-Percursos sem roteiro

  • Os pilares do firmamento

    Estamos feitos de pó de estrelas desaparecidas há milénios, somos da mesma matéria que habitamos. Pó fugitivo apenas reflexionando sobre o próprio pó que somos. Mas sabemos que nós, simples detrito estelar, temos a capacidade de compreender o cosmos insondável e de submetê-lo a conta e razom

  • Paraísos reservados, beneficiários manifestos

    A fuga dos grandes patrimónios a paraísos fiscais para ocultar lucros inconfessáveis ou para evadir-se das obrigas tributárias é um fenómeno de enorme magnitude, resistente aos controles fiscais e opacos aos esforços desenvolvidos para quantificar a sua magnitude. Afortunadamente, o empenho académico por revelar e cifrar o mapa mundial do fenómeno já nos permite contemplar a sua inquietante magnitude.

  • Honoráveis parasitos do comum

    O sexteto de empresas sancionadas —Acciona, Dragados, FCC, Ferrovial, Obrascón Huarte e Sacyr— configura o selecto núcleo do clube oligárquico das grandes construtoras, aditas aos corredores do poder e aos círculos do negócio internacional, infestados de agentes intermediários e políticos em exercício

  • Retirar-se da vida com Kamo no Chomei

    Agora, na velhice, gosto de frequentar leituras meditativas como os “Pensamentos desde a minha cabana” de Kamo no Chomei, mestre de sabedoria e testemunha singular da irremediável fugacidade da vida. Repetir em voz alta anacos deste breviário serve-me de exercício de resistência contra a insidiosa disartria que me ameaça e de acolhedor mergulho no ritmo impassível do tempo e a memória. 

  • Meritocracia

    A tirania do mérito aborda de frente, sem rebuscadas divagaçons academicistas, os perversos efeitos da carreira meritocrática sobre a categoria do bem comum, essa veterana categoria da filosofia moral que o autor pretende reabilitar. 

  • A guerra controversa

    O conflito desborda de sobejo o ámbito europeu para situar-se no centro do cenário de confronto geoestratégico actual. Umha UE lamentavelmente amputada da sua conexom euro-asiática, um bloco anglo-saxónico liderado polos EUA com a Gram-Bretanha de fiel escudeiro, a imensa fronteira russa com o gigante chinês à espreita e os BRIC, por fim, com África de testemunha silenciosa.

  • Pobreza e desigualdade num mundo iníquo

    A filosofia meritocrática que nos alimenta e nos tranquiliza proclama como verdade científica que o padrom de distribuiçom de riqueza e a pobreza se ajusta exactamente aos porta-fólio de méritos exibidos por cada um. Consoladora patranha que converte o Mercado numha perfeita emanaçom da Divina Providência.

  • A economia galega actual olha para o sul

    Seria bom ir começando a prescindir da perniciosa indumentária provinciana que pretendem seguir vestindo os paladins do ensimesmamento galego. O futuro de Galiza joga-se na franja ocidental que nos constitui e nos acolhe e dela procede o fluxo imprescindível de iniciativas de mudança estrutural que a própria dinámica de concentraçom demográfica nom fai mais que confirmar.

  • Capitalismo, o sistema global sem alternativa

    O domínio sem rival do sistema capitalista mundial acabou prevalecendo sobre os arrepiantes experimentos de engenharia social que foram ensaiados para superá-lo. Branko Milanovic postula o carácter binário do sistema com duas modalidades em aberta competência: o capitalismo meritocrático e liberal, CML, e o capitalismo político autocrático, CPA

  • Käthe Kollwitz na fronteira leste

    A hipótese do progresso ético da humanidade volta a ser desmentida a sangue e fogo; a lógica hobbesiana do homo homini lupus prevalece sobre a da paz perpétua imaginada por Kant. Entretanto, paira sobre nós o cenário de pranto e o terror que o implacável buril de Käthe Kollwitz soube representar em apertado novelo maternal há justo cem anos. A dor nunca mente, a guerra lembra-nos aliás o que temos ainda de horda primitiva.