactante imagem da evoluçom de Portugaliza nos três momentos seleccionados —1992, 2001 e 2009— que resplandece na franja litoral assomada ao Oceano Atlántico, surpreendentemente vazia até as praias de Normandia até há bem pouco. A polaridade constitutiva [estuário lisbonense ↔ arco ártabro] articula em suma a irrefreável singularidade galaico-portuguesa apesar da sua clamorosa excentricidade com os eixos de concentraçom económica europeus e as suas apetitosas bananas.

 

Notas

1 Emerging megaregions: A new spatial scale to explore urban sustainability, Universidade Autónoma de Barcelona, 2013:

https://www.researchgate.net/publication/259773141_Emerging_megaregions_A_new_spatial_scale_to_explore_urban_sustainability

2 A model od Spanish-Portuguese urban growth: the Atlantic áxis, Rubén C. Lois 

https://www.researchgate.net/publication/26460301_A_model_od_Spanish-Portuguese_urban_growth_the_Atlantic_axis

3 https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_NUTS_regions_in_the_European_Union_by_GDP

4 Basta com baixar o quadro relativo às NUTS 2 a formato Excel e ordená-lo em termos de PIB por habitante medido capacidade de compra: PPS (Purchasing Power Standards)

5 Emerging megaregions: A new spatial scale to explore urban sustainability, Joan Marull, Vittorio Galletto, Elena Domene, Joan Trullén, Universidade autónoma de Barcelona:

https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0264837713000719

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