A economia galega actual olha para o sul

Eurorrexión Galicia-Norte de Portugal CC-BY-SA Fobos92

A recente actualizaçom dos dados da Contabilidade Regional de Espanha, CRE 20201, e dos Indicadores Regionais elaborados por FUNCAS2, ambos referidos ao 2020, é umha boa escusa para revisar o lugar ocupado pola economia galega no mapa autonómico espanhol e ponderar as perspectivas de mudança da sua base produtiva abertas na actualidade.

A ordenaçom das CCAA segundo o PIB por habitante a partir dos dados da CRE permite-nos situar a posiçom relativa de Galiza na Espanha das autonomias e no conjunto da Uniom Europeia. Com 21.903 euros de PIB por habitante a Galiza situa-se algo por baixo da meia espanhola, com 23.693, e de Castela e Leom, 23.167, Cantábria e Baleares. Castela e Leom é aliás a nossa referência próxima tanto por nível de renda como por dimensom demográfica. Um pouco mais próspera em termos de renda mas, significativamente mais abatida em termos demográficos. A densidade de 25 habitantes por quilómetro quadrado de Castela e Leom contrasta negativamente com os 91 de Galiza, com similar taxa de envelhecimento aliás: mais do 25% da populaçom de idade superior aos 65 anos em ambos casos.

Em perspectiva geral podemos observar como a renda por habitante galega se situa no 92,45% da meia espanhola e no 73,28% da europeia, nível este último apenas superado em Espanha polas Comunidades de Madrid e o País Basco

Em perspectiva geral podemos observar como a renda por habitante galega se situa no 92,45% da meia espanhola e no 73,28% da europeia, nível este último apenas superado em Espanha polas Comunidades de Madrid e o País Basco. A Galiza, como o resto das CCAA excepto as aludidas, afana-se em alcançar a renda meia por habitante espanhola (23.693), da mesma maneira que esta se empenha em alcançar a meia europeia (29.890) em árdua competiçom em procura de um alvo móbil que se vai afastando devido à consolidaçom das suas vantagens competitivas.

Da leitura dos Indicadores Regionais do foro de análise FUNCAS —patrocinado pola CECA, com presença de Afundación representada por Miguel Ángel Escotet— interessa destacar a relativa moderaçom da taxa de desemprego galega — 12,0% da populaçom activa em 2020, contra o 15,5% de meia espanhola— que situa Galiza num discreto nível intermédio entre o 9,5% atribuído ao País Basco e o 22,3% de Andaluzia ou 22,6% das Ilhas Canárias. Merece ser destacado igualmente o comedido nível de endevedamento público galego medido sobre PIB, 19,5%, em contraste com o 27,1%, da meia espanhola por nom falar do catastrófico 48,5% da Comunidade Valenciá, vítima inveterada de um péssimo financiamento das suas contas públicas, especialmente humilhante se comparado com o rutilante 16% exibido por Madrid graças ao descarado privilegio que lhe garante a sua centralidade política e económica que a sua néscia administraçom regional se empenha em traduzir em flagrante irresponsabilidade fiscal. A capital de Espanha está afeita a disparar com pólvora de rei, gratuita e inesgotável. Baixar impostos, bálsamo universal da cobiça associal irreflexiva.

PIB per capita en euros. Ano 2020 ©

Na perspectiva da capacidade de desenvolvimento relativo, Galiza conta com umha vantagem diferencial pouco conhecida que é a nossa integraçom ao Eixo Atlántico, que nos situa no selecto grupo das quarenta mega regions económicas principais existentes no mundo3. Um privilégio aparentemente relegado a vácuo cerimonial transfronteiriço na agenda política do país. O vínculo económico e cultural que nos cinge a Portugal semelha reprimido na nossa consciência colectiva como se se tratar dumha inoportuna mácula genética que a ninguém gosta lembrar. Recordemos a douta necedade de o galego e o português serem idiomas diferentes ou a difusa hostilidade à nossa raiz meridional que ainda tinge a nossa consciência social.

Na perspectiva da capacidade de desenvolvimento relativo, Galiza conta com umha vantagem diferencial pouco conhecida que é a nossa integraçom ao Eixo Atlántico, que nos situa no selecto grupo das quarenta mega regions económicas principais existentes no mundo

Preconceitos vulgares que nos impedem contemplar as vantagens do indissolúvel vínculo de parceria que nos une ao nosso sócio meridional. Eurorregiom frente a província. Para principiar, é bom nom perder de vista o crucial contributo português para superar a secular desvantagem estratégica da nossa excentricidade. Na agenda das comunicaçons físicas parece-me oportuno aludir à documentada crónica de David Reinero em Praça acerca da estratégia ferroviária portuguesa, inapreciável para superar a inveterada excentricidade que nos tolhe frente ao arco ibérico-mediterráneo. Sem Portugal, a Galiza careceria de entidade suficiente para condicionar o mapa comunicacional hispânico e resolver o inveterado atraso da nossa rede ferroviária. Conectar com a fachada cantábrica e as redes europeias é algo mais que chegar a Madrid via Barajas ou via Chamartin.

A criaçom do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia de Braga, fruto da cooperaçom hispano-portuguesa, é outro resultado que privilegia Galiza graças à nossa conexom portuguesa. O LIIN de Braga, em cooperaçom com o Instituto de Investigaçom Sanitária de Santiago, e a rede de iniciativas em curso em volta da sanidade pública, a biotecnologia e as ciências da saúde via consolidando um ecossistema tecnológico idóneo ao nosso país como demonstra a história inovadora do grupo Zéltia prolongada na actualidade na prometedora trajectória do grupo empresarial Zendal.

