Sérgio Caetano, representante do Movimento pela Abolição das Corridas de Touros de Portugal, foi recebido o mês passado por Pedro Passos Coelho, primeiro ministro português, a quem lhe transmitiu que "a maioria dos portugueses não gosta e quer ver abolidos estes espectáculos”. Caetano participará este sábado na Coruña na Conferencia Internacional pola Abolición da Tauromaquia, no que também intervirá Rui Silva, da Plataforma Basta de Touradas
Por que alguns partidos políticos seguem sem apostar em a abolição naqueles locais nos que uma imensa maioria da população (por exemplo Galiza) recusa este espetáculo?
Penso que isso é uma questão de tempo até que o poder político ouça finalmente as populações e perceba que a abolição das touradas é uma evolução natural da nossa sociedade que só tem a ganhar com isso. E na Galiza é claro que a esmagadora maioria da população não gosta de touradas, mas ainda prevalece a vontade da indústria taurina que sendo cada vez mais pequena, tem ainda um peso forte junto do poder político.
Para além do problema das corridas de touros, inclusive naqueles sítios nos que deixam de se celebrar, subsísten outras formas de crueldade para os animais. Como lutar contra estas outras torturas?
Infelizmente há ainda localidades onde se promovem outras formas de insensibilização para o sofrimento dos animais, mas penso que as gerações mais novas têm outra sensibilidade que devemos promover. É algo que, eu penso, não se pode combater de forma hostil contra essas populações mas sim procurando sensibilizar as gerações mais novas e a classe política para os malefícios da crueldade.
"Na verdade a maior parte do território não tem qualquer relação com a tradição tauromáquica e por isso não faz sentido que ela seja promovida com recurso a fundos públicos"
É a estratégia de associar corridas com cultura o último recurso dos taurinos para salvar uma atividade cruel mas que ademais subsiste graças a subvenções?
Sim, aqui em Portugal isso também acontece e a indústria taurina conseguiu nos últimos anos promover a ideia de que a tauromaquia é um património cultural nacional quase intocável... Isso não corresponde à verdade e aos poucos estamos a conseguir inverter essa ideia. Na verdade a maior parte do território não tem qualquer relação com a tradição tauromáquica e por isso não faz sentido que ela seja promovida com recurso a fundos públicos. Esta actividade é marginal a uma sociedade que evolui para valores mais positivos e é graças a uma série de excepções e subsídios públicos que se consegue manter activa na sociedade do século XXI.
Agora que se fala tanto da marca españa, como cres que afeta à imagem de Espanha no exterior as touradas?
Acho que afecta cada vez mais, e isso percebe-se quando há notícias de que em Espanha se proíbem as touradas em algumas regiões, ou se limita a realização dos espectáculos. Essas notícias são muito bem acolhidas no estrangeiro e dão a ideia que afinal os espanhóis não são aquele povo agressivo e com tendência para a crueldade que infelizmente acabou por se projectar no exterior.
"Essas notícias são muito bem acolhidas no estrangeiro e dão a ideia que afinal os espanhóis não são aquele povo agressivo e com tendência para a crueldade que infelizmente acabou por se projectar no exterior"
És otimista? Vendo a evolução dos últimos anos, achas que poderemos ver o final das corridas de touros e outros espetáculos de crueldade para os animais?
Sim, claro. Sou muito optimista, mas também sou realista, e sei que, infelizmente, a crueldade com os animais e com as pessoas vai continuar a acontecer. Mas estou certo que muito em breve vamos finalmente erradicar as corridas de touros da nossa Península, e isso será, sem dúvida, um passo muito importante no reconhecimento de uma sociedade que já não tolera o maltrato e a crueldade e promove o respeito por todos os seres vivos. Em termos pedagógicos a abolição das touradas será uma mensagem fortíssima com um carácter muito positivo para nós e para o mundo.