O mapa maravilhoso de Vera Rubin

Fotografía do exterior do observatorio Vera C. Rubin en Cerro Pachón, Chile © Rubin/NSF/AURA

Hemeroteca

Para a nossa limitada e fugaz existência o universo é um espaço incomensurável e em grande medida incompreensível. O sistema solar, presidido por estrela mítica para nós, inconspícua na imensidade do cosmos, é o nosso fogar, mais além habitam os monstros tal como no imaginário medieval as sendas dos navegantes

Para a nossa limitada e fugaz existência o universo é um espaço incomensurável e em grande medida incompreensível. O sistema solar, presidido por estrela mítica para nós, inconspícua na imensidade do cosmos, é o nosso fogar, mais além habitam os monstros tal como no imaginário medieval as sendas dos navegantes.

No nosso século, os monstros parecem vagar polo inescrutável espaço cósmico; majestosos buracos negros dominanado galáxias, vertiginosas estrelas binárias, pulsares. Um misterioso espaço cheio de criaturas monstruosas, e o mais misterioso ainda, a imperceptível energia escura que impregna o universo e se resiste a revelar-se aos nossos sofisticados artefactos de observaçom.

A arcano cósmico é um permanente desafio à nossa curiosidade. Confesso-me abduzido pola aventura da exploraçom do espaço e a matéria, desde o Grande Colisionador de Hadrons de Genebra ás fantásticas exploraçons do espaço profundo do telescópio espacial Hubbel, desde a exploraçom do James Webb Space Telescope, JWST, à auscultaçom profunda das rugas espaço temporais mediante a observaçom simultánea de três estaçons distantes que operam como umha só, duas delas situadas em Norte América (LIGO) e umha terceira em Itália, VIRGO. Um instrumental poderoso e delicado para revelar a natureza do tecido espacial.

Agora irrompe o Observatório Vera Rubin, singular por muitos motivos como a própria científica que lhe dá nome, Vera Rubin. Singular ante todo polo seu desmesurado objectivo, debuxar um mapa completo do Universo

E agora irrompe o Observatório Vera Rubin, singular por muitos motivos como a própria científica que lhe dá nome, Vera Rubin.

Singular ante todo polo seu desmesurado objectivo, debuxar um mapa completo do Universo. O Large Synoptic Survey Telescope, LSST, como é chamado tem por objecto a Investigaçom do Espaço-Tempo como Legado para a Posteridade.

O Observatório Vera Rubin tomará centos de imagens do céu austral cada noite durante dez anos, para compor o mapa mais preciso do espaço profundo. O seu propósito é cobrir quatro finalidades principais; a principal é a de dilucidar a natureza da matéria e a energia escura —um autêntico arcano cosmológico— e, de passo, cartografar com toda precisom o Sistema Solar e a Via Láctea que nos acolhem assi como a variedade de objectos que se movem e apresentam mudanças de brilho no espaço exterior.

O Observatório Vera Rubin tomará centos de imagens do céu austral cada noite durante dez anos, para compor o mapa mais preciso do espaço profundo

Cada noite, o Observatório Vera Rubin registará 20 terabytes de dados — 1 TB equivale á unidade seguida de 12 zeros de bytes, com um byte igual a 8 caracteres; um texto de oito bilhons de letras — ao longo de dez anos. As mediçons Os resultados irám fluindo sem interrupçom até os científicos de todo através de um portal em linha denominado Plataforma Científica de Rubin. Um simples navegador de internet permitirá o livre acesso ao imponente volume de informaçom.

O telescópio situa-se em Cerro Pachón, Chile, com os seus sistemas de esfriamento e aquecimento, numha cámara interior revestida de material reflexivo para garantir um óptimo desempenho mediante um permanente processo revisom e lavagem. Umha instalaçom de acesso reservado, livre de poeira, cujo coraçom guarda umha cámara numha unidade central selada ao vácuo. Todo um olho ciclópico em perpétua vigilância como um Cérbero do além.

Vera Rubin en 1963 CC-BY-SA KPNO/NOIRLab/NSF/AURA

A teoria newtoniana tinha algo de insatisfatório para explicar as galáxias em rotaçom, de facto parece óbvio que deveriam acabar fragmentando-se. Que é o que as mantém unidas? Já em volta dos anos 50 Vera Rubin e a comunidade dos astrónomos debatiam o problema

Miguel Ángel Torres (IAA-CSIC) expom com claridade os enigmas que excitárom a curiosidade científica de Vera Rubin e alimentárom o seu ímpar contributo á cosmologia consagrado agora no Cerro Pachón1. A teoria newtoniana tinha algo de insatisfatório para explicar as galáxias em rotaçom, de facto parece óbvio que deveriam acabar fragmentando-se. Que é o que as mantém unidas? Já em volta dos anos 50 Vera Rubin e a comunidade dos astrónomos debatiam o problema. É verdade que as galáxias orbitam arredor dum ponto central massivo capaz de vencer a sua força centrífuga mas nom parece haver suficiente massa lumínica para assegurar o movimento de rotaçom observado. Já Fritz Zwuicky nos anos 30 assinalara que a velocidade das galáxias no cúmulo de Coma era tam grande que só podia explicar-se mediante umha rácio [massa/luminosidade] notavelmente elevada. Foi daquela quando Vera Cooper Rubin (1928, Filadelfia) rematava a sua licenciatura em astronomia e tentava inscrever-se em Princeton para cursar o seu doutoramento. Nom surpreenderá que fosse rejeitada por ser mulher e decidisse a Vera a matricular-se em Cornell, mais condescendente em matéria de género. Feliz decisom, Cornell congregava na altura um monte de eminências com Richard Feynman ao frente da cátedra Física Cuántica e futuro prémio Nobel e com Hans Bethe à frente de Mecánica Cuántica, futuro prémio Nobel também. Vera Rubin finalizava o seu máster em 1951 e, no mesmo ano, obtinha as primeiras observaçons de galáxias que amostravam um comportamento que parecia contradizer a Lei de movimento Hubble-Lemaître (Edwin Hubble,1929) sugerindo em cámbio estarem rotando arredor de atractores desconhecidos que a teoria do Big Bang permitia tomar em consideraçom. A hipótese nom foi bem acolhida entre os seus coetáneos.

Vera, rainha da matéria escura, tem por fim o seu digno lugar de memória em Cerro Pachón mentres cresce o interesse pola sua personalidade indómita a tenaz

Mas Vera nom se deixou desanimar polo contratempo que desafiava as suas sólidas conviçons e decidiu dedicar-se a redigir umha tese de doutoramento na Universidade de Georgetown de Washington, única que oferecia um doutoramento em astronomia e estava situada num área próxima ao domicílio dos Rubin; ela e o seu marido, o físico Bob Rubin que conseguira trabalho naquela altura em Washington. Entre 1952 e 1954 acudiria Vera duas vezes por semana ao curso nocturno de astronomia. No entanto, reservou tempo ainda para criar quatro filhos, ramo da ciência este exclusivo das mulheres, científicas ou iletradas. O director da tese foi o científico ucraniano nacionalizado americano George Gamow, divulgador científico que tanto contribuiu a despertar a nossa paixom pola cosmologia e a namorar-nos da teoria do Big Bang que ele desenvolveu e divulgou.

Vera terminará graduando-se em 1954 na qual sustinha a culinária tese de as galáxias estarem distribuídas numha espécie de massa de amoado que contrariava a hipótese da distribuiçom aleatória no espaço.

Vera, rainha da matéria escura, tem por fim o seu digno lugar de memória em Cerro Pachón mentres cresce o interesse pola sua personalidade indómita a tenaz2.

 

Notas

1 https://revista.iaa.es/content/vera-rubin-curvas-de-rotaci%C3%B3n-gal%C3%A1ctica-y-materia-oscura

2 https://www.ufmg.br/espacodoconhecimento/vera-rubin/

Grazas ás socias e socios editamos un xornal plural

As socias e socios de Praza.gal son esenciais para editarmos cada día un xornal plural. Dende moi pouco a túa achega económica pode axudarnos a soster e ampliar a nosa redacción e, así, a contarmos máis, mellor e sen cancelas.