"O recrutamento de médicos portugueses representa o reconhecimento da qualidade da formação em Portugal"

Miguel Guimarães, bastonário da Órdem dos Médicos de Portugal CC-BY Órdem dos Médicos

Miguel Guimarães é, desde fevereiro de 2017, o Bastonário da Ordem dos Médicos de Portugal, associação profissional que tem mais de 50 mil médicos inscritos. A ética, a deontologia, a defesa da qualidade da medicina e dos doentes fazem parte da missão da ordem, que integra também a regulação dos médicos, seja em termos disciplinares seja no que diz respeito à leges artis. Perguntamos ao bastonário pelos problemas que afetam a medicina a um lado e o outro do rio Minho. 

Como é que estão a perceber os problemas na Sanidade Galega desde Portugal?

É com solidariedade que a Ordem dos Médicos de Portugal acompanha os problemas que afetam os nossos colegas, seja no nosso país seja noutros países. Muitos dos problemas que a medicina atravessa atualmente são comuns a outros países da Europa, como Espanha, e resultam da desvalorização do trabalho médico e da importância da relação médico-doente.

"Em termos salariais a situação em Portugal é bastante mais difícil, com um desinvestimento nas carreiras médicas e nas condições de trabalho"

Qual é a situação dos médicos em Portugal, têm os mesmos problemas?

Os problemas que vivemos em Portugal não são um exclusivo do nosso país e traduzem uma desvalorização da profissão médica que em nada beneficia os sistemas de saúde e os cidadãos. No entanto, em termos salariais a situação em Portugal é bastante mais difícil, com um desinvestimento nas carreiras médicas e nas condições de trabalho que têm levado a que cada vez mais médicos não encontrem no Serviço Nacional de Saúde português um projeto profissional que os cative, aceitando propostas de trabalho no setor privado ou mesmo no estrangeiro.

Tomada de posse do Bastonário da Ordem dos Médicos na Academia das Ciências de Lisboa. CC-BY Ordem dos Médicos

Em concreto, cá os médicos máis jovems também estão muito descontentes com as condições de trabalho deles, pois têm de assinar um contrato cada poucos dias e mudam de local de trabalho constantemente. Isso não acontece em Portugal, pois não?

Em Portugal um dos principais problemas, no que diz respeito aos jovens médicos, está no atraso na abertura dos concursos. Entre o final da formação e a abertura do concurso chegam a passar tantos meses que os médicos aceitam entretanto outros convites. Uma vez feito o contrato existe estabilidade, mas é uma estabilidade com condições financeiras e de trabalho cada vez mais degradadas que colocam os médicos a trabalhar em situações de verdadeiro sofrimento ético.

Como valoram o contrato que o Governo da Xunta ofereceu para os médicos portugueses? O que é que acham das condições? 

Salarialmente as condições são superiores às de Portugal, em quase 40%, com a vantagem da proximidade ao nosso país.

"O Ministério da Saúde está a empurrar os médicos de que o país tanto precisa para fora do Serviço Nacional de Saúde"

Na Órdem são cientes da existência de médicos portugueses que gostariam de vir trabalhar à Galiza?

De momento não conseguimos confirmar essa informação. Os médicos pedem um documento à Ordem dos Médicos para trabalhar noutros países, mas não têm de comunicar qual o país de destino para onde foram efetivamente trabalhar.

Acha que poderia existir um trânsito de profesionais da saúde entre a Galiza e Portugal com normalidade?

O recrutamento, por parte da Galiza, de médicos portugueses representa o reconhecimento da qualidade da formação em Portugal. A diferenciação dos nossos médicos é internacionalmente reconhecida e isso é algo que só nos pode orgulhar. O problema não está no facto de procurarem médicos portugueses. O problema reside no facto de o Ministério da Saúde desvalorizar as graves carências que o Serviço Nacional de Saúde português vive e, com isso, empurrar os médicos de que o país tanto precisa para fora do Serviço Nacional de Saúde.

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