As esperançosas perspectivas abertas pola modernizaçom da rede ferroviária portuguesa e a abertura de um centro de difusom biotecnológico em Braga coincidem em tratarem-se de senhas iniciativas públicas de carácter estrutural e impacto retardado ao invés das iniciativas de índole privada de impacto económico imediato no PIB e no emprego.

A criaçom do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia de Braga, fruto da cooperaçom hispano-portuguesa, é outro resultado que privilegia Galiza graças à nossa conexom portuguesa

Por fortuna contamos com iniciativas empresariais de índole inovadora e impacto imediato. Duas merecem especial consideraçom, umha relativa à geraçom de hidrogénio verde e a outra, de materializaçom mais problemática, de implantaçom de umha macro planta para produzir febra têxtil a partir dos generosos recursos florestais disponíveis em Galiza. Ambas especialmente bem-vindas na actual conjuntura investidora em que está empenhada a economia comunitária.

Um exemplo paradigmático da aludida conjuntura investidora é o ambicioso projecto promovido pola Wolkswagem para situar em Martorrell umha fábrica de veículos eléctricos, complementado com outra mais em Sagunto para fabricar baterias que subministrará também à fábrica situada em Pamplona. A iniciativa alemá visa fabricar 50.000 veículos eléctricos em Martorell mais 30.00 em Pamplona no horizonte de 2025. A gigafactoria prevista em Sagunto comporta um investimento de 3.000 milhons de euros com um emprego de 3.550 postos de trabalho. Em lamentável contraste, as instalaçons de Stellantis em Vigo e Portugal parecem marginadas nas iniciativas do carro eléctrico quer seja pola celeridade exigida para postular-se ao regime de ajudas públicas quer por torpeza negociadora difícil de justificar.

O futuro de Galiza joga-se na franja ocidental que nos constitui e nos acolhe © galicia-nortept.xunta.es

Por fortuna, o tecido empresarial galego-português é capaz de gerar ambiciosos projectos de investimento industrial de carácter transfronteiriço como cabia esperar. Referimo-nos a duas ambiciosas iniciativas, patrocinada umha por Reganosa —participada pola Junta de Galiza num 34,3%— e por EDP Renováveis — participada esta por capital chinês num 20,2%— para produzir hidrogénio verde nas Pontes. A outra, menos desenvolvida de momento, para desenvolver umha fabricar febra têxtil a partir de polpa de eucalipto em Palas de Rei, patrocinada polo grupo português Altri,. Esta última, á preciso apontar, pendente de confirmaçom definitiva em espera de umha hipotética subvençom cifrada em 250 milhons de euros que cobriria o 30% do investimento previsto. Excessivas pretensons talvez para um projecto com escassas certezas além do elevado interesse estratégico que comporta para a nossa economia florestal.

O projecto de produzir 14.400 toneladas de hidrogénio verde nas Pontes de Garcia Rodrigues mediante electrólise da água procedente do lago adjacente e electricidade de origem eólica conta ademais com a participaçom de Siemens Energy como sócio tecnológico

O projecto de produzir 14.400 toneladas de hidrogénio verde nas Pontes de Garcia Rodrigues mediante electrólise da água procedente do lago adjacente e electricidade de origem eólica conta ademais com a participaçom de Siemens Energy como sócio tecnológico. Umha sólida iniciativa estratégica que converterá As Pontes num nodo de referência na oferta energética verde, plenamente concordante com os objectivos de neutralidade climática promovidos pola EU Green Deal. O orçamento previsto ascenderia a 780 milhons de euros com data de inauguraçom prevista em 2025. Nom é esta a única iniciativa no ámbito da energia verde; a companhia andaluza Magtel, anunciou também a intençom de instalar duas centrais hidroeléctricas reversíveis em Galiza, umha de 250 megawatts nas Pontes e a outra de 160 no concelho ourensano da Veiga. Projectos similares anunciam-se em Meirama, à parte do interessante projecto para gerar hidrogénio verde do Porto Exterior da Corunha patrocinado por umha filial do gigante financeiro Blackstone.

O projecto Altri no entanto, com orçamento similar ao de Reganosa e data de inauguraçom hipotética em 2025, produziria 200.000 toneladas de febra celulósica; objectivo tam ambicioso como incerto por quanto a sua materializaçom fica condiciona à obtençom dum ambicioso volume de recursos públicos e mesmo à parceria de um impreciso sócio industrial de referência. Em ausência de formulaçons mais claras quanto ao compromisso do grupo promotor, a iniciativa tem o perfil de umha sondagem preliminar de oportunidades.

Como quer que seja, Galiza prepara-se a projectar umha sólida imagem de mudança estrutural com elevado protagonismo de Portugal como inevitável sócio estratégico

Como quer que seja, Galiza prepara-se a projectar umha sólida imagem de mudança estrutural com elevado protagonismo de Portugal como inevitável sócio estratégico. A franja atlántica que a ambos nos identifica situa-nos entre as quarenta mega regions económicas que lideram o mundo e poderia cobrar agora um impulso renovado como todo parece apontar.

Seria bom ir começando a prescindir da perniciosa indumentária provinciana que pretendem seguir vestindo os paladins do ensimesmamento galego. O futuro de Galiza joga-se na franja ocidental que nos constitui e nos acolhe e dela procede o fluxo imprescindível de iniciativas de mudança estrutural que a própria dinámica de concentraçom demográfica nom fai mais que confirmar.

 

Notas

1 https://www.ine.es/prensa/cre_2020.pdf

2 https://www.funcas.es/textointegro/indicadores-regionales-7-diciembre-2021/

3 https://praza.gal/opinion/de-quando-madrid-descobriu-o-atlantico-e-a-galiza-a-euro-diplomacia-de-proximidade

